Economia

80% dos hotéis vão estar fechados até junho e já há 51 mil trabalhadores em 'lay off'. "Estamos nos mínimos olímpicos"

80% dos hotéis vão estar fechados até junho e já há 51 mil trabalhadores em 'lay off'. "Estamos nos mínimos olímpicos"
Skyler Gerald/Unsplash

Estimam-se 1,44 mil milhões de euros de receitas perdidas nos hotéis portugueses no primeiro semestre, e 99% estão sob 'lay off 'em abril, segundo a AHP

A esmagadora fatia de 99% de hotéis nacionais diz que vai recorrer ao 'lay off' no mês de abril, ou tem fortes intenções nesse sentido, o que abrange 51 mil trabalhadores - revela o recente inquérito da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), recolhido a 7 de abril, sobre os impactos no sector com o Covid-19 e "em pleno mês de pico da pandemia"

Em abril, 85% dos trabalhadores dos hotéis entraram em 'lay off', de acordo com os resultados deste inquérito, cuja amostra é de 450 hotéis totalizando 20 mil trabalhadores. Acresce-se que muitas empresas de limpeza ou de lavandaria que trabalham diretamente com a hotelaria também "estão a ter um impacto brutal", conforme frisa Cristina Siza Vieira, presidente-executiva da AHP.

"Estamos nos mínimos olímpicos da hotelaria", frisa a responsável da AHP, referindo que as projeções "pecam por defeito" relativamente aos trabalhadores em 'lay off" e lembrando que "não estamos a contratar para a Páscoa, e já houve muitos contratos a termo que cessaram".

Cristina Siza Vieira destaca que "vai haver um volume muito grande de trabalhadores dos hotéis em 'lay off', o que é uma medida importante para se evitar despedimentos O 'lay off' funciona aqui como um 'balão de oxigénio', no sentido de evitar despedimentos, agora ou no período de retoma. Não podemos é garantir que posteriormente não irá haver despedimentos, por razão de poder vir a haver encerramentos de unidades", adianta Cristina Siza Vieira.

Lembrando que não pode haver despedimentos nos 60 dias posteriores ao 'lay off', a presidente executiva da AHP refere que "se se começar a pensar numa retoma em junho, as coisas podem aguentar para que em agosto, o pico da época alta, não se recorra a despedimentos".

Mais de 80% dos hotéis vão ficar encerrados em abril e maio, e segundo lembra Cristina Siza Vieira as coisas têm progredido muito rapidamente e "no final de março ainda havia hotéis que ainda tinham muita ocupação, como por exemplo em Óbidos ou Torres Vedras".

De 1 de março a final de junho, os hotéis nacionais prevêem ter 1,44 mil milhões de euros de receitas perdidas (comparativamente às de igual período do ano passado), num cenário de perdas da ordem dos 90%, "que é a que apontam os números", conforme frisa a presidente executiva da associação.

As previsões dos hoteleiros portugueses apontam ainda para 13,1 milhões de dormidas perdidas no primeiro semestre com a pandemia do Covid-19, e isto "à data de 7 de abril", salienta ainda Cristina Siza Vieira.

Expectativa de "alguma retoma em junho, ainda que muito ventilada"

A maioria dos hoteleiros nacionais, numa percentagem de 60% tem "muito pouca confiança na normalização da situação a nível mundial até ao final primeiro semestre", evidenciando-se aqui "um grande pessimismo", de acordo com a responsável da associação.

As maiores dificuldades para 2020 apontadas pelos hoteleiros são os problemas de tesouraria, os esforços de manutenção dos atuais postos de trabalho, as incógnitas sobre a duração da pandemia do Covid-19 ou de não se saber como será a retoma no turismo

"A retoma do turismo em 2020 será extremamente difícil", adverte Cristina Siza Vieira, lembrando que "ainda há dois meses falávamos na escassez de recursos humanos", permanecendo a incógnita de "não se saber quanto tempo vai durar" a pandemia e os seus impactos no sector.

Relativamente à possibilidade de insolvências, a presidente executiva da AHP refere que "não se sabe, para já, prever se a situação ocorre ou não, e a nossa expectativa é que grupos que têm a operação estabilizada possam, apesar de mais descapitalizados, fazer um esforço para aguentar a situação". Mas admite que "no caso dos país pequenos é que se afigura que possam sofrer mais".

Dando o exemplo da região Centro e do destino Fátima, que neste último caso está fortemente dependente das celebrações de 13 de maio, como estando a ressentir-se dos impactos do Covid-19, Cristina Siza Vieira frisa que a generalidade das regiões são afetadas.

"Todo o país vai sofrer, vai é haver ritmos de retoma diferentes, e neste sentido é uma pandemia democrática, que atinge todos", salientou a presidente executiva da AHP, antecipando que o turismo interno, incluíndo o mercado alargado a Espanha, será uma aposta essencial no período em que possa haver retoma.

Esta é a segunda fase do inquérito da AHP para avaliar os impactos no sector com o Covid-19, que teve uma primeira versão a 12 de março. A associação hoteleira prevê dar sequência a estes inquéritos nas segundas quinzenas de maio de de junho, "numa expectativa de pré-retoma, e que em junho possa haver alguma normalização 'pós trauma', ainda que muito ventilada", considera Cristina Siza Vieira.

O inquérito de 7 de abril veio mostrar "os dados mais impactantes do Covid-19 e as nossas projeções à luz do que hoje se sabe, nesta que é a fase de 'pico' para a hotelaria, tal como se diz que é em termos de saúde", refere a responsável.

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