Economia

Viagens canceladas: Bruxelas pede que se tente adiar, em vez de pedir reembolso

MYANMAR. Nas imediações do Pagode Shwedagon, um lugar santo budista em Rangum, não faltam monges nem turistas
MYANMAR. Nas imediações do Pagode Shwedagon, um lugar santo budista em Rangum, não faltam monges nem turistas
YE AUNG THU / AFP / GETTY IMAGES

Os 27 ministros de transportes da União Europeia diz que se vivem momentos excecionais. Consumidores devem ter calma e não adensar a crise das empresas

A Comissão Europeia está a pedir a quem viu os seus pacotes turísticos cancelados para os tentarem adiar, em vez de pedirem o seu reembolso. A razão é simples: estamos a viver "circunstâncias excepcionais" e as próprias empresas debatem-se com situações de emergência, o que leva a que as habituais regras estejam a ser postas em causa de dia para dia.

Segundo a nota clarificativa da União Europeia, subscrita pelos 27 ministros de Transportes dos seus Estados-membro, relativa aos consumidores que adquiriram pacotes organizados, os avisos de viagens feitos pelos diversos Governos relativamente à pandemia do coronavírus e o subsequente fecho de fronteiras representam "circunstâncias excepcionais" - tal como ocorreu com o vulcão da Islândia em 2010, em que as empresas foram dispensadas de compensações.

E nestes "casos excepcionais" o organizador de viagens pode "cancelar o contrato sem qualquer penalização" - mas, por outro lado, a Comissão Europeia também reconhece que o consumidor tem direito "a obter reembolso de pagamentos feitos no âmbito do pacote, até 14 dias após terminar o contrato".

Numa altura em que ainda há muita poeira no ar com os impactos do Covid-19, disparam os pedidos de reembolso com viagens canceladas e as regras estão a mudar de dia para dia, a Comissão Europeia aconselha os clientes a um diálogo racional e construtivo com os agentes de viagens, "atendendo à atual incerteza" que se vive neste mercado, sugerindo que se possam resolver estas situações "com meios que incluam uma nota de crédito: o chamado 'voucher'".

Se o viajante não utilizar o 'voucher' deve haver lugar a um reembolso, além de se ter de assegurar que há uma proteção adequada em caso de insolvência - reconhece ainda a Comissão Europeia. Mas não deixa de enfatizar que de momento as empresas de viagens estão internamente a enfrentar enormes desafios de liquidez, com reservas paradas, além de terem de a acudir a situações urgentes, como o repatriamento de turistas.

Portanto não há certezas sobre a legislação que impera.

Agências europeias defendem a criação de um fundo para ressarcir o consumidor

O comunicado da Comissão Europeia foi divulgado na quarta-feira e esta segunda-feira, em reação, Pawel Niewiadomski, presidente da ECTAA (a associação das agências de viagens europeias) diz que os clientes não ganham nada com as falências das agências de viagens, e os sistemas de garantia que existem não têm capacidade de absorber todos os pedidos de reembolso que estão a ser feitos", frisa.

A associação europeia de agências de viagens conclui que "cabe aos Estados-membro assegurar que as soluções são implementadas o mais rápido possível", num processo que também envolve seguradoras, fundos de garantia de viagem ou bancos, de forma a "proteger o dinheiro do consumidor em caso do organizador entrar em bancarrota".

Segundo a ECTAA, é fundamental que as medidas a lançar pelos Governos sejam associadas a apoios financeiros "a toda a cadeia de valor da indústria de viagens, incluindo agências de viagens e operadores turísticos".

O presidente da ECTAA, Pawel Niewiadomski, defende que “a criação de um fundo de compensação temporário que permitisse aos consumidores serem ressarcidos da diferença entre o preço pago pelo pacote e o seu reembolso ou redução de preço, podia ser a solução mais eficiente do ponto de vista económico" neste momento de excepção.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: cantunes@expresso.impresa.pt

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