Economia

Hotéis portugueses podem perder 7,3 milhões de dormidas e 800 milhões de euros em quatro meses com o coronavírus

Hotéis portugueses podem perder 7,3 milhões de dormidas e 800 milhões de euros em quatro meses com o coronavírus
LUÍS FORRA

Face à pandemia do Covid-19, a Associação da Hotelaria de Portugal avança que o cenário mais provável é de quebras de 50% até julho, prevendo para o final de 2020 menos 20% de receitas face ao ano passado

Os hotéis portugueses registaram cerca de 347 mil noites canceladas num período de seis dias, entre 3 e 9 de março, devido à crise do coronavírus, "que tem tido um crescimento galopante de dia para dia" - é uma das conclusões do inquérito que a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) lançou junto dos seus associados, "cujos dados estão a ser atualizados diariamente, de forma a permitir conhecer o real impacto que o Covid-19 está a ter na hotelaria nacional ", conforme frisa a associação.

A AHP estima que de 1 de março até final de junho, num cenário de queda de 30%, a perda de dormidas nos hotéis nacionais pode atingir 4,4 milhões, enquanto num cenário mais gravoso, com reduções de 50%, o volume de noites perdidas chegará a 7,3 milhões.

A nível de receitas, as perdas projetadas pela AHP no período de quatro meses até ao final de junho é de 500 milhões de euros num cenário de redução de 30%, e de 800 milhões de euros.

Segundo Raul Martins, presidente da AHP, o cenário de quebras de 50% que se coloca até julho é mais provável que o cenário de descida de 30% , fazendo antever até ao final de 2020 uma quebra de receita para os hotéis de 20% relativamente ao ano passado.

A decisão dos Estados Unidos em cortarem voos para a Europa foi a última 'machadada' nas previsões dos hoteleiros nacionais, que estão a ter fortes cancelamentos de reservas futuras, em particular para a Páscoa. A AHP frisa que a situação em outros destinos ainda é pior, e por exemplo Madrid está atualmente com taxas de ocupação de 15%.

"Com esta decisão de Trump, sera ainda pior se não tivermos norte-americanos cá, um mercado que representa uma boa fatia das receitas dos nossos hotéis ", frisa Raul Martins, presidente da AHP, explicitando que "se estivéramos estes quatro meses, até ao final de junho, com menos 50%, o que é o cenário mais provável, chegaremos ao final do ano com menos 20% de. receitas".

Sendo "o turismo e a hotelaria os sectores mais severamente atingidos" com o Covid-19, a expectativa é que "as coisas vão continuar a piorar e a hotelaria vai ter uma situação de crise de tesouraria para dar remunerações aos seus empregados", algo para o qual estão já a ser criadas linhas de apoio, enfatizou ainda Raul Martins.

13 de maio em Fátima está "comprometido"

O cancelamento de reservas atinge de forma mais expressiva as cidades de Lisboa e Porto, a par "da região Centro, que está a ser fortíssimamente impactada, em particular o destino Fátima com a quebra de reservas que vem da Coreia do Sul, estando o 13 de maio comprometido", adianta Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP.

"Esta é uma pandemia económica também", constata Cristina Siza Vieira, adiantando que relativamente ao inquérito da AHP aos hoteleiros sobre os impactos do Covid-19, nota-se "um pessimismo relativamente aos resultados individuais, mas ainda assim também algum otimismo relativamente ao grau de confiança e de normalização no turismo internacional, com a expectativa que se dê a volta e se possa descobrir a cura", de forma a poder-se retomar a atividade.

"Quanto mais tempo passarmos sem solução à vista, mais seremos atingidos por esta crise" do Covid-19, faz notar a responsável da AHP, lembrando que "tivemos meses de janeiro e fevereiro muito bons para a hotelaria", e que a situação de cancelamento de reservas se agravou "num período muito curto de tempo, entre 3 e 9 de março".

"No 'day-after', e assim que haja uma inversão da situação gerada com o Covid-19, teremos de avançar para uma campanha de promoção de preços", adiantou Raul Martins. Segundo o presidente da AHP, esta campanha irá implicar que "por exemplo no caso do Algarve, a via do Infante deixe de ser cobrada".

Os marcos do coronavírus, que aceleraram o cancelamento de reservas em pouco tempo

11 de janeiro - Identificado um novo coronavírus

15 de janeiro - Primeira declaração da Direção-Geral de Saúde sobre o novo coronavírus

24 de janeiro - Suspensão da venda de viagens organizadas da China

30 de janeiro - Organização Mundial de Saúde declara emergência de saúde pública mundial

4 de fevereiro - O navio Diamond Princess entra em quarentena

20 de fevereiro - Surge o primeiro caso em Itália, o segundo caso mais grave em todo o mundo

28 de fevereiro - 13 países registaram os primeiros casos de Covid-19

2 de março - Primeiro caso em Portugal

11 de março - Organização Mundial de Saúde declara pandemia

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