Economia

Cofina desistiu da Media Capital quando só precisava de mais €3 milhões

Paulo Fernandes, presidente-executivo da Cofina
Paulo Fernandes, presidente-executivo da Cofina
Clara Azevedo

Dona do "Correio da Manhã" revela que, dos €85 milhões pretendidos, houve subscrição equivalente a €82 milhões. Cofina diz que falou com investidores à procura do restante montante mas que contactos foram infrutíferos, pelo que abortou o negócio. Prisa, vendedora da Media Capital, não está satisfeita

Cofina desistiu da Media Capital quando só precisava de mais €3 milhões

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A Cofina desistiu da compra da Media Capital e, embora tenha explicado que essa era uma consequência do falhanço no aumento de capital de €85 milhões que estava a correr no negócio, esse montante não ficou muito distante: faltavam menos de €3 milhões.

Um dia depois de anunciar que o negócio de compra da dona da TVI abortou, a dona do "Correio da Manhã" teve de dar mais explicações ao regulador do mercado de capitais, a CMVM, e aí teve de dar pormenores sobre esse aumento de capital.

O aumento de capital - que serviria para financiar a compra da Media Capital, pela qual iria pagar €123 milhões à espanhola Prisa - iria consubstanciar-se no lançamento de quase 189 milhões de novas ações. Cada investidor podia subscrever essas ações a €0,45 cada, o que perfazia os ambicionados €85 milhões. Sabia-se que o CEO do grupo, Paulo Fernandes, podia investir €20 milhões e que Mário Ferreira, da Douro Azul, admitia colocar também esse montante para se tornar o segundo maior acionista.

Não foram os únicos. Segundo o novo comunicado à CMVM, a Cofina conseguiu receber ordens de acionistas e investidores para ficarem com 182 milhões das novas ações, o que corresponderia a um investimento de €82,1 milhões. Ou seja, 96% do montante estava alcançado.

Sendo assim, ficaram por subscrever pouco mais de 6 milhões destas novas ações, o que significa que ficaram por arrecadar €2,9 milhões.

A Cofina tinha uma faculdade prevista: caso não conseguisse obter todo o montante na oferta junto de atuais e novos acionistas, avançaria para junto de investidores qualificados para cobrir essa importância.

Só que a empresa de media, também proprietária da CMTV, "Record", "Sábado" e "Jornal de Negócios", diz, no comunicado desta quinta-feira, que "entendeu, depois de todos os esforços feitos e contactos realizados infrutiferamente junto de potenciais investidores ao longo deste período", e também tendo em conta "a recente e significativa deterioração das condições de mercado", que não seria bem-sucedida na procura de interessados em pôr esses €3 milhões.

E assim caiu o aumento de capital que a Cofina iria realizar, condição que era essencial para que se concretizasse a compra de 95% da Media Capital à Prisa (posteriormente haveria uma oferta pública de aquisição para a Cofina ficar com os restantes 5%). Não se verifica, portanto, a condição para a maior transação do ano do mundo dos media se realizar.

A Prisa reagiu a esta decisão da Cofina de forma dura, considerando que a empresa portuguesa não está a cumprir o contratualizado e dizendo mesmo que dera indicações de que o aumento de capital não teria problemas, por haver acordo dos principais acionistas em injetarem dinheiro.

Mesmo desistindo da compra da dona da TVI e da Rádio Comercial, a Cofina tem custos com a operação: pagou uma caução de €10 milhões à Prisa que não vai recuperar. Da mesma forma também já não vai pedir €170 milhões ao Santander e ao Société Générale, financiamentos que estavam dependentes do aumento de capital falhado.

Os acionistas que deram ordens para participar no aumento de capital não perdem o dinheiro, já que esse valor pode ser pedido junto dos intermediários financeiros. Ainda que o aumento de capital tenha falhado, Mário Ferreira ficou com uma posição de 2% no capital da Cofina.

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