Economia

Abrandamento da economia e tensão entre a Arábia Saudita e a Rússia leva petróleo a mínimos históricos

O coronavírus pode deixar milhões de automóveis estacionados durante muito tempo, e milhares de aviões sem descolar, independentemente de quão barato fique o combustível. A Arábia Saudita quis reduzir o número de barris que cada país produtor de petróleo poderia exportar mas como a Rússia não concordou, os sauditas decidiram então inundar o mercado, desnivelando completamente as leis de oferta e procura. O barril de Brent não custava tão pouco desde 1991

Várias economias, da Itália à China passando pela Coreia do Sul e pelo Irão, estão em modo de poupança de energia devido ao surto de coronavírus - e a procura por petróleo já está a sofrer com isso. Para piorar a situação, a Arábia Saudita, o segundo maior produtor de petróleo do mundo, decidiu inundar o mercado com petróleo saudita e oferecer descontos bastante apetecíveis aos compradores (de entre 6 a 8 dólares por barril), com o objetivo de vir a dominar o mercado de exportação de crude. Resultado? O preço do petróleo não caia tanto desde 1991, mais ou menos por altura da Guerra do Golfo.

Depois de aberta a transação de crude na Ásia (por volta das 22h em Portugal continental), o Brent (petróleo não transformado) caiu 31 % em valor em apenas alguns segundos chegando a transacionar nos 31 dólares por barril. Depois de uma ligeira recuperação, o Brent fixou-se numa queda de 22%.

O colapso deu-se no seguimento da interrupção das negociações que estavam a decorrer entre os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), para que todos aceitassem reduzir a extração e venda, de forma a fixar a procura.

Estes estados tinham concordado esta semana em cortar a sua produção para os 1,5 milhões de barris por dia, mas a Rússia negou-se a reduzir o número de barris com destino à exportação e, por isso, a Arábia Saudita resolveu inundar o mercado e cortar o preço que cobra aos seus clientes. Ora se juntarmos a esta produção acelerada a redução da procura provocada pela propagação global do coronavírus, facilmente nos apercebemos das consequências graves que esta manobra pode ter para o mercado petrolífero.

A reversão total de política por parte da Arábia Saudita significa que, em abril, o reino vai produzir mais de 10 milhões de barris de petróleo por dia (contra 9,7 milhões este mês) - com um tecto máximo de 12 milhões de barris por dia, coisa que nunca aconteceu. O Iraque e o Koweit, vão seguir a estratégia da Arábia Saudita que tem como principal objetivo destronar os produtores russos. Era suposto os produtores aceitarem descer a produção para fazer face à redução da atividade económica, nomeadamente das fábricas e da avião, mas como isso não aconteceu teme-se que esta queda livre do preço do petróleo possa não ter solução à vista.

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