Economia

Governador do Banco de Portugal: “Não preciso de vir para a praça pública bater com a mão no peito, fazer mea culpa”

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal
Carlos Costa, governador do Banco de Portugal
Patricia de Melo Moreira/Getty Images

Carlos Costa defende que supervisor da banca sofreu uma “transformação” nos dez anos em que esteve na sua liderança. Defende que ser alvo de críticas faz parte do "karma" e acontecerá também ao seu sucessor

Governador do Banco de Portugal: “Não preciso de vir para a praça pública bater com a mão no peito, fazer mea culpa”

Diogo Cavaleiro

Jornalista

“O Banco de Portugal é hoje manifestamente diferente, em termos de organização, de capacitação, de intervenção, daquele que encontrei em 2010”. A frase é de Carlos Costa, o governador português, na comissão de Orçamento e Finanças, quando criticado pelo Partido Social Democrata por nunca assumir que o Banco de Portugal cometeu falhas.

Nas perguntas que fez ao governador, o deputado social-democrata Duarte Pacheco afirmou que o Banco de Portugal nunca admite falhas. “Senhor governador, há falhas, e é bom que sejam reconhecidas”, disse.

Carlos Costa, que entrou no cargo em 2010 para substituir Vítor Constâncio e teve o seu mandato renovado em 2015, defende que fez alterações no banco e que isso prova que havia algo a corrigir. Mas, embora seja uma autoridade nacional, considera que não tem de admitir erros publicamente.

“Não preciso de vir para a praça pública bater com a mão no peito, quando segrego funções”, disse, acrescentando outros fatores de novidade introduzidos “na estrutura de controlo” do supervisor.

Fazer esse trabalho, diz, “não implica vir para a praça pública fazer um mea culpa, implica internamente fazer a transformação”, concluiu.

Carlos Costa refere que toda a informação sobre a transformação estará disponível no relatório do conselho de administração anual, que é apresentado também no Parlamento. “Quem lê o relatório, percebe que se as ações foram feitas é porque eram necessárias, é porque havia insuficiências”, ripostou a Duarte Pacheco.

Esta resposta foi dada em resposta a perguntas do PSD, o partido que apoiou Costa na sua recondução, em 2015 (juntamente com o CDS, contra toda a esquerda), e que tem sido o mais tímido nas críticas à atuação do governador.

O percurso de Carlos Costa tem sido bastante escrutinado no Parlamento, onde tem ido inúmeras vezes responder a dúvidas dos deputados. Aliás, na audição desta quarta-feira, sobre o EuroBic, até o PAN, por André Silva (agora com assento na comissão de Orçamento e Finanças), declarou que o governador tem prestado um “mau serviço” ao país. Os seus mandatos têm sido tensos, com vários casos polémicos, incluindo a resolução do BES e do Banif (e o surgimento de lesados dessas intervenções).

Carlos Costa foi chamado à audição pelo Bloco de Esquerda devido ao EuroBic (onde admitiu que o encaixe da transação destinado a Isabel dos Santos poderá ficar bloqueado), e não escapou aos ataques pelo partido. “Portugal foi um ponto de lavagem de dinheiro da cleptocracia angolana. Tudo passou por baixo das barbas do Banco de Portugal. Não sei se é incompetência ou cumplicidade”, questionou Mariana Mortágua.

Aviso a Centeno?

Carlos Costa está de saída do Banco de Portugal, com o mandato a terminar este verão. O atual ministro das Finanças, Mário Centeno, e o vice-governador, Luís Máximo dos Santos, são os nomes mais bem posicionados para a sucessão.

Carlos Costa deixou, aliás, um aviso ao seu sucessor. “A pessoa que me há de suceder, sempre que houver problemas, há de ser sempre vista como uma pessoa na qual é bom espetar alfinetes”, afirmou.

“A sociedade tem de encontrar sempre entidades com as quais conjura o mal”, declarou. “Tenho de encarar isso como parte do meu karma”, disse, acrescentando que tal posiçãonão resolve problema nenhum.

(Notícia atualizada às 12.10 com últimos parágrafos)

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