“O Banco de Portugal é hoje manifestamente diferente, em termos de organização, de capacitação, de intervenção, daquele que encontrei em 2010”. A frase é de Carlos Costa, o governador português, na comissão de Orçamento e Finanças, quando criticado pelo Partido Social Democrata por nunca assumir que o Banco de Portugal cometeu falhas.
Nas perguntas que fez ao governador, o deputado social-democrata Duarte Pacheco afirmou que o Banco de Portugal nunca admite falhas. “Senhor governador, há falhas, e é bom que sejam reconhecidas”, disse.
Carlos Costa, que entrou no cargo em 2010 para substituir Vítor Constâncio e teve o seu mandato renovado em 2015, defende que fez alterações no banco e que isso prova que havia algo a corrigir. Mas, embora seja uma autoridade nacional, considera que não tem de admitir erros publicamente.
“Não preciso de vir para a praça pública bater com a mão no peito, quando segrego funções”, disse, acrescentando outros fatores de novidade introduzidos “na estrutura de controlo” do supervisor.
Fazer esse trabalho, diz, “não implica vir para a praça pública fazer um mea culpa, implica internamente fazer a transformação”, concluiu.
Carlos Costa refere que toda a informação sobre a transformação estará disponível no relatório do conselho de administração anual, que é apresentado também no Parlamento. “Quem lê o relatório, percebe que se as ações foram feitas é porque eram necessárias, é porque havia insuficiências”, ripostou a Duarte Pacheco.
Esta resposta foi dada em resposta a perguntas do PSD, o partido que apoiou Costa na sua recondução, em 2015 (juntamente com o CDS, contra toda a esquerda), e que tem sido o mais tímido nas críticas à atuação do governador.
O percurso de Carlos Costa tem sido bastante escrutinado no Parlamento, onde tem ido inúmeras vezes responder a dúvidas dos deputados. Aliás, na audição desta quarta-feira, sobre o EuroBic, até o PAN, por André Silva (agora com assento na comissão de Orçamento e Finanças), declarou que o governador tem prestado um “mau serviço” ao país. Os seus mandatos têm sido tensos, com vários casos polémicos, incluindo a resolução do BES e do Banif (e o surgimento de lesados dessas intervenções).
Carlos Costa foi chamado à audição pelo Bloco de Esquerda devido ao EuroBic (onde admitiu que o encaixe da transação destinado a Isabel dos Santos poderá ficar bloqueado), e não escapou aos ataques pelo partido. “Portugal foi um ponto de lavagem de dinheiro da cleptocracia angolana. Tudo passou por baixo das barbas do Banco de Portugal. Não sei se é incompetência ou cumplicidade”, questionou Mariana Mortágua.
Aviso a Centeno?
Carlos Costa está de saída do Banco de Portugal, com o mandato a terminar este verão. O atual ministro das Finanças, Mário Centeno, e o vice-governador, Luís Máximo dos Santos, são os nomes mais bem posicionados para a sucessão.
Carlos Costa deixou, aliás, um aviso ao seu sucessor. “A pessoa que me há de suceder, sempre que houver problemas, há de ser sempre vista como uma pessoa na qual é bom espetar alfinetes”, afirmou.
“A sociedade tem de encontrar sempre entidades com as quais conjura o mal”, declarou. “Tenho de encarar isso como parte do meu karma”, disse, acrescentando que tal posiçãonão resolve problema nenhum.
(Notícia atualizada às 12.10 com últimos parágrafos)