Wall Street viveu esta quinta-feira a pior sessão de sempre para o índice Dow Jones 30 (DJ30), o mais importante do mundo, que deu um trambolhão de 1190 pontos, o maior da sua história.
O índice MSCI para as duas bolsas norte-americanas caiu esta quinta-feira negra 4,4%, a maior queda nesta crise bolsista desde 20 de fevereiro quando o temor de uma epidemia global ligada ao Covid-19 se consolidou.
Em termos percentuais, a quebra do Dow Jones esta quinta-feira foi a oitava maior da história do índice. A maior derrocada do DJ30 registou-se na quarta-feira negra de 15 de outubro de 2008, na última crise financeira global, com o índice a afundar-se 7,9%.
A atenção dirige-se, agora, para o comportamento esta sexta-feira das bolsas, particularmente na Europa e em Nova Iorque. Na Ásia, os principais índices caíram mais de 3% nesta última sessão de fevereiro.
Entretanto, Christine Lagarde, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), pretendeu desdramatizar a crise do coronavírus. Em entrevista ao Financial Times, publicada na quinta-feira, sublinha que ainda é cedo para se saber se "o choque vai ser duradouro" na zona euro, acrescentando que "ainda não estamos nesse ponto". A francesa deu a entender que ainda é cedo para medidas de política monetária numa entrevista a pouco mais de uma semana da reunião de 12 de março, quando o conselho do banco vai discutir novas previsões económicas para a zona euro.
Queda de 10% à escala mundial desde 20 de fevereiro
O crash das últimas seis sessões nas bolsas provocado pelo coronavírus gerado, ao que tudo indica, pelo morcego-de-ferradura-grande do mercado de Wuhan é já superior ao impacto negativo durante dois dias dos resultados do referendo que deu a vitória inesperada ao Brexit no Reino Unido em junho de 2016.
O índice mundial MSCI perdeu esta quinta-feira 3,3%, o índice para a zona euro recuou 2,3% e o relativo aos EUA caiu 4,4%. Na Europa, as maiores quedas registaram-se em Atenas e Moscovo, acima de 5%. Em Lisboa, o índice PSI 20 recuou 3,1%.
Em termos acumulados, desde que esta crise bolsista se iniciou a 20 de fevereiro, o índice mundial já perdeu 10,4%, o relativo a Nova Iorque derrocou 12,7% e o índice para a zona euro caiu 9%. Na bolsa de Lisboa, o índice PSI 20 regista, naquele período, uma queda de 9,2%, superior à média para a zona euro.
Rombo provocado pelo Brexit já foi superado
À escala mundial e para os EUA, a queda nesta crise do coronavírus é já superior à registada a 24 e 27 de junho de 2016 aquando do choque provocado pela vitória do Brexit, que custou 7% ao índice mundial e 5,5% ao índice para Nova Iorque.
Na zona euro, as perdas atuais, que somam 9%, são, por ora, inferiores ao trambolhão de 14% registado nas bolsas europeias aquando do Brexit.
Outros dois sinais de pânico registaram-se nesta quinta-feira negra. O preço do barril de petróleo de Brent (a referência europeia) caiu para os 51 dólares. Desde início do ano, o preço do ouro negro já se afundou 24%.
No mercado da dívida pública norte-americana, fixou-se um novo recorde, com os juros (yields) dos títulos do Tesouro a 10 anos a descerem para um novo mínimo histórico de 1,241%.
As bolsas passaram em uma semana de um ambiente de "exuberância irracional" (com novos máximos sobretudo em Wall Street), como lhe chamou o guru financeiro Stephen Roach, para o pânico, a partir do momento em que o espectro de uma epidemia global do covid-19 se impôs e a incerteza sobre a sua duração surgiu.
Alguns analistas, como Harry Dent, chamam a atenção para o acontecimento político da Super terça-feira nos EUA a 3 de março e o impacto que os resultados destas primárias para os candidatos presidenciais poderá ter nos mercados financeiros, em conjugação com o andamento da globalização da epidemia do Covid-19.