Economia

Abanca compra 95% do EuroBic e tira Isabel dos Santos da banca portuguesa

Juan Carlos Escotet, presidente e acionista do Abanca; Fernando Teixeira dos Santos, presidente executivo do EuroBic; Francisco Botas, presidente executivo do Abanca
Juan Carlos Escotet, presidente e acionista do Abanca; Fernando Teixeira dos Santos, presidente executivo do EuroBic; Francisco Botas, presidente executivo do Abanca
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Abanca fecha acordo para ficar com 95% do EuroBic. É a quinta aquisição do grupo espanhol desde 2014, e a segunda em Portugal. É também a segunda compra em Portugal em que não revela o preço. Haverá agora uma auditoria aprofundada ao banco português e a necessária autorização dos reguladores

Abanca compra 95% do EuroBic e tira Isabel dos Santos da banca portuguesa

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Os espanhóis do Abanca chegaram a acordo para adquirir 95% do EuroBic, segundo confirmou o banco liderado por Juan Carlos Escotet em comunicado enviado às redações. Contudo, o grupo espanhol não revela qual o montante a pagar pelo controlo do banco.

"O Abanca acordou a compra de 95% das ações do EuroBic. O Banco de Portugal foi informado em detalhe dos termos da operação", indica a nota emitido pelo banco com sede na Galiza.

Isabel dos Santos, com 42,5% do capital do banco, e Fernando Teles, com 37,5%, eram até aqui os principais acionistas da instituição, que estão agora de saída da instituição. Há outros acionistas, que, na sua maioiria, também terão dado o acordo para a saída (Luís Cortez dos Santos, Manuel Pinheiro Fernandes e Sebastião Lavrador, tinham cada um, 5%, estando os restantes 5% dispersos por outros investidores).

O Abanca não revela, no seu comunicado, com quem fechou acordo para a aquisição. Mas, para chegar àquela participação, os dois maiores acionistas têm obrigatoriamente de vender as suas posições. No caso de Isabel dos Santos, foi a empresária que colocou a participação à venda, depois das notícias conhecidas como Luanda Leaks e da investigação judicial aberta em Angola à sua gestão na Sonangol.

De qualquer forma, e apesar de Isabel dos Santos já ter assumido que abdica dos seus direitos de voto no banco, ainda é preciso esperar para que a operação se concretize.

Auditoria aprofundada

"O acordo de compra do EuroBic está sujeito, como acontece neste tipo de operações, a um processo de due dilligence e às autorizações das autoridades regulatórias", indica o comunicado.

A due dilligence é uma auditoria aprofundada feita à instituição. Neste caso, terá de olhar para os efeitos reputacionais das notícias reveladas pelo Luanda Leaks, que mostraram transferências polémicas feitas pelo banco e que desencadearam averiguações por parte do próprio banco e também do Banco Central Europeu.

O supervisor liderado por Carlos Costa, na tarde do anúncio, também enviou um comunicado em que lembrou que este é um acordo tendente à venda (chamou-lhe "memorando de entendimento"). "Em conformidade com o previsto na lei e regulamentos europeus aplicáveis, esta aquisição está sujeita à autorização do Banco Central Europeu, em articulação com o Banco de Portugal, uma vez recebida e analisada a informação exigível", sublinhou.

Há uma semana, na conferência de imprensa de apresentação de resultados, o Abanca já tinha admitido o interesse na aquisição do EuroBic, e tinha ressalvado que só entraria num negócio em que tivesse o controlo, e com maioria qualificada (mínimo de 75%).

O acordo entre os dois bancos e os acionistas foi fechado de forma acelerada, e deixou para trás um grupo de empresários portugueses, em que se encontrava por exemplo João Rafael Koehler e que era coordenado por José Fernando Figueiredo (ex-IFD), que tinha mostrado interesse em comprar o EuroBic, como revelou o Expresso no passado sábado.

Segunda aquisição em Portugal

Na semana passada, o presidente da administração do Abanca e também principal acionista, Juan Carlos Escotet, tinha assumido que o banco tinha capital para fazer a compra e sublinhava que estava disponível para um novo crescimento inorgânico. Novo porque tem sido um repetente neste tipo de operações.

"O Abanca demonstrou com sucesso o seu modelo de integração de outras entidades nas operações corporativas que realizou nos últimos anos. A primeira foi a integração em 2014 do Banco Etcheverría; em 2017, foi realizada a compra de Popular Servicios Financieros; em 2018, o Abanca comprou o [retalho do] Deutsche Bank [em Portugal] e também no mesmo ano comprou à Caixa Geral de Depósitos o seu banco em Espanha, o Banco Caixa Geral", sublinha o comunicado.

"O Abanca é a sétima entidade espanhola por fundos próprios e a entidade financeira líder no noroeste da Península Ibérica", continua, sendo que, em Portugal, está presente em 70 pontos de venda.

A grande maioria destes pontos foi adquirida ao Deutsche Bank num negócio em que o valor da compra também não foi revelado.

Em todos os distritos nacionais, mais 14% de negócios

O grupo espanhol - cujo maior acionista é também o dono do venezuelano Banesco - conseguirá, assim, aumentar de forma relevante a sua presença física em Portugal: o EuroBic tem 184 agências. Como o Expresso noticiou, a operação permite ao Abanca ter agências em todos os distritos, o que não acontecia até aqui.

Com a compra do EuroBic, o Abanca consegue também um crescimento de 14% do volume de negócios (soma de crédito e depósitos). O grupo espanhol “gere um volume de negócio de 85.079 milhões de euros, 36.792 milhões em créditos e 48.286 milhões em recursos de clientes”.

Já “o EuroBic gere um volume de negócio de 11.700 milhões de euros, uma carteira de crédito de 5.199 milhões de euros, e depósitos de 6.148 milhões de euros”. Juntos, passam a ter um volume de negócios de 96.770 milhões de euros.

(notícia atualizada pela última vez com mais informações pelas 15.13 com posição do Banco de Portugal)

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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