Economia

Urbanismo pode ser fator diferenciador nas regiões

Urbanismo pode ser fator diferenciador nas regiões
João Carlos Santos

Projetos Expresso. Um território bem gerido e ordenado — adequado a quem vive e trabalha localmente — será mais competitivo

Fátima Ferrão

Escolher o melhor local para instalar uma empresa nem sempre é tarefa fácil para os empresários. Preocupações como instalações e espaço adequados, acessibilidades ou a capacidade de atrair os recursos necessários são algumas das que mais lugar ocupam nas agendas dos gestores. A par estão ainda as questões fiscais e burocráticas, que podem atrair ou afastar os negócios. A solução pode estar nas mãos das autarquias, que, através de uma boa gestão do seu território e do urbanismo, serão capazes de apresentar alternativas e garantir uma maior competitividade para a região que representam.

A conclusão fica depois de uma conversa entre empresários, convidados a participar no IX Encontro Fora da Caixa, projeto da Caixa Geral de Depósitos ao qual o Expresso se associa, que aconteceu esta semana em Sintra. Os gestores são unânimes: as câmaras devem atuar como facilitadoras e criar as condições mais adequadas para que as suas regiões recebam mais empresas.

“O poder central não facilita a vida às empresas e, em geral, as leis não são ‘amigas’ dos negócios”, acusa Paulo Duarte, administrador da Feerica, firma de equipamentos para segurança bancária, que dirige o seu negócio a partir de Mafra. O empresário acredita, por isso, que cabe às autarquias definir estratégias para satisfazer quem ali procura investir. Mas diz que “falta orientação”. Em Mafra, por exemplo, não existe “um espaço verdadeiramente industrial”. A Feerica precisa expandir-se e construir uma nova fábrica, mas, como refere o gestor, “as zonas industriais locais são pequenas”. Procurar outro local não faz parte dos projetos da empresa, pois conta com uma equipa na ordem das 150 pessoas e qualquer mudança causaria grandes transtornos pessoais e empresariais ao negócio. “A autarquia pode ser um polo dinamizador das empresas, mas em Mafra não vejo grande dinamismo na captação de investimento empresarial”, diz em jeito de desafio. O município criou uma Business Factory, composta por dois polos, em Mafra e na Ericeira, com um foco nos pequenos negócios e nas startups, mas para Paulo Duarte “ainda é pouco”.

Na perspetiva de José Inglês, administrador da Filkemp, empresa industrial de filamentos com sede em Sintra, as câmaras municipais podiam fazer muito mais do que fazem pelas empresas, nomeadamente no que se refere a impostos locais e taxas urbanísticas, que “são muitas vezes obscenas”. O gestor acredita que muitos municípios ainda não olham para os negócios e para as organizações como verdadeiros ativos, que geram riqueza de longo prazo para as autarquias. Ainda assim, mostra a sua satisfação com a criação de um Gabinete de Apoio ao Empresário, em Sintra, com vista a facilitar e a apoiar as decisões de investimento com maior proximidade e celeridade.

Mais a norte, Carlos Ruivo, administrador da Probar, organização que produz enchidos e derivados na região de Coimbra, debate-se com problemas semelhantes. “Falta celeridade nas decisões e a burocracia ainda é um grande entrave.” Na sua opinião, é a autarquia que tem a responsabilidade de facilitar licenças e de desburocratizar processos, caso contrário estará a desincentivar o investimento empresarial.

Trabalhar e residir na mesma região é fundamental para garantir a qualidade de vida e uma mobilidade mais eficiente e sustentável, e esta deve ser uma das grandes preocupações dos municípios. “Há uma clara redução de custos para os funcionários, menos tráfego, o que contribui também para a sustentabilidade dos recursos e para o ambiente”, defende Carlos Ruivo. E o empresário exemplifica: “Se muitas empresas que estão em Lisboa descentralizarem os seus serviços para outros locais, menos pessoas e carros entrariam diariamente na cidade.”

Gestão urbanística = sustentabilidade
No entanto, para que tal possa acontecer serão mais uma vez os municípios a ter a responsabilidade de criar melhores condições de vida e de habitabilidade para que as regiões sejam interessantes para acolher novos residentes e organizações. E aqui coloca-se outra questão, que os empresários consideram fundamental: os recursos humanos ajustados às necessidades dos negócios de cada região. Paulo Duarte, por exemplo, revela a dificuldade em encontrar recursos suficientes na zona de Mafra. “Atraem-se pessoas pensando no território.”

A concorrência de grandes multinacionais que estão a entrar em Portugal é, na perspetiva do empresário, uma dificuldade acrescida à contratação. “Quem quer trabalhar na Feerica se tiver lugar na Google, mesmo com condições idênticas?”, questiona. O gestor acredita que “estamos a desviar a nossa massa cinzenta e valor investido na sua formação para empresas internacionais dentro e fora do país”.
Em Sintra, a Filkemp depara-se com a mesma falta de recursos qualificados, mas também não é fácil encontrar operadores fabris, como refere José Inglês. “É fundamental a autarquia dinamizar o ensino profissional, adequando a sua oferta às necessidades do mercado.”

“Relevância da Europa está na sua unidade”

Prudência, a palavra de ordem que Paulo Portas deixa aos empresários
José Fernandes

Mais do que fazer balanços em início de ano, é fundamental olhar o futuro. Paulo Portas, presidente da Vinciamo Consulting, consultora de negócios e gestão, apresentou a sua visão dos desafios que esperam Portugal, a Europa, o mundo e, consequentemente, todos os que se movimentam no sector empresarial. O ex-ministro foi o convidado especial do IX Encontro Fora da Caixa e em destaque estiveram temas como a distribuição mundial da balança de poder, a força económica da Europa, a produtividade e a demografia como fatores de competitividade. Para ele, 2020 promete ser um ano de maior crescimento, já que a incerteza sobre as duas principais ameaças recentes — tensão comercial entre China e Estados Unidos e ‘Brexit’ — começa a dissipar-se, o que permitirá à economia global crescer mais e à Europa mostrar que a sua “relevância está na sua unidade”. Ainda assim, alerta para que uma subida global inferior a 6% será muito pouco, sendo crítico abaixo dos 3%. No que se refere a Portugal, Paulo Portas acredita que o ano será mais positivo, mas aquém de 2017 e 2018. Quanto à zona euro, o signo será de neutralidade, com algumas economias de Leste a 'puxar' pelo velho continente, mas abaixo dos Estados Unidos da América.

Textos originalmente publicados no Expresso de 25 de janeiro de 2020

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