Cofina paga menos à Prisa mas tem de pagar o mesmo aos restantes acionistas (ou talvez até mais)
Paulo Fernandes, presidente-executivo da Cofina
Clara Azevedo
Por agora, a Cofina continua a ter de alocar 10,5 milhões de euros para adquirir as ações dos acionistas minoritários da Media Capital. Só o preço pago à Prisa é que baixa. Mas há um auditor que pode mudar esta história
A Cofina baixou o preço que vai pagar à Prisa pela posição de 95% na Media Capital, a dona da TVI. No entanto, o preço proposto aos restantes acionistas, donos de cerca de 5%, não vai baixar. Aliás, foi chamado um auditor, pelo que o preço até pode vir a ser mais elevado - mais baixo é que não.
Este acordo veio alterar o contrato inicialmente fechado entre as partes, assinado a 20 de setembro, em que o preço de aquisição era de 171 milhões de euros, tendo como base um valor de 255 milhões da empresa. São menos 50 milhões.
“A modificação reflete o acordo entre as partes para dar a certeza total da execução da operação”, justifica a empresa espanhola no comunicado ao regulador do mercado de capitais.
Havendo esta redução, o preço máximo por cada uma das ações da Media Capital que a Cofina vai pagar à espanhola Prisa passa a ser de 1,5406 euros, quando anteriormente era de 2,1322 euros.
Tendo em conta este novo número, a companhia dona do El País antecipa um impacto negativo nas suas contas entre janeiro e setembro de 54 milhões de euros.
Este preço não terá, contudo, impacto na contrapartida da oferta pública de aquisição (OPA) lançada sobre os restantes acionistas da Media Capital, donos de cerca de 5% do seu capital. Aí, o preço que a empresa liderada por Paulo Fernandes se propõe a pagar aos acionistas continua a ser de 2,3336 euros, que era o preço já anteriormente oferecido (a cotação média ponderada mais elevada nos seis meses anteriores à OPA).
Assim, a dona do Correio da Manhã, Record, Jornal de Negócios e Sábado poderá ter de gastar 10,5 milhões de euros na OPA, conforme confirma a empresa em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Ou seja, a Cofina poupa no que paga à Prisa, mas não no que paga aos restantes acionistas, onde se encontra o banco espanhol Abanca.
CMVM chamou um auditor
Só que o preço de 2,3336 euros por ação é o valor proposto pela Cofina aos acionistas e, na verdade, pode ainda ser alterado.
No final de outubro, e confirmando algo que até já tinha assumido anteriormente, a CMVM convocou um auditor independente para determinar a contrapartida adequada tendo em conta o valor da empresa adquirida. As regras de mercado não permitiam avaliar a adequação da contrapartida oferecida (são trocadas muito poucas ações da Media Capital por dia), daí que o regulador tenha chamado o auditor.
O especialista poderá definir um preço diferente daquele que é oferecido pela Cofina. Sendo superior, é esse o preço que a Cofina tem de pagar. Sendo inferior, a empresa de comunicação social não pode oferecer um montante inferior ao já anunciado: 2,3336 euros.
O que falta para operação avançar
Segundo o comunicado da Prisa à CMVM, a operação continua a “avançar favoravelmente”, estando ainda à espera de ver satisfeitas as condições pré-determinadas, como a obtenção de luz verde das autoridades competentes. A Autoridade da Concorrência já indicou que não vê problemas na operação, mas a decisão ainda não é final.
Falta ainda a aceitação de determinados credores da Prisa e uma assembleia-geral da empresa para aceitar a venda. “As partes estimam que o cumprimento destas condições terá lugar no primeiro trimestre de 2020”, antecipa a companhia.
A Cofina antecipa ainda a realização de um aumento de capital para o financiamento da operação.