Economia

Brasil: Mega leilão de petróleo quase deserto

Plataforma da Petrobras na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro
Plataforma da Petrobras na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro
Bruno Domingos/Reuters

Consórcio formado pela Petrobras e duas empresas chinesas fica com dois dos quatro lotes de reservas petrolíferas do chamado pré-sal. Estado arrecada apenas dois terços dos 24 mil milhões de euros de receita prevista.

Perante a ausência dos gigantes petrolíferos mundiais, o consórcio formado pela Petrobras e as chinesas CNOOC e CNODC arrematou esta quarta-feira pelo preço mínimo de licitação o principal lote do mega leilão das maiores reservas de petróleo do Brasil. O único consórcio a concurso vai pagar 68,2 mil milhões de reais (cerca de 15,3 mil milhões de euros) pelo bónus de assinatura – valor fixo a pagar - pelo direito de explorar o Bloco de Búzios.

A maior fatia do pagamento, cerca de 14 mil milhões de euros, cabe à petrolífera estatal brasileira devido aos 90% que detém no consórcio vencedor.

A Petrobras foi também o único licitante para a concessão do Bloco Itapu pelo qual vai pagar 1,7 mil milhões de reais (cerca de 398 milhões de euros).

Estes dois lotes localizados no litoral de Búzios renderam 69,8 mil milhões de reais (cerca de 15,7 mil milhões) aos cofres da União, longe da meta dos 106,5 mil milhões de reais estabelecida pelo Governo de Jair Bolsonaro que incluia ainda dois blocos também na Bacia de Santos, Sépia e Atapu, cujos leilões ficaram desertos. Estes dois lotes estavam avaliados em 36,6 mil milhões de reais (8,2 mil milhões de euros).

Se o Governo brasileiro considera que o leilão de ontem foi um sucesso, apesar de ficar áquem das expectativas, já os analistas e os próprios empresários do setor falam num aparente “desastre”.

As áreas de exploração ontem postas a leilão estão em operação pela Petrobras e a operação em Búzios começou em 2018. As condições do leilão previam que os vencedores tivessem que ressarciar a petrolífera estatal brasileira pelos investimentos na zona.

“Total desastre é a melhor forma de descrever a sessão desta manhã. Nenhuma grande petrolífera participar é uma falha flagrante para a Agência Nacional de Petróleo, enquanto Governo perdeu 9 mil milhões de dólares em bónus de assinatura”, disse o analista chefe da consultora Welligence, Ivan Cima, citado pela Reuters.

Para Ivan Cima, a sessão do leilão foi “condenada” pelos altos preços exigidos e pela necessidade de reembolsos excessivamente complexos e não transparentes para a Petrobrás. Ainda segundo a Reuters, a Shell, maior produtora no pré-sal após a Petrobras, decidiu ficar fora do leilão devido ao elevado custo do bónus de assinatura.

As críticas chegaram também ao Parlamento brasileiro onde mesmo aliados do Governo se juntaram à oposição. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia do DEM (centro-direita) afirmou que o leilão foi frustante quer pela falta de interesse das petrolíferas, quer pelo encaixe obtido pelo Estado. Citado pelo site G1, Maia afirmou que o resultado do leilão "é informação negativa sem dúvida nenhuma. A nossa expectativa era de que o setor privado tivesse maior interesse".

De acordo com o Folha de São Paulo, Búzios é considerada a maior descoberta de petróleo no Brasil, com reservas que podem chegar a 13 mil milhões de barris, volume que se aproxima das reservas brasileiras provadas. A região tem quatro plataformas a operar cuja produção rondou os 406 mil barris por dia no mês de setembro.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hmartins@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate