Mais incêndios, mais furacões, mais desastres naturais. Os efeitos das alterações climáticas sentem-se cada vez mais e o ramo dos seguros não sai imune, antes pelo contrário. "As alterações climáticas preocupam porque fazem acontecer eventos catastróficos com mais frequência", aponta José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores. E em termos económicos a responsabilidade cai nas seguradoras.
"No fim do dia, vamos todos pagar de uma forma ou de outra", garante o responsável na conferência "Os desafios do sector segurador", organizada pelo Expresso e pela PwC com o objetivo de colocar em cima da mesa as grandes questões a que o ramo tenta responder. Que passam também pelo caso do 'cartel dos seguros', revelado pelo Expresso e que abalou o ramo em Portugal. "É algo que mostra que ainda não respondemos aos standards do resto da Europa", confessa o presidente do conselho de administração da Fidelidade, Jorge Magalhães Correia.
Entre a digitalização e as mudanças demográficas, o sector procura reinventar-se sem perder a estrutura fundamental que o define enquanto "responsável por 6% do PIB" e pelo emprego "de mais de 10 mil pessoas", avança o Territory Senior Partner da PwC Portugal, António Brochado Correia. Para Pedro Carvalho, vice-presidente da comissão executiva do Grupo Seguradoras Unidas, "o paradigma está a mudar da cobertura de risco para a prevenção de risco", enquanto Jorge Magalhães Correia, lembra que as "companhias de seguros não são mais que um conjunto de dados montado para prever o futuro."
Segundo Miguel Fernandes, entre 2000 e 2019, Portugal foi o terceiro país que sofreu mais danos económicos com os incêndios e o partner da PwC defende que, de modo a fazer frente a esta nova realidade, as tecnologias não devem existir "per si mas de uma forma combinada." Trata-se de um desafio de "rentabilidade e relevância", afirma o responsável pelo Digital da Ageas Portugal, Ângelo Vilela, para quem "não há outro caminho que não seja tarifar o risco indevido a todo o momento."
Taxas de juro
Para Rogério Campos Henriques, vice-presidente da Comissão Executiva da Fidelidade, já estamos perante um "conjunto de inovações tecnológicas que nos ajudam a aproximar do cliente" e que revelam uma indústria que, apesar do que ainda falta fazer, já é "muito mais rigorosa" e "sensível às necessidades", na opinião do CEO dos negócios Vida e Pensões do Grupo Ageas Portugal, Nelson Machado.
Stefano Bellandi, líder global para a transformação digital de seguros da PwC, assegura que "84% das seguradoras estão a fazer grandes projetos de transformação digital", num processo de transformação que se afigura como essencial quando as seguradoras têm que fazer face ao aumento da esperança média de vida da população.
É uma "oportunidade para tratar os ativos de outra forma", atira a presidente do BPI Vida e Pensões, Isabel Castelo Branco, e valorizar a longevidade no sector, adequando a atividade. Como aponta a presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, Margarida Corrêa de Aguiar, "sendo maior a longevidade é necessário aumentar o rendimento", sem esquecer o "risco associado à proteção de dados e de sistemas" resultante da digitalização.
Os desafios económicos resultantes das duradouras taxas de juro baixos também foram alvo de atenção por parte dos convidados que marcaram presença no Hotel Ritz em Lisboa, com Nuno Frias Costa, presidente da Comissão Executiva do Santander Totta Seguros, a dizer que "são um problema para as instituições financeiras" porque diminuem o rendimento. Já Nelson Machado lembra o impacto que têm "na poupança das famílias."
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt