Economia

Cofina e Media Capital juntas faturam mais de metade do negócio dos media em Portugal

Cofina e Media Capital juntas faturam mais de metade do negócio dos media em Portugal
José Oliveira

Paulo Fernandes não quer comprar para dividir, mas para criar o maior grupo de media em Portugal. Juntas, Cofina e Media Capital vão ter um volume de negócios na ordem dos 271 milhões de euros, à frente da Impresa (dona do Expresso)

O negócio de compra da proprietária da TVI deverá ser comunicado esta semana. As negociações ainda não estão totalmente fechadas, e tal como noticiou na sexta-feira o Expresso, à Cofina deverão juntar-se nesta operação o Abanca, detentor de 5,05% do capital da Media Capital, e Mário Ferreira, acionista do ECO (onde tem uma posição de 6,9%). O investimento da Cofina deverá ascender a 255 milhões de euros.

A ambição da Cofina com a compra da Media Capital é crescer. Ou seja, não passa pela venda de ativos. Isto porque o objetivo de Paulo Fernandes é construir um grupo multiplataforma que conjugue os jornais, revistas e canal de televisão da Cofina (“Correio da Manhã”, “Jornal de Negócios”, “Record”, “Sábado” e CMTV, entre outros) com o negócio de rádio e televisão da Media Capital - como, aliás, já acontece com as sinergias entre a área de imprensa da Cofina e a CMTV. E, nessa estratégia, a Media Capital assenta que nem uma luva: tem uma televisão generalista (TVI), rádios (Rádio Comercial, M80, Cidade, SmoothFM e VodafoneFM) e a produtora de conteúdos Plural Entertainment.

Desta futura fusão criar-se-á o maior grupo de media em Portugal, com um volume de negócios acumulado na ordem dos 271 milhões de euros, mais de 50% do que a soma das receitas dos principais grupos de media em Portugal. E quase mais cem milhões do que a Impresa (dona do Expresso), que apresentou uma faturação de 172,2 milhões de euros em 2018.

No ano passado, a Cofina registou um volume de negócios 89,3 milhões de euros, obtendo lucros de 6,7 milhões de euros. Já a Media Capital contabilizou 181,8 milhões de euros de faturação e lucros de 21,6 milhões de euros.

Juntas, Cofina e Media Capital ficam não só com o jornal em papel mais lido do país (“Correio da Manhã”), mas também com a rádio mais ouvida em Portugal (Rádio Comercial). E, apesar da queda acentuada das audiências da TVI (que no primeiro semestre de 2019 teve um share de 17,6% dando o primeiro lugar à SIC com 19,3%), no ano passado a estação televisiva ainda contribuía com 151 milhões de euros para as receitas da Media Capital. Em 2018, o share da TVI no primeiro semestre era 20,9%, seguida da SIC com 17,2% e da RTP1 com 12,4%.

A Cofina tem rejeitado desfazer-se da área da imprensa, contrariando rumores de que a atual direção do “Correio da Manhã” poderá comprar os jornais e revistas. A não ser que os reguladores assim o determinem.

Quando o negócio estiver fechado, à partida esta semana, a Autoridade da Concorrência (AdC) terá que ser notificada e, posteriormente, pedir um parecer à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), uma vez que a operação de concentração envolve duas empresas que operam no sector dos media. O parecer da ERC, se for negativo, é vinculativo. O negócio deverá passar no crivo da AdC, embora possa haver remédios, e levantará, em princípio, menos entraves do que levantou a tentativa de compra da Media Capital pela Altice - até porque o atual negócio será uma integração horizontal e o que envolvia a Altice era vertical.

Os maiores entraves neste processo poderão ser colocados ao nível do regulador dos media, dada a duplicação de canais e plataformas. A concretizar-se o negócio nestes moldes, o novo grupo passa não só a conjugar duas marcas de desporto (jornal “Record” e site Mais Futebol), mas também um canal generalista (TVI), generalista no cabo (CMTV) e de informação no cabo (TVI24), que terão um share combinado de 23,1%. A grande preocupação nas redações é que um destes canais desapareça ou seja absorvido por outro, criando pressão para a existência de despedimentos.

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) já demonstrou a sua preocupação relativamente “à concentração dos media e à preservação dos postos de trabalho nos órgãos de informação detidos por ambos os grupos”. E apelou à ERC para se pronunciar “rapidamente sobre o negócio em curso”, sublinhando que “a excessiva concentração dos média tem repercussões ao nível da pluralidade e qualidade da informação”.

Concluído o acordo de negócio, será lançada uma oferta pública de aquisição (OPA) pela Cofina sobre a Media Capital. A proprietária da TVI vale atualmente em bolsa cerca de 215 milhões de euros. E, embora praticamente o título não seja transionado, os 2,54 euros que vale cada ação da Media Capital têm que entrar na equação.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mjbourbon@expresso.impresa.pt

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