Economia

Banco de Portugal alertou para risco de coimas elevadas no processo da Autoridade da Concorrência

Banco de Portugal alertou para risco de coimas elevadas no processo da Autoridade da Concorrência
Luís Barra

Autoridade da Concorrência aplicou coima global de 225 milhões de euros a 14 bancos a operar em Portugal por trocarem informações secretas de crédito, designadamente à habitação. Se coima corresponder a 10% do volume de negócios, estabilidade financeira e resiliência de bancos fica em causa, diz regulador da banca

Banco de Portugal alertou para risco de coimas elevadas no processo da Autoridade da Concorrência

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O Banco de Portugal avisou para o risco de serem aplicadas coimas elevadas aos bancos a operar em Portugal por parte da Autoridade da Concorrência. Esta segunda-feira, ficou fechado o cartel da banca, em que esta última entidade infligiu uma coima global de 225 milhões de euros a 14 instituições bancárias. Uma delas sofre uma coima de 80 milhões.

Num conjunto de perguntas e respostas que publicou em paralelo ao comunicado de imprensa, a Autoridade da Concorrência dá conta que contactou o Banco de Portugal sobre a decisão relativa ao cartel da banca em julho deste ano.

“O Banco de Portugal emitiu parecer em agosto circunscrevendo a sua análise ao potencial impacto das coimas a aplicar ao nível do cumprimento dos requisitos prudenciais a que as instituições bancárias em causa se encontram sujeitas, bem como ao eventual impacto dessas sanções sobre os respetivos resultados dos bancos e ao valor total de perda que as mesmas representariam para o sistema financeiro”, conta o documento.

O regulador liderado por Carlos Costa respondeu que, “caso fossem determinadas pela AdC coimas que correspondessem ao montante máximo previsto no n.º 2 do artigo 69.º da Lei da Concorrência, tal poderia afetar, efetivamente, e de forma material, a estabilidade financeira e a resiliência de um número significativo de instituições num cenário de recuperação do sistema bancário português”.

É este artigo que coloca o montante máximo de uma coima em 10% do volume de negócios “no exercício imediatamente anterior à decisão final condenatória”.

“A coima aplicada a cada banco foi calculada com base nos critérios definidos na Lei da Concorrência e nas Linhas de Orientação da Autoridade para o cálculo de coimas, tendo em conta o volume de negócios nos mercados afetados, assim se afigurando adequadas e proporcionais às infrações cometidas por cada banco. As coimas concretamente aplicadas representaram uma parcela reduzida dos volumes de negócios totais dos bancos visados”, responde a Autoridade da Concorrência.

A entidade liderada por Margarida Matos Rosa não quis especificar qual a coima aplicada individualmente a cada entidade. Contudo, uma delas é alvo de uma coima de 80 milhões de euros, o montante individual mais elevado. Não havendo valores, não é possível calcular a que percentagem corresponde a coima. Esta troca de informações entre os reguladores aconteceu antes de ser divulgada esta decisão final.

"Os bancos condenados são a o BBVA, o BIC (por factos praticados pelo então BPN), o BPI, o BCP, o BES, o Banif, o Barclays, a CGD, a Caixa de Crédito Agrícola, o Montepio, o Santander (por factos por si praticados e por factos praticados pelo Banco Popular), o Deutsche Bank e a UCI", diz a Autoridade da Concorrência.

Crédito habitação, crédito ao consumo e crédito a empresas: são estes os segmentos em que se consubstanciou o chamado cartel da banca. Os 14 bancos foram trocando informação sensível - e que deveria ser secreta - sobre estes produtos. "A prática terá durado, pelo menos, entre maio de 2002 e março de 2013", diz a Autoridade da Concorrência.

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