28. Este número muda tudo nos sapatos portugueses

O mundo dá mesmo valor ao made in Portugal? A indústria do calçado tira a prova dos nove numa prova cega
O mundo dá mesmo valor ao made in Portugal? A indústria do calçado tira a prova dos nove numa prova cega
Jornalista
Durante muitos anos, o défice de imagem foi uma pedra no sapato na indústria portuguesa de calçado. Mas agora tudo parece ter mudado: Um estudo da Católica Porto Business School para avaliar a influência do local de produção na perceção dos clientes estrangeiros conclui que o Made in Portugal aumenta o valor que estão dispostos a pagar por um par de sapatos em 28%.
A partir de uma prova cega realizada no início do ano a retalhistas, grossistas, fabricantes, designers, estudantes de moda e clientes finais de 27 nacionalidades na Micam, a maior feira internacional de calçado, em Milão, o estudo permite concluir que o mundo aceita pagar mais para calçar sapatos portugueses. "Na prática, isto significa que se um par valia 100 euros a olho nu, passa a valer 128 quando o comprador sabe que é português. E significa que muita coisa mudou na forma como a indústria portuguesa de calçado é vista à escala global desde 2005, quando outra prova cega diagnosticou um défice de imagem de 30% nos sapatos nacionais, indicando que o preço teria de descer dos 100 para os 70 euros depois do cliente ver a etiqueta made in Portugal", comenta Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da APPICAPS, a associação industrial do sector.
Os resultados do trabalho, apresentados agora, permitem avaliar o impacto das ações de comunicação da APICCAPS e refletem uma “evolução positiva face a estudos anteriores”, sublinha a associação, animada pela confirmação da nova imagem do calçado luso, apesar de o sector ter interrompido no ano passado o longo ciclo de recordes na exportação e, no primeiro semestre deste ano, continuar a cair (-8,6%), para os € 862 milhões. “Os números mostram que a estratégia seguida está certa”, sublinha a associação que representa “a indústria mais sexy da Europa”, como afirma a mais conhecida e premiada campanha internacional de promoção da fileira.
Para explicar a valorização da imagem do calçado luso, a associação refere o investimento de €6,5 milhões realizado na promoção da imagem externa na última década, acompanhado de um crescimento de cerca de 50% nas exportações, de €1,2 mil milhões para €1,9 mil milhões.
E neste caminho há outros números e percentagens. Enquanto o peso da China na produção mundial de sapatos subia dos 17% para os 62% e a Europa caía dos 34,1% para os 6,8%, a industria portuguesa de calçado participou em mais de 500 feiras, criou 11 mil postos de trabalho e 350 marcas, viu o preço médio de um par de sapatos à saída da fábrica subir 33% para se colocar atrás de Itália, no segundo lugar do ranking mundial, e entrou em 43 novos destinos, para chegar a 163 países.
“Em cada 14 cêntimos de investimento alavancamos €100 na exportação”, diz a APICCAPS, agora a apostar nas áreas da sustentabilidade, marcas e vendas online, a par da segmentação por tipologias, do calçado de crianças aos sapatos de segurança, peles e componentes, para retomar uma trajetória de crescimento. Até ao final de 2020, estão já programados mais €2 milhões para a promoção de empresas e marcas.
“As campanhas foram arrojadas e mostraram ao mundo o que produzimos e fazemos de melhor, com qualidade, inovação, diferenciação. E quem compra sapatos portugueses reconhece e percebeu essa energia nova dos empreendedores portugueses que a campanha que dura há uma década ajudou a tornar visível”, diz o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, num comentário reproduzido na apresentação do estudo da Universidade Católica, esta manhã.
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