Donald Trump regressou esta terça-feira aos ataques no Twitter a Jerome Powell, o presidente da Fed, o banco central norte-americano, responsabilizando-o pelos primeiros sinais de abrandamento económico nos Estados Unidos, vindos do sector industrial.
"A Reserva Federal (Fed) gosta de ver os nossos industriais debaterem-se com as suas exportações em benefício de outras partes do mundo. A nossa Fed está a errar já há muito tempo!", escreveu num tweet o presidente norte-americano, que, depois de ter descido a retórica anti-China durante a cimeira do G7 em Biarritz, voltou, de novo, a atenção para o seu outro 'inimigo público' de estimação, Jerome Powell, o presidente da Fed por ele próprio escolhido.
O sector industrial dos EUA está a contrair-se há dois trimestres consecutivos e dá os primeiros sinais de que a guerra comercial com a China começa a fazer estragos em solo americano. Na próxima quinta-feira, é divulgada uma nova estimativa do crescimento do conjunto da economia dos EUA no segundo trimestre. A 26 de julho, a estimativa rápida do Bureau of Economic Analysis apontava para uma desaceleração em cadeia de 1 ponto percentual do primeiro para o segundo trimestre do ano: um abrandamento de 3,1% entre janeiro e março para 2,1% entre abril e junho.
Na estratégia da Casa Branca a responsabilidade por este abrandamento é do banco central dirigido por Powell, que começou a cortar tarde e pouco em julho, e não dos efeitos da guerra comercial contra a China e da instabilidade crónica que atormenta o 'sentimento' dos investidores e dos empresários introduzida pelo "meu modo de negociar há muitos anos" (na expressão usada na conferência de imprensa em Biarritz) do presidente na frente internacional.
Com uma nova reunião da Fed a 18 de setembro para discutir a política monetária, Trump não tem abrandado na pressão junto dos banqueiros centrais. A 23 de agosto, na sexta-feira passada, perguntou em tweet "qual era o maior inimigo" dos EUA, Xi Jinping, o presidente chinês, ou Jerome Powell, o responsável pela Fed.
No mesmo dia, Powell, no simpósio anual do banco central realizado em Jackson Hole, respondeu indiretamente a Trump: "[A política monetária] não pode fornecer um guia para o comércio internacional". No discurso que fez no simpósio, Powell não deu nenhumas pistas adicionais àquelas que saíram da reunião da Fed de julho: o corte realizado foi um ajustamento a meio do ciclo, não significando o começo de um ciclo de cortes.
Ex-banqueiro central apela a que Fed não "resgate"Trump
Esta terça-feira, numa coluna publicada na Bloomberg, Bill Dudley, ex-presidente do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque entre 2009 e 2018, apelou à equipa de Powell para não "resgatar" a política de Trump, dizendo não às pressões do presidente no sentido de um ciclo de cortes nas taxas e de regresso ao programa de compra de ativos. “As autoridades do banco central enfrentam uma escolha: permitir que o governo Trump continue num caminho desastroso de escalada da guerra comercial ou enviar-lhe um sinal claro de que, se o governo o fizer, o presidente, e não a Fed, arcará com os riscos - incluindo o risco de perder a próxima eleição ”, conclui Dudley na sua coluna de opinião..
A 19 de agosto, Trump falou da "falta de visão de Jay Powell" e apontou a necessidade de um corte em setembro de 100 pontos-base, ou seja, de 1 ponto percentual, quatro vezes mais do que os 25 pontos-base (um quarto de ponto percentual) avançado pela Fed na reunião de julho.
No mercado de futuros, a probabilidade de um novo corte de 25 pontos-base a 18 de setembro é de 99,6%, o que significa que os investidores dão como certo novo corte. Para a reunião de 30 de outubro, o mercado de futuros aponta para uma probabilidade de 59,8% para novo corte de mais 25 pontos-base, fechando o ano com uma taxa de juros de Fed no intervalo entre 1,5% e 1,75%. Atualmente, o intervalo de referência situa-se entre 2 e 2,25%.
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