Economia

Vem aí um período difícil para a banca, avisa o presidente do BPI

Pablo Forero
Pablo Forero
José Fernandes

BPI assume que negócio bancário tem pouco por onde crescer. Tudo por conta do BCE. Ainda não há plano para enfrentar a nova realidade. Mas os objetivos estratégicos podem ter de mudar

Vem aí um período difícil para a banca, avisa o presidente do BPI

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O Banco BPI registou uma quebra de 63% dos resultados no primeiro semestre deste ano. A instituição financeira que pertence aos espanhóis do CaixaBank defende que a descida se deveu sobretudo aos ganhos extraordinários do semestre do ano passado, o que estraga a comparação. Mas houve uma melhoria, registada na margem financeira, que é, na prática, a base do negócio bancário. Contudo, há um aviso: esta margem dificilmente tem por onde crescer mais.

“Estou a prever más notícias nesta matéria”, assumiu Pablo Forero, o presidente do português BPI, na conferência de imprensa de apresentação de resultados obtidos entre janeiro e junho, que ocorreu esta segunda-feira, 29 de Julho. A culpa é do Banco Central Europeu (BCE) e da nova indicação de que os juros podem mesmo descer ainda mais.

A margem financeira, a diferença entre os juros recebidos em créditos e os juros pagos em depósitos, do BPI subiu 3,7% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, fixando-se em 215 milhões de euros. Para esta evolução contribuiu, sobretudo, o aumento da carteira de crédito em Portugal.

“Manter esta margem financeira foi um exercício muito difícil. Com taxas de juro ainda mais baixas, a nossa margem – e a do resto dos bancos na Europa e em Portugal – não vai poder continuar a ser o que é”, declarou Forero aos jornalistas.

O Banco Central Europeu mantém as taxas de juro diretoras em mínimos mas anunciou que vai atuar nas próximas semanas, depois de analisar todos os estímulos monetários existentes. “O que todos achávamos que ia ser um curto período, tudo parece indicar que pode converter-se num longo período de taxas de juro ainda mais negativas”, considerou o CEO do BPI.

Esta política “não é boa, é uma pressão sobre a margem financeira muito importante”.

BPI ainda não tem plano, mas pode rever metas

Com uma margem estreita, os bancos precisam de procurar alternativas para aumentar o produto bancário. No primeiro semestre, as comissões líquidas cederam 6%, enquanto os resultados em operações financeiras passaram de terreno positivo para terreno negativo.

“Quando tens uma queda da margem, só tens duas ferramentas para atuar: receitas e custos, e normalmente uma combinação das duas”, sintetiza Forero. O BPI vai ter de fazê-lo. No entanto, não há ainda um plano delineado.

Mas há um passo que terá de ser dado. Se há uma realidade tão diferente daquela que era expectável, os objectivos estratégicos dos bancos podem ter de ser repensados.

Por exemplo, o cost-to-income do BPI, indicador que compara os custos com o produto bancário, fixou-se em 61% em junho, quando a meta para 2021 é de 50%. O que obriga a que haja um aumento do produto bancário e uma descida dos custos de estrutura.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate