Economia

Coligação “negativa” pede auditoria ainda mais abrangente ao Novo Banco

O banco liderado por António Ramalho concluiu a venda da seguradora GNB Vida com um encaixe de seis milhões de euros.
O banco liderado por António Ramalho concluiu a venda da seguradora GNB Vida com um encaixe de seis milhões de euros.
JOSÉ CARLOS CARVALHO

Vem aí auditoria alargada ao Novo Banco, que vai ser alvo de uma auditoria ao pré e ao pós-resolução, como manda a lei. Mas o PSD queria também uma análise específica à venda do banco à Lone Star. E, à exceção do PS, todos parecem concordar

Uma coisa é certa: o Novo Banco vai ser auditado. Como o Expresso contou no fim-de-semana, a lei obriga a que seja feita um escrutínio independente às operações feitas antes e depois da intervenção no Banco Espírito Santo (BES). Só que a Assembleia da República, partindo de uma proposta do PSD, quer mais: quer uma avaliação também aos pormenores da venda à Lone Star.

O BES foi alvo de resolução em agosto de 2014, quando foi criado o Novo Banco. Em fevereiro, o Governo pediu uma auditoria às operações de crédito anteriores a esta data, que estão agora a obrigar a injeções do Fundo de Resolução. Já o PSD – e o Presidente da República – queria também olhar para as operações pós-resolução. E a lei dos grandes devedores, a Lei n.º15/2019, esclareceu que todo o período terá de ser abrangido nesta auditoria. Só agora o tema está a avançar, mas ainda não se sabe qual a entidade que vai fazer este trabalho.

Só que o PSD, no Parlamento, tinha já lançado um projeto de resolução para que a Assembleia da República recomendasse ao Governo uma auditoria ao pós-resolução e que, além das questões obrigatórias por lei, averiguasse os “termos e condições da venda à Lone Star, incluindo todas as obrigações e responsabilidades imputáveis ao Fundo de Resolução e ao Estado, assim como o sistema de incentivos ao Novo Banco e sua gestão e (des)alinhamento com os interesses do acionista Fundo de Resolução”, e ainda a atuação da comissão de acompanhamento e do Fundo no controlo que fazem à gestão da instituição financeira.

“É para perceber melhor porque é que os recursos públicos continuam a ser chamados a pagar”, justificou Duarte Pacheco na comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, desta quarta-feira, 10 de julho. “Julgo que é relativamente pacífico pedir uma auditoria a uma entidade independente, nomeadamente a partir de 30 de junho de 2016”, justificou. É esta a data que serve de referência ao mecanismo de capital contingente, onde estão os atixos tóxicos do Novo Banco que têm obrigado a injeções do Fundo de Resolução e de empréstimos do Estado. O mecanismo foi criado devido à venda de 75% do banco aos americanos da Lone Star e já levou à injeção de 2 mil milhões de euros pelo Fundo de Resolução, podendo ainda convocar outros 1,9 mil milhões.

“Temos de perceber se os resultados negativos do Novo Banco são reais ou estão a ser empolados para motivar o recurso ao mecanismo do fundo de resolução”, continuou o deputado social-democrata.

Cecília Meireles, do CDS, concorda. “A história da venda do Novo Banco é a história de um pagamento em prestações que todos os anos o Governo tem escondido. Faz todo o sentido fazer-se uma auditoria nesta matéria”, explicou.

Mas à esquerda também há apoios a esta averiguação ao pós-resolução e ao processo de venda.

Efetivamente a raiz do problema está no tempo do BES. No entanto, também temos curiosidade e interesse no que se passou depois. Votaremos a favor”, anunciou o comunista Paulo Sá. Do Bloco, Mariana Mortágua considera que o “âmbito temporal da auditoria tem de ser mais lato. O Governo tem a obrigação de adaptar o âmbito que melhor puder ajudar a esclarecer o Parlamento e o país”.

Contra está o Partido Socialista. “Quem deve fazer auditoria à atuação do Banco de Portugal é o próprio Parlamento. O Governo fica numa situação muito desconfortável. Não concordamos com os termos propostos. A raiz do problema do Novo Banco está no mecanismo de capital contingente. O projeto de resolução do PSD não vai à raiz do problema”, declarou João Paulo Correia.

A votação do diploma fica para plenário.

O que pede a Lei n.º 15/2019 e o PSD também

A auditoria deverá abranger:

"Operações de crédito, incluindo concessão, garantias, restruturação ou perdão de dívida, dações em cumprimento ou execução de garantias, venda de carteiras de crédito ou transferência para fundos de reestruturação;

Decisões de investimento, expansão ou desinvestimento realizadas em Portugal ou no estrangeiro;

Decisões de aquisição e alienação de ativos".

O que acrescenta o diploma do PSD

"Os termos e condições da venda à Lone Star, incluindo todas as obrigações e responsabilidades imputáveis ao Fundo de Resolução e ao Estado, assim como o sistema de incentivos ao Novo Banco e sua gestão e (des)alinhamento com os interesses do acionista Fundo de Resolução;

A estratégia e opções de imparidades, provisões, gestão dos ativos do CCA, e outras ações, omissões ou escolhas que de modo direto ou indireto contribuam para o recurso ao mecanismo de capital contingente e às chamadas de injeções pelo Fundo de Resolução;

Todas e quaisquer ligações e relação do Novo Banco com a Lone Star e suas partes relacionadas, designadamente na gestão e venda de ativos e passivos do Novo Banco;

A atuação da Comissão de Acompanhamento e do Fundo Resolução no controlo da gestão do Novo Banco".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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