Economia

Lisboa tem 1700 bairros que nasceram ilegais. Parlamento vai ouvir especialista brasileiro em recuperar favelas

FAVELA Mais de três mil pessoas oriundas dos PALOP vivem no Segundo Torrão, em Almada, um bairro ilegal de ruas labirínticas feitas de terra batida
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A Assembleia da República vai esta terça-feira ter uma audição com o urbanista Manoel Ribeiro, especialista em programas dirigidos a bairros precários. Na nova Lei de Bases da Habitação ficou aprovado que o Estado deve apoiar a regeneração dos bairros de génese ilegal

O arquiteto e urbanista brasileiro Manoel Ribeiro, especialista em programas dirigidos a favelas, e que atualmente coordena o novo programa em Cabo Verde para reconversão dos bairros precários do arquipélago a convite do Governo local, vai ter uma audiência na Assembleia da República esta terça feira, 2 de julho.

Os bairros autoconstruídos, vulgo clandestinos ou ilegais, são um dos temas que passa a estar entre as intervenções prioritárias a lançar pelo Governo no âmbito da Lei de Bases da Habitação, que já foi integralmente votada no Parlamento na especialidade e esta semana deverá ser votada em plenário.

A deputada independente Helena Roseta, mobilizadora do projeto da Lei de Bases da Habitação, chama a atenção para a relevância da audição a Manoel Ribeiro por parte da 11ª Comissão da Assembleia da República, tendo em conta que "só na área metropolitana de Lisboa ainda há 1700 áreas urbanas de génese ilegal (AUGI)", o que se traduz em "mais de 200 bairros ou núcleos informais".

Reabilitar em vez de só demolir, diz a Lei de Bases da Habitação

A Lei de Bases da Habitação já aprovada na especialidade vem estabelecer que "a reconversão de áreas urbanas de génese ilegal (AUGI) e a regeneração de núcleos de habitação precária é uma das dimensões da política de habitação", e que "compete ao Estado criar condições específicas e favoráveis à sua prossecução e enquadramento nos instrumentos de gestão territorial e nos programas de promoção da coesão social e territorial".

São os municípios que devem identificar os bairros ilegais que existem nos seus territórios e verificar "as condições de exequibilidade da sua eventual reconversão ou regeneração", estabelece ainda a Lei de Bases da Habitação, explicitando que "o Estado apoia os processos de reconversão e regeneração através de programas públicos de regularização cadastral e de realojamento, aos quais se podem candidatar as autarquias".

De acordo com o diploma, as associações de moradores e outras entidades da sociedade civil também podem submeter ás autarquias propostas para reconversão dos bairros de génese ilegal.

Quanto aos bairros precários que não são passíveis de reconversão, a Lei de Bases da Habitação determina que estes "devem ser alvo de medidas extraordinárias e temporárias de habitabilidade e do habitat, com garantia de acesso aos serviços mínimos essenciais, até à prossecução do realojamento dos seus moradores".

Este é um dos aspetos da Lei de Bases, que à semelhança de muitos outros, ainda carece de regulamentação específica (dando-se aqui ao Estado um prazo de nove meses a partir da data em que o diploma entrar em vigor), pelo que a audição ao especialista brasileiro na recuperação de bairros precários se perfila relevante.

Manoel Ribeiro, que esta terça-feira vai ser ouvido no Parlamento, foi consultor da UNESCO para a avaliação de programas educacionais dirigidos à juventude, coordenou uma série de projetos no Brasil associados a favelas. Esteve há quatro anos em Cabo Verde para participar numa atividade académica no Mindelo com o objetivo de identificar oportunidades para adaptar as experiências de urbanização avançadas em favelas do Rio de Janeiro ao caso da Ilha de São Vicente.

O urbanista brasileiro foi recentemente convidado pelo Ministério das Infraestruturas, Ordenamento do Território e Habitação do Governo de Cabo Verde para voltar a São Vicente, para coordenar uma experiência-piloto de urbanização de "assentamentos precários" e do manual do programa, a lançar em Cabo Verde, designado de "Outros Bairros".

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