Economia

Tomás Correia: "Demiti-me da Caixa por discordâncias quanto ao caminho que o banco estava a trilhar"

Tomás Correia: "Demiti-me da Caixa por discordâncias quanto ao caminho que o banco estava a trilhar"
NUNO FOX

Tomás Correia diz aos deputados da comissão parlamentar de inquérito que estava contra a forma de decidir o crédito e fez muitas vezes "de advogado do diabo"

Tomás Correia: "Demiti-me da Caixa por discordâncias quanto ao caminho que o banco estava a trilhar"

Isabel Vicente

Jornalista

O presidente da associação mutualista Montepio Geral esteve 36 anos na Caixa e, entre 2000 e 2003, período temporal da auditoria da EY, Tomás Correia foi administrador do banco público. No período durante o qual a liderança da Caixa era de António de Sousa, Tomás Correia confessa estava desagradado "com o ambiente que havia" face à forma como se conduziam as operações de crédito.

Tomás Correia, ex-administrador responsável pela área internacional do banco público, afirma aos deputados da II comissão parlamentar de inquérito à recapitalizacao da Caixa, que 36 anos depois de fazer o seu percurso no banco público, "saí por discordâncias quanto ao caminho que a Caixa estava a trilhar".

Sublinha que as discordâncias tinham a ver com a "política de crédito", mas também quanto à própria estratégia da CGD". Por isso, diz, "fiz uma primeira tentativa para sair em 2002. Enviei uma carta à ministra das finanças, Manuela Ferreira Leite, que por razões que não explicou não aceitou o meu pedido". Mais tarde, quando completou 36 anos de casa, em 2003 "pedi a reforma".

"Fiz de advogado do diabo"

Tomás Correia já fazia parte da administração desde 1996, tendo estado no mandato de João Salgueiro, afirma mesmo que "em algumas das operações de financiamento fiz de advogado do diabo". E, continua que "muitas foram recusadas pelo Conselho de administração". Antes deste período (2000-2003) "a regra era quando alguém se mostrava desconfortável não se falava mais disso".

Diz conhecer as diligências do ex-administrador Almerindo Marques e das cartas que escreveu ao governador do Banco de Portugal à data, Vítor Constâncio, e diz mesmo:"creio que nunca respondeu". Prossegue referindo que é preciso perceber que "tínhamos uma prática muito conservadora no sentido de constituição de garantias (no crédito).

Tomás Correia garante que não sabe quem propôs a operação Boats Caravela, um instrumento financeiro provado em 1999 quando era administrador do banco, onde foram aplicados 447 milhões de euros e no qual a Caixa perdeu mais de 340 milhões de euros. "É uma operação de tesouraria. É uma operação da direção financeira", acabando por dizer que "o administrador do pelouro era António Vieira Monteiro", uma resposta que, tendo em conta que houve mais de 10 reuniões sobre o tema, deixou irritado o deputado que queria saber quem tinha levado a operação ao conselho de administração.

Afirma contudo que "nunca ninguém explicou, nem disse que os ativos desse veículo pudessem ser trocados por outros", desvalorizando o investimento.

"Fiquei muito surpreendido quando em 2001 soube disso". Mais, diz que o administrador do pelouro, Vieira Monteiro (hoje chairman do Santander) não deu explicações ao Conselho e acredito que não soubesse". Mas, acrescenta, "foi uma falha monumental".

Recorde-se que Tomás Correia foi recentemente condenado ao pagamento de uma coima de 1,25 milhões de euros por irregularidades graves cometidas com dolo no Banco Montepio entre 2009 e 2014. O presidente da associação desde Maio de 2008, há 11 anos, acumulando a presidência do Banco Montepio até Agosto de 2015, recorreu da condenação do Banco de Portugal para o tribunal de Santarém.

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