O consumo de energia em Portugal e no resto do mundo tem estado em transformação. A Europa já decidiu embarcar num processo de transição energética para progressivamente abandonar as fontes fósseis, eletrificando os consumos e promovendo uma matriz de produção elétrica tão "verde" quanto possível.
Esta quarta-feira, 29 de maio, assina-se mais um Dia Mundial da Energia. O Expresso fez um levantamento dos números que ajudam a caracterizar a forma como Portugal consome energia, a partir dos dados divulgados por fontes como a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), o Eurostat, o Weekly Oil Bulletin da Comissão Europeia, entre outros.
Portugal é historicamente um importador de energia. O que importamos em petróleo bruto deixa o país exposto ao carrossel da cotação do crude, mas o país também exporta produtos refinados, igualmente expostos à volatilidade dos preços internacionais.
Quanto custa a nossa dependência energética do exterior?
Em 2016 o saldo importador de Portugal encolheu para 3,2 mil milhões de euros e a nossa dependência energética do exterior baixou para 74%, mas nos dois anos seguintes o preço dos produtos petrolíferos subiu e voltou a agravar a fatura energética nacional.
Nos últimos cinco anos o país também vem observando um crescimento das exportações de eletricidade para Espanha, reflexo de uma maior produção a partir de fontes renováveis, cujo volume por vezes supera as necessidades de consumo interno.
Mas o valor das exportações de energia elétrica está longe de anular o saldo importador da balança energética, que em 2018 ascendeu a 4,9 mil milhões de euros. Uma soma que dava para pagar cinco pontes Vasco da Gama. E que corresponde a 45% do orçamento anual do Serviço Nacional de Saúde.
O que consome em média cada português?
A Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) produz estatística abundante sobre a produção e consumo de energia em Portugal. A energia primária consumida no país (ou seja, as fontes energéticas originais, antes de serem transformadas, como o petróleo ou o carvão) equivale a um consumo anual de 2,2 toneladas equivalentes de petróleo por habitante. O consumo nacional de eletricidade per capita ascende a 4600 kilowatts hora (kWh) por ano. E as emissões de dióxido de carbono associadas ao consumo de energia ascendem a 6,6 toneladas anuais por habitante.
O gasóleo está aí para as curvas?
A maior parte da energia consumida em Portugal é a que está associada à mobilidade: é nas estradas de Norte a Sul do país que se faz a maior parte da despesa nacional em energia, com um parque automóvel que consome essencialmente gasóleo.
O discurso político tem enfatizado a necessidade de descarbonização da economia portuguesa. O ministro do Ambiente já antecipou o fim dos carros a gasóleo, projetando uma adesão crescente e rápida da sociedade à mobilidade elétrica. Mas nos últimos cinco anos a introdução de gasóleo no mercado português cresceu, um facto a que não é alheio o crescimento económico.
Os boletins da ENSE - Entidade Nacional para o Sector Energético (que monitoriza o mercado dos combustíveis) mostram que as vendas de gasolina em Portugal baixaram 3% entre 2014 e 2018. Mas as vendas de gasóleo no mesmo período subiram quase 10%.
Produzimos mais energia verde que no passado. Mas chega?
E na eletricidade? Este é um sector em profunda transformação. Na última década a EDP encerrou as suas últimas centrais a fuel e avançou com novas barragens, ao mesmo tempo que vários grupos intensificaram a instalação de parques eólicos de Norte a Sul do país.
A próxima década deverá ser marcada pelo encerramento das centrais a carvão de Sines e do Pego, que, em conjunto com as termoelétricas alimentadas a gás natural, são alicerces essenciais da segurança do abastecimento elétrico do país.
Os números da DGEG mostram como a produção de eletricidade no país está ainda exposta à forte variação dos recursos hídricos. Anos de seca e anos húmidos vão-se sucedendo, obrigando o sistema elétrico a ter alternativas que compensem a subida e descida da produção das barragens.
E esse sobe e desce de alguns recursos renováveis (onde as eólicas até vêm apresentando um volume estável de ano para ano) tem sido compensado pelas centrais termoelétricas (sobretudo as que funcionam alimentadas a gás natural). A produção solar, como mostram as estatísticas da DGEG, é ainda residual em Portugal, mas deverá subir de forma acentuada nos próximos anos.
Os números da DGEG indicam ainda que a produção bruta de eletricidade no país vem superando, ano após ano, o consumo nacional de energia elétrica. O excedente corresponde às exportações para Espanha e ao volume de eletricidade que é consumido pelas próprias centrais elétricas (como, por exemplo, a energia gasta nas barragens com sistemas de bombagem).
Os portugueses têm a fatura mais cara da Europa?
E o que pagamos? É muito ou pouco? O Eurostat atualiza semestralmente os seus números sobre quanto paga em média cada consumidor residencial de eletricidade e gás natural pela Europa fora.
Em termos nominais, a fatura da luz portuguesa é a sexta mais cara da União Europeia (incluindo impostos). Mas em paridade de poder de compra (ajustando o custo da eletricidade pelas diferenças de rendimento entre os países) constata-se que é Portugal que tem o encargo mais pesado com a eletricidade, no segmento residencial.
No gás natural temos igualmente o sexto preço mais alto da União Europeia. Mas em paridade de poder de compra a nossa fatura do gás é a terceira mais alta (atrás da Suécia e Espanha e ao nível de Itália).
E nos combustíveis como estamos?
Nos combustíveis rodoviários, cujos preços variam semanalmente, a posição portuguesa está mais próxima da média europeia, de acordo com o Weekly Oil Bulletin da Comissão Europeia. Na semana passada a gasolina 95 em Portugal tinha um preço médio de 1,571 euros por litro, face a 1,487 euros por litro na média europeia, numa lista liderada pela Holanda, com um preço de 1,736 euros por litro.
No gasóleo o preço português, 1,397 euros por litro, está ainda mais próximo da média europeia de 1,379 euros por litro, sendo o mercado mais caro a Suécia, com 1,552 euros por cada litro deste combustível.
As gasolineiras há anos que alertam que o custo dos combustíveis está muito inflacionado pela elevada carga fiscal destes produtos (entre ISP e IVA, passando por outras taxas). Mas essa não é uma reclamação exclusiva do sector petrolífero. Também os gestores das elétricas vêm denunciando a carga fiscal e parafiscal que hoje pesa na fatura da luz.
A política energética que Portugal vem seguindo tem estado assente em pilares como a descarbonização e a eficiência energética. Mas esse é um processo lento. Neste Dia Mundial da Energia os números mostram que o país continua com uma elevada dependência do exterior, a mobilidade nas estradas é feita sobretudo a gasóleo e a produção de eletricidade é hoje mais "verde" mas não dispensa as fontes fósseis importadas como rede de segurança. E daqui a uma década? Como estaremos?