Chineses entram em banco nacional e têm de injetar €15 milhões

BNI Europa regista prejuízos históricos. Precisa de capitalização. Venda deverá ficar concluída no próximo mês
BNI Europa regista prejuízos históricos. Precisa de capitalização. Venda deverá ficar concluída no próximo mês
Jornalista
O angolano Banco de Negócios Internacional, de que a principal face é o ex-vice-governador, Mário Palhares, deverá vender a maioria da sua participação no português BNI Europa até junho. O comprador é o grupo chinês KWG que tem já a missão de colocar €15 milhões no banco. Esse reforço é essencial para o futuro da instituição financeira, acredita a administração do banco português.
“O processo de autorização para a aquisição de participação qualificada do capital social do Banco BNI Europa encontra-se em fase final de apreciação por parte do Banco de Portugal e Banco Central Europeu, prevendo-se a sua conclusão até ao final de junho de 2019”, assinala o relatório e contas de 2018 do BNI Europa, banco de que o angolano BNI detém 92,988%.
O processo de alienação da maior parte da participação do banco angolano na instituição portuguesa (estavam à venda 80,1%, segundo o relatório e contas do BNI) iniciou-se em 2017. O comprador, segundo noticiou o “Público”, é o grupo chinês KWG.
Não se sabe qual o montante acordado no processo de compra e venda, mas é certo que terá de haver injeção de capital posterior no BNI Europa. Aliás, já foi agendada uma assembleia-geral de acionistas do BNI Europa, para 17 de junho, em que um dos pontos é a deliberação sobre um aumento de capital de €15 milhões. Outro ponto é a supressão dos direitos de preferência dos acionistas. Ou seja, o dinheiro é para ser colocado pelo comprador.
Segundo confirmou o Expresso junto da instituição financeira, “este novo aumento proposto à assembleia-geral é para ser realizado pelo novo acionista desde que até lá o BdP dê a autorização da entrada do novo acionista”.
“A capitalização do banco no exercício de 2019 apresenta-se como fundamental para a prossecução do seu plano de negócios apresentado pelo conselho de administração, o qual levou em consideração a entrada do novo acionista, na sequência do processo de aquisição de participação qualificada do capital social do banco”, relembra a PwC, na certificação legal de contas do ano passado.
Ou seja, a execução da estratégia da atual equipa de administração depende da capitalização: “Com base no plano de negócios preparado pelo banco, é entendimento do conselho de administração que o banco dispõe de meios para continuar a desenvolver a sua atividade no futuro previsível, ainda que a concretização do mencionado plano se encontre necessariamente condicionada pelo sucesso do processo de venda em curso e pela estratégia do futuro acionista ou, em alternativa, pela continuidade do apoio financeiro do atual acionista maioritário no decorrer do próximo exercício”, continua. À partida, será pelo novo investidor. Mas se não houver autorização até lá, a questão poderá ser outra.
O resultado de 2018 foi o mais negativo desde a fundação do BNI Europa, em 2014. Foram €6,6 milhões de euros, um número que compara com o lucro homólogo de €2,3 milhões, o único resultado líquido positivo que alcançou até aqui. Foram as imparidades para crédito, de €10,6 milhões, que deram o principal contributo para o desempenho. Um número que contribuiu para a descida do rácio de solvabilidade, de 13%, em 2017, para 11,8%, no ano passado.
O BNI Europa — com um ativo de €422 milhões — foi criado em 2014 para servir de canal do negócio do banco angolano, destinado aos segmento de banca privada e corporate, mas logo no início da sua vida viveu o impacto da crise sentida em Luanda, nomeadamente pela desvalorização dos preços do petróleo. Teve de haver uma “redefinição estratégica”, e o banco direcionou-se para nichos de mercado, estando atualmente virado para a banca digital. Mário Palhares — que esteve na corrida pelo banco estatal Efisa através da Pivot, que falhou — é a face do banco angolano e da sua entidade em Portugal. Foi, aliás, o fundador da entidade em Portugal, mas saiu da presidência em 2016.
Segundo afirmou o presidente do BNI Europa, Pedro Pinto Coelho, ao “Jornal de Negócios” e à Antena 1, em setembro passado, houve dois motivos para o interesse do grupo chinês na compra do banco: “O novo investidor, do nosso ponto de vista, achou interessante a potencial aquisição do banco BNI Europa por duas razões. Primeiro, por o banco não ter o tal legado que outros bancos têm. Não tem um histórico pesado em termos de infraestrutura de pessoal e tecnológica. E, por outro lado, pelo foco na área de inovação que o banco tem. Acreditou que esta seria uma plataforma interessante para poder realmente investir e crescer.”
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