CEO RESET. “Eu iria trabalhar numa quinta, lavar pratos, qualquer coisa”: o que faria Steven Braekeveldt se caísse no desemprego
Steven Braekeveldt lidera a Ageas Portugal, o grupo dos seguros Ageas, Médis, Ocidental e Seguro Directo. É o segundo de dez CEO que, ao longo de 2019, revelarão as suas experiências e dicas de gestão no Expresso
José Fernandes
Steven Braekeveldt, o belga que dirige o grupo segurador Ageas Portugal, diz que o importante é arranjar um emprego – onde quer que seja – e a partir daí voltar a subir. É que o talento é como o óleo na água: “A carreira pode sofrer um revés, mas o talento acaba sempre por vir ao de cima”. Este é um dos dez CEO que aceitaram o repto do jornal Expresso e da consultora EY para fazerem “reset” e refletirem sobre o desafio que é gerir uma empresa ou ter de começar de novo
Questionado sobre o que faria se estivesse numa situação difícil e desempregado aos 55 anos de idade, o CEO Steven Braekeveldt - que começou a trabalhar aos quinze anos e passou por múltiplos empregos, desde apanhador de fruta até líder do grupo segurador Ageas Portugal - diz que o importante é começar por arranjar um emprego onde quer que seja, seja a trabalhar numa quinta, a lavar pratos ou até emigrando. A partir daí, a estratégia é voltar a subir:
“Eu iria trabalhar numa quinta, lavar pratos, qualquer coisa. Nunca estaria sem emprego. E conhecendo um pouco da minha pessoa, acho que, através da minha inteligência, começaria imediatamente a tentar resolver ineficiências na quinta, no restaurante… Em qualquer sítio onde trabalhasse, eu tentaria resolver ineficiências e, através disso, subir, subir, subir”
“Se tal não fosse possível, de certeza que emigraria. É uma questão de atitude. Se não há nada, vai-se para fora, muda-se de país. Por exemplo, na minha região, há 50 mil postos de trabalho disponíveis que não conseguem ser preenchidos, 50 mil. Se não há aqui, vou para lá: aprendo a língua, aprendo a cultura e adapto-me”.
“Sim, há empregos. Temos é de nos mudar como antigamente, como nos anos 20, 30… Os portugueses sabem-no bem. Muitos foram para a Bélgica quando havia aqui muita pobreza e as pessoas tiveram de sair porque não havia emprego. Eram gerações de pessoas que emigravam… Agora o que importa é o conforto, ficar em casa dos pais até aos 30 porque não têm de lavar a roupa, nem a loiça, nem a comida, etc”.
E será que empresas, como a Ageas, está interessada em contratar pessoas acima dos 55 anos de idade? O CEO responde que é um tópico que se tem discutido dentro deste grupo segurador internacional, sediado em Bruxelas:
“O que vemos, tanto em Portugal, como na Bélgica, é que temos cada vez mais vagas e é cada vez mais difícil encontrar pessoal. Então, porque não ter pessoas com mais de 50 ou mais de 55 anos de idade a preencher essas vagas? A questão é o ego das pessoas com essa idade. Elas acreditam que merecem ganhar muito mais por serem mais velhas”.
“Quando contratamos um funcionário mais novo, ele tem de começar por aprender a sua função. E se contratarmos uma pessoa com 50 anos de idade, também. Contudo, dizem: ‘ah, mas eu antes tinha um salário maior, eu não vou trabalhar por este salário.’ Eu olharia de maneira diferente: não me importaria de recomeçar nesse nível e depois mostraria que devia receber mais.
“Eu não recusaria nada. Se aceitar um emprego abaixo do seu nível, e se for inteligente e tiver o conhecimento, então fará muito mais do que lhe é pedido porque usará toda a sua experiência de 30 anos. E aí começará a influenciar as pessoas e a subir através do seu talento”.
“O talento é como o óleo numa garrafa de água. Põe-se o óleo numa garrafa de água e depois agita-se. Todas as carreiras podem sofrer um revés, mas o talento acaba sempre por vir ao de cima”
Steven Braekeveldt lidera a Ageas Portugal, o grupo constituído pela Ageas Seguros, a Médis, a Ocidental e a Seguro Directo. Depois de Isabel Vaz, é o segundo de dez gestores de empresas que aceitaram o repto do jornal Expresso e da consultora EY para fazerem “RESET” e refletirem sobre o desafio que é gerir uma empresa ou ter de começar de novo. Acompanhe no site do Expresso as suas histórias, dicas e conselhos