CEO RESET. “Eu começaria por alertar que só podem ficar satisfeitos se falarem cinco línguas." O que Steven Braekeveldt diz aos alunos
Steven Braekeveldt lidera a Ageas Portugal, o grupo dos seguros Ageas, Médis, Ocidental e Seguro Directo. É o segundo de dez CEO que, ao longo de 2019, revelarão as suas experiências e dicas de gestão no Expresso
José Fernandes
Steven Braekeveldt, o belga que dirige o grupo segurador Ageas Portugal, responde a perguntas de estudantes de economia e gestão. Este é um dos dez CEO que aceitaram o repto do jornal Expresso e da consultora EY para fazerem “reset” e refletirem sobre o desafio que é gerir uma empresa ou ter de começar de novo
Alunos das escolas de negócios do país, que mais bem posicionadas estão no ranking do Financial Times, foram convidados a colocar perguntas aos dez CEO que aceitaram o repto do jornal Expresso e da consultora EY para participarem nesta troca de ideias que é a iniciativa “Reset”.
O mote lançado aos alunos de economia e de gestão das várias faculdades foi: “Se tivesse a oportunidade de fazer uma pergunta a um experiente CEO, que conselho ou dica lhe pediria?” Eis as respostas às duas questões que o Expresso selecionou para Steven Braekeveldt.
A primeira pergunta é de Pedro Melo, 25 anos. Ele é finalista do mestrado em Economia da Católica Lisbon School of Business & Economics, presidente da Católica Lisbon Economics Club que procura estar consciente de todas as variáveis críticas que permitem o desenvolvimento de Portugal. Nesse contexto, Pedro Melo pergunta que estratégias pode um CEO implementar afim de atrair jovens talentos para um país onde o poder de compra é bastante inferior à média da zona euro?
“Eu começaria por alertar este estudante e os seus colegas que só podem ficar satisfeitos se falarem cinco línguas. É que vai haver mais concorrência à medida que o país atrai talento do estrangeiro, por exemplo, os belgas que falam todos quatro ou cinco línguas. Quando for possível escolher entre um talento que fala quatro ou cinco línguas e outro que só fala português e inglês, talvez escolham o primeiro”.
“Vocês têm um problema estrutural que são os salários: eles são substancialmente mais baixos do que no resto da Europa. Mas vejo que os salários estão a subir rapidamente porque há cada vez menos jovens disponíveis para se contratar. Há uma pressão para os salários subirem. Também vejo cada vez mais empresas estrangeiras a virem para Portugal e a trazerem estrangeiros com elas. Isso dará mais um impulso aos salários em Portugal”.
“Não esquecer que o mesmo café custa 50 cêntimos em Portugal e três euros na Bélgica. Os salários são mais baixos, mas o custo de vida também. Com cinquenta euros, eu saio do supermercado na Bélgica com o carrinho vazio”.
“O grande problema que os jovens têm hoje é o imobiliário. Esse é que é o problema. Porque temos 25 mil estrangeiros a estabelecerem-se em Portugal, maioritariamente no Porto, Lisboa e, claro, Algarve, e isso aumenta as rendas para níveis que os salários dos mais jovens já não podem pagar. O mesmo está a acontecer em Londres, Paris, Bruxelas…”.
A segunda pergunta é de Thanitthi Muangnapha, 21 anos. Ele está a estudar gestão na Nova School of Business & Economics em Portugal, mas o seu sonho é trabalhar como diplomata no ministério dos negócios estrangeiros da Tailândia. A sua pergunta é sobre encarar o falhanço, sobre o que deve um CEO fazer quando sente que tudo está a falhar:
“Deve-se falhar depressa. Trabalhar muito, falhar depressa… ou ajustar. Muitas empresas sofrem porque continuam a investir… Parem! Falhem depressa e mudem para outra coisa diferente. Até podem ter uma boa ideia, mas se falhar, parem”.
“Quando eu era ‘trader’ tinha de cortar as perdas muito rapidamente. Era uma decisão que eu tinha de tomar. Se contasse com o amanhã poder melhorar, eu podia perder ainda mais milhões. Cortar as perdas e recomeçar de novo. Era o que eu faria”.
Steven Braekeveldt lidera a Ageas Portugal, o grupo constituído pela Ageas Seguros, a Médis, a Ocidental e a Seguro Directo. Depois de Isabel Vaz, é o segundo de dez gestores de empresas que aceitaram o repto do jornal Expresso e da consultora EY para fazerem “RESET” e refletirem sobre o desafio que é gerir uma empresa ou ter de começar de novo. Acompanhe no site do Expresso as suas histórias, dicas e conselhos