Armando Vara, sentado na cadeira de administrador da Caixa Geral de Depósitos, dirigiu para o responsável da direção comercial dirigida às empresas do sul do país, uma proposta de financiamento e montagem de investimento no empreendimento turístico Vale do Lobo. Foi por e-mail, no verão de 2006, ainda não passava um ano desde a sua chegada à administração do banco público, que o ex-ministro propôs a Alexandre Santos, o referido diretor, a primeira versão do negócio. Uma operação que, anos depois, iria trazer perdas à Caixa.
Na segunda comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD, Alexandre Santos, ouvido esta terça-feira 16 de abril pelos deputados, explicou que este não era um procedimento normal. “Percentualmente, face aos pedidos de financiamento, os que entram por via dos administradores são ínfimos, comparando com o que era [pedido] pela via [comercial]”, explicou.
Ou seja, explicou Alexandre Santos, é normal que os administradores tenham reuniões com clientes e depois sinalizem e digam para que os responsáveis comerciais tentem fechar aqueles negócios. Não foi isso que aconteceu com Vale do Lobo.
Já vinha tudo preparado: “Com o dossiê já preparado, não tenho memória de outro caso”. Não aconteceu por outros anos, segundo adiantou Alexandre Santos.
Armando Vara declarou que o crédito tinha corrido os procedimentos habituais e, na primeira comissão de inquérito à CGD, que não havia razões para duvidar da bondade do negócio, em parceria com um grupo de investidores liderado por Diogo Gaspar Ferreira. Aliás, o também antigo vice-presidente do BCP disse no Parlamento que “vários bancos disputavam aquele crédito” ao banco público.
Aos deputados, Alexandre Santos frisou que não teve interações com nenhuma outra instituição de crédito em relação a este financiamento. Os investidores que queriam fechar negócio também diziam que havia vários bancos interessados. Mas o diretor da CGD não tem prova desse facto.
A versão inicial do negócio não foi aquela que vingou. E todo o negócio trouxe dúvidas quer à direção de gestão de risco, quer ao departamento comercial. Mas aconteceu.
Em números redondos, aquando do negócio fechado, a CGD emprestou cerca de 200 milhões de euros e, enquanto acionista, colocou 30 milhões de euros. Ficou com 25% da empresa que ficou a gerir o “resort”.
O banco acabou por ficar com exposição a Vale do Lobo como credor e como acionista. No fim de 2017, a CGD quis vender a sua participação, passando-a para um fundo gerido pela ECS, do antigo presidente António de Sousa, o que fez com que registasse uma perda em torno de 100 milhões de euros.
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