Economia

Mais nuvens negras sobre a economia: FMI volta a cortar na previsão do crescimento mundial

Mais nuvens negras sobre a economia: FMI volta a cortar na previsão do crescimento mundial
YOAN VALAT/EPA

A diretora-geral do Fundo deu a má notícia esta terça-feira numa conferência na Câmara de Comércio dos EUA. Em janeiro, o Fundo cortou para 3,5% o crescimento em 2019. Na próxima semana deverá anunciar nova revisão em baixa, porque a economia mundial atravessa “um momento delicado”

O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai voltar a rever em baixa as previsões de crescimento mundial para 2019 e 2020, anunciou esta terça-feira Christine Lagarde numa conferência na Câmara de Comércio dos Estados Unidos.

O novo número, que deverá ficar abaixo de 3,5% para este ano e 3,6% para o próximo, é segredo, e só é revelado para a semana quando for publicado o capítulo mais importante do World Economic Outlook (WEO), a bíblia de previsões da organização. O Fundo, juntamente com o Banco Mundial, realiza em Washington entre 12 e 14 de abril a sua reunião de primavera.

A diretora-geral do FMI está, agora, mais pessimista do que em janeiro, quando o FMI atualizou as suas previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, fazendo um corte de duas décimas para este ano e de uma décima para o ano seguinte. No WEO de outubro do ano passado, o Fundo previa 3,7% para 2019 e 2020.

Não se sabe se o Fundo irá aproximar as suas previsões das da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que, em março, reviu em baixa o crescimento mundial apontando, agora, para 3,3% em 2019 e 3,1% em 2020.

Sem pistas sobre a zona euro

Um ponto importante nas previsões serão os números para a zona euro. Lagarde não deu nenhuma pista esta terça-feira sobre este assunto. Em janeiro, o FMI cortou a previsão de crescimento da zona euro para este ano de 1,9% para 1,6%. A OCDE avançou com 1%, uma desaceleração ainda mais brutal.

A herança do final de 2018 na zona euro é péssima: o crescimento em cadeia desceu de 0,4% no segundo trimestre para 0,1% no terceiro e 0,2% no último. São níveis de desaceleração maiores do que no segundo e terceiro trimestres de 2016 quando se temeu que o solavanco na zona euro pudesse perdurar e o Banco Central Europeu decidiu descer as taxas diretoras para mínimos históricos e aumentar a compra mensal de ativos para €80 mil milhões. O que se passou no primeiro trimestre de 2019 só o vamos saber a 12 de abril, precisamente no dia de início da reunião do FMI, quando o Eurostat divulgar as suas primeiras estimativas.

Lagarde tempera, no entanto, o pessimismo. Tranquiliza o mundo garantindo que a sua equipa de macroeconomistas não prevê uma recessão a curto prazo na economia mundial.

Momento delicado

Mas não deixa dúvidas sobre a conjuntura global. As palavras da francesa são, agora, mais duras. A economia mundial atravessa “um momento delicado” e exige “prudência da parte de todos”, disse na conferência de hoje. Desde janeiro que “perdeu ainda mais o impulso de crescimento”. “As condições meteorológicas estão cada vez mais perturbadas”, acrescentou.

“Há dois anos, 75% da economia mundial está numa fase ascendente. Para este ano, 70% da economia mundial conhecerá um abrandamento do crescimento”, explicou, com um contraste que não podia ser mais gritante. “Na verdade à economia de muitos países falta resiliência”, avisou. Mesmo uma aceleração ligeira do crescimento global no final do ano será “precária”, concluiu.

O comportamento da economia mundial vai depender de como vai evoluir um conjunto de riscos: desfecho do Brexit, guerra comercial, mercados financeiros. E sobre essa evolução há enorme incerteza, sublinha a francesa.

A guerra comercial vai merecer particular atenção na reunião do FMI. Um estudo que vai ser divulgado na quarta-feira, no âmbito do WEO, revela que o PIB anual dos EUA poderá perder até 0,6% e o da China até 1,5%, se Trump e Xi Jinping não chegarem a acordo nas negociações em curso e se, por isso, as taxas subirem 25% para todos os produtos trocados entre os dois países, revelou Lagarde.

Seis áreas de intervenção

Um momento que exige que os decisores “não só evitem erros de política, como também assegurem que vão tomar as decisões certas”. A diretora-geral propõe ações em seis áreas: recuo na guerra comercial; impulso na política orçamental; defesa da concorrência contra o risco de monopólios, sobretudo por parte de um punhado de gigantes empresariais; reforma do sistema fiscal internacional aplicável às empresas (para evitar a fuga aos impostos); combate à corrupção (que vale 2% do PIB mundial); e redução das subvenções na área da energia (que pesam 6,5% do PIB mundial).

Na quarta e quinta-feira, o FMI divulga alguns capítulos do WEO e do Fiscal Monitor (o relatório coordenado pelo ex-ministro Vítor Gaspar) que abordam algumas destas seis áreas.

Por cá, Mário Centeno também se prepara para temperar o seu otimismo, revendo em baixa as previsões para o crescimento e em alta as estimativas para o desemprego este ano.

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