Economia

Há documentação da Caixa a que auditoria pode não ter chegado

26 março 2019 16:01

Trabalho da EY deixou várias recomendações de melhorias à Caixa

luís barra

No banco público, só foi criado um arquivo centralizado em 2013. E a auditoria da EY estendeu-se pelo período entre 2000 e 2015. Há informações que podem ter sido perdidas

26 março 2019 16:01

A empresa responsável por auditar os atos de gestão na Caixa Geral de Depósitos entre 2000 e 2015, a EY, assume que pode não ter tido acesso a toda a documentação existente sobre todas as operações de crédito que foram analisadas. Foi uma das primeiras informações deixadas nas audições da segunda comissão parlamentar de inquérito ao banco público, que se iniciaram esta terça-feira, 26 de março.

“É possível que exista documentação que não tenha sido localizada”, afirmou, na sua audição, Florbela Lima, a “partner” da EY que foi responsável pelo relatório de auditoria aos atos de gestão do banco público, que foi promovido pelo Governo.

Segundo quis deixar claro, o relatório final que foi entregue à CGD, ao Banco de Portugal, ao Banco Central Europeu, ao Ministério Público e, agora, à comissão parlamentar de inquérito “baseia-se na informação a que” a EY acedeu. Há aspectos que podem não ter sido avaliados, porque não chegaram às mãos dos auditores - a falta de informação leva a que haja a consideração sobre muitos incumprimentos nos procedimentos seguidos.

Foi este relatório - conhecido numa versão preliminar pelas mãos de Joana Amaral Dias - que motivou a criação de uma segunda comissão de inquérito à gestão da Caixa (houve uma terceira, à contratação e saída de António Domingues).

Um dos aspetos problemáticos para a EY foi, precisamente, o facto de, “até 2013, não haver um arquivo centralizado ou digitalizado”, segundo classificou Florbela Lima. Neste trabalho, a auditora olhou para a concessão e acompanhamento de crédito, a aquisição de ativos e ainda decisões de gestão. E muitos dos gestores já não se encontram no banco. António de Sousa, Vítor Martins, Carlos Santos Ferreira, Fernando Faria de Oliveira e José de Matos são os presidentes da instituição financeira entre 2000 e 2015.

Além disso, afirmou a responsável da auditora – que é também a empresa responsável por certificar as contas do banco estatal –, todo o trabalho feito teve “um nível de complexidade muito elevado”. “Desde logo, envolve um período de análise muito alargado, ciclos macroeconómicos muito abrangentes e muito voláteis”.

Esta complexidade foi adiando as conclusões da EY no seu trabalho: inicialmente teria de ser feito em 15 semanas, mas acabou por demorar 11 meses. “Iniciámos no dia 24 de Julho de 2017, tendo emitido o relatório final a 26 de Junho de 2018”, contou, lembrando que a PwC também teve de fazer uma certificação à auditoria da EY.

O relatório foi entregue aos deputados, mas tem natureza confidencial, pelo que, na audição, foram feitas perguntas sobre um assunto incluído num documento que o Parlamento não disponibilizou na sua versão integral - apenas na truncada.

O incumprimento dos regulamentos internos na hora de dar créditos e a ausência de regras na atribuição de bónus aos administradores são algumas das conclusões do documento.

A audição de Florbela Lima é a primeira a realizar-se na segunda comissão de inquérito à gestão da CGD. Esta quarta-feira, segue-se a de Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, e de Vítor Constâncio, seu antecessor, na quinta-feira.