Economia

Empresa que escrutinou CGD recusa participar na atribuição de culpas

26 março 2019 19:06

Florbela Lima

antónio cotrim/lusa

A EY, responsável pela auditoria feita à gestão da Caixa Geral de Depósitos, defende que só analisou as decisões tomadas e as regras existentes. Mais que isso, não foi o seu papel. Mas é um trabalho idêntico que o Governo quer fazer no Novo Banco

26 março 2019 19:06

A auditora da Caixa Geral de Depósitos recusa tirar conclusões do relatório que foi feito as atos de gestão entre 2000 e 2015 para além daquelas que estão inscritas no documento. A EY não faz juízos de valor, não avalia a qualidade das decisões nem aponta para responsabilidades civis ou criminais. Não foi esse o trabalho para a qual foi contratada, garantiu a responsável por esse trabalho, Florbela Lima, na segunda comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público.

Se o Governo, que pediu esta análise à EY, quisesse outro tipo de conclusões, teria de ter pedido para que fosse dado um passo adicional. E esse pedido não foi feito.

"Não era esse o âmbito do nosso trabalho"

Florbela Lima foi a “partner” da auditora que esteve responsável pelo relatório, de 263 páginas, que enumerou incumprimentos das decisões tomadas pela Caixa nos grandes créditos face às regras internas. E, ao longo da audição na segunda comissão parlamentar de inquérito (a primeira), foi-se desvinculando de avaliações feitas sobre as conclusões a que chegou.

“Mais uma vez, não era esse o âmbito do nosso trabalho”. Foi por várias vezes que Florbela Lima se escudou nesta ideia. Não é uma auditoria de informação financeira histórica e não tinha de avaliar a razoabilidade das imparidades. “Não tem [como objetivo] a activação de eventuais responsabilidades civis”. Nem criminais. “É uma análise da conformidade dos atos de gestão face aos normativos”, resumiu.

“Se estivermos a falar de um trabalho em que se pretende apurar responsabilidades criminais, seria diferente”, continuou. Por exemplo, Florbela Lima recusou fazer uma “ligação direta” entre as desconformidades normativas e os créditos com mais perdas. “Esse não foi o âmbito do nosso trabalho. Quanto a isso não nos vamos pronunciar”.

É uma auditoria idêntica à que foi feita na CGD que o Governo quer que seja realizada no Novo Banco, para se debruçar sobre o período em que ainda era Banco Espírito Santo.

Créditos de favor não foram avaliados

E empréstimos de favor, existiram na Caixa? É uma “conclusão” do deputado, atirou a especialista. “Não fez parte do âmbito do nosso trabalho avaliar a qualidade das decisões que foram tomadas”, declarou, mais uma vez.

A descoberta de eventual interferência do Estado – através dos vários governos – é um dos elementos que faz parte dos objectivos da segunda comissão de inquérito.

A especialista da EY também não se quis comprometer, rejeitando fazer comparações entre as decisões tomadas no banco público e as de instituições concorrentes.

A audição de Florbela Lima é a primeira a realizar-se na segunda comissão de inquérito à gestão da CGD. Esta quarta-feira, segue-se a de Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, e de Vítor Constâncio, seu antecessor, na quinta-feira.