Economia

Sonae. Paulo Azevedo despede-se com “ano de sucesso” e recordes

Sonae. Paulo Azevedo despede-se com “ano de sucesso” e recordes
Rui Duarte Silva

Vendas crescem 8,1%, lucros sobem 33,7% e investimento somou 702 milhões de euros

"2018 foi um ano de sucesso para a Sonae, que cresceu significativamente , melhorou rentabilidade, e concluiu uma importante fase do seu desenvolvimento estratégico", diz Ângelo Paupério, copresidente executivo da Sonae SGPS, ao lado de Paulo Azevedo, no comentário ao relatório e contas de 2018, que marca o fim do mandato desta dupla de CEO na presidência executiva do grupo e a passagem de testemunho a Cláudia Azevedo.

O volume de negócios consolidado atingiu os 6 mil milhões de euros (+8,1%), com o contributo positivo de todas as áreas. Foi um desempenho recorde no atual perímetro da empresa. Mas os destaques vão para a Sonae MC, que apresenta um valor recorde de 4,185 mil milhões de euros (+7%) e para a Worten, onde se regista mais um recorde (+7,6%/1,095 mil milhões).

O resultado líquido do grupo passou os 220 milhões de euros, o que significa mais de 60 mil euros por dia. Foi um crescimento de 33,7% em que a Sonae, no comunicado enviado à CMVM destaca a evolução particularmente positiva do resultado direto (58,3%).

No investimento do grupo totalizou 702 milhões de euros, o que equivale a um valor próximo dos dois milhões de euros por dia. É um valor que soma o capex relacionado com a manutenção e expansão da área do retalho, os 256 milhões de euros relacionados com a aquisição de 20% da Sonae Sierra e o capex da Sonae Sierra no quarto trimestre.

O crescimento da empresa “é acompanhado do reforço do compromisso da Sonae com a comunidade, tendo investido 11 milhões de euros em organizações de economia social”, num total de 1,175 instituições, destaca.

No que respeita à rentabilidade, o EBITDA recorrente cresceu 12,2%, para 425 milhões de euros, e o EBITDA total alcançou 483 milhões, impulsionado pelo desempenho operacional e pelos ganhos de capital da venda de ativos da Sonae Siera e da operações de sale and leaseback de ativos da Sonae RP, mas também pelo impacto da joint-venture com a JD/Sprinter.

A Sonae, que passou a incluir a consolidação integral da Sonae Sierra após aumentar a sua participação da empresa de 50% para 70% no final do terceiro trimestre do ano passado, refere que o desempenho do EBITDA foi "a principal razão do aumento de 58%do resultado direto, para 209 milhões de euros" e, consequentemente, para o resultado líquido de 220 milhões de euros atribuído aos acionistas (166 milhões no ano passado).

Em termos de dívida líquida, o ano fechou com este indicador nos 1.317 milhões de euros devido ao impacto da aquisição de 20% da Sonae Sierra (256 milhões de euros). Considerando uma base comparável com o exercício de 2017, a dívida líquida situou-se nos 1.061 milhões de euros, o que representa uma descida de 17,4% ou 223 milhões de euros.

“Excluindo a Sonae Sierra, a Sonae foi capaz de manter o custo médio das linhas de crédito utilizadas num nível baixo, próximo de 1,0%” diz o comunicado. E, adicionalmente, a empresa refinanciou 200 milhões em divida de longo prazo, o que permite assegurar “um perfil de maturidade da dívida confortável, de cerca de 4 anos”.

Ângelo Paupério dividiu a presidência executiva da Sonae com Paulo Azevedo
Rui Duarte Silva

Votos de sucesso para a nova equipa e dividendos

Para Ângelo Paupério, que ao fim da manhã acompanhará Paulo Azevedo na apresentação das contas da empresa aos jornalistas, na sede do grupo, na Maia, 2018 fica marcado “pelo esforço de otimização da estrutura organizativa do grupo, com especial foco no reforço das equipas de gestão, assegurando competências e complementaridades que permitem uma maior autonomia, agilidade e consequente responsabilização, criando condições para melhor responder aos crescentes desafios de mudança dos cenários competitivos”.

Nos seus destaques pessoais sobre o desempenho do grupo, resumidos numa declaração que acompanha a apresentação de resultados da empresa à CMVM, aponta a conclusão da operação de combinação de ativos da SportZone e da JDSprinter, que conduziu à criação da ISRG e a consolidação de “um forte operador ibérico”, o investimento adicional na Sonae Sierra, “aumentando o perfil internacional do grupo e criando condições para acelerar a execução da estratégia de reciclagem de capital e aproveitamento das oportunidades de criação de valor existentes no sector imobiliário num contexto internacional”, e a continuação do investimento em capital e competências nas “avenidas de crescimento” da Sonae, uma expressão que abrange áreas como a saúde e bem-estar, tecnologias de retalho, telecomunicações os novos serviços financeiros.

A nota final é de despedida: “Esta intensa atividade coincidiu com o último ano de mandato do atual Conselho de Administração que integrei enquanto Co-CEO e contribuiu para que a transferência de responsabilidades que agora ocorre se processe com redobrado conforto e confiança, na certeza de que a nossa empresa está preparada para os novos desafios e na profunda convicção e sincero desejo que a nova equipa executiva liderada pela Cláudia Azevedo continue a potenciar o sucesso deste projeto “, comenta o gestor que continuará no grupo, com funções não executivas na administração depois da entrada em funções da nova equipa, em maio, e continuará, também, a acompanhar Paulo Azevedo na gestão da Efanor, a holding da família.

A Sonae vai propor o pagamento de um dividendo de 4,41 cêntimos por ação, o que representa um aumento face à remuneração de 4,2 cêntimos correspondente ao ano passado.

Cláudia Azevedo, a filha mais nova de Belmiro de Azevedo, foi a escolhida para substituir o irmão Paulo Azevedo e Ângelo Paupério na presidência executiva da Sonae
Rui Duarte Silva

A análise por empresa, da Sonae MC à Sonae IM

Por empresas, a análise operacional começa pela Sonae MC, que regista um crescimento recorde na última década, com uma subida de 7% em termos homólogos para 4,158 mil milhões de euros, suportado por aumentos de 2,8% numa base comparável e pela expansão da rede de lojas, sem esquecer o salto de dois dígitos no comércio eletrónico, um segmento de negócio onde a empresa refere mais clientes, mas também o aumento do valor médio por compra.

Assim, o ano fechou na Sonae MC com 1.085 lojas, incluindo as franquias, mais 122 unidades do que um ano antes. Neste número, cabem 3 lojas próprias Continente Modelo e 13 Continente Bom Dia. Já em 2019, abriram mais 3 Continente Bom Dia e um Continente Modelo.

Na Sonae MC, o EBITDA subjacente melhorou 15 milhões de euros, para 228 milhões, as margens permaneceram estáveis e o Natal foi mais uma vez importante para o grupo confirmar a liderança do mercado.

O segmento de Health & Welness permanece “uma das principais áreas de crescimento e, já em 2019, foi concluída a aquisição de 60% da Arenal, empresa espanhola de parafarmácias e perfumarias”, diz o comunicado

Sobre a Worten, a nota é de “crescimento e expansão de lojas físicas e online”, com a passagem da barreira dos mil milhões de euros de vendas, através de crescimentos de 5,6% numa base comparável com 2017 e de dois dígitos no comércio eletrónico. Aqui, a nota especial vai mais uma vez para o desempenho no quarto trimestre do ano e para a contribuição do período da black friday.

A rede de lojas da insígnia atingiu 257 unidades na Península Ibérica (mais 17).

Já a Sonae Sports & Fashion conseguiu crescer em vendas em contraciclo cm o mercado, somando 369 milhões de euros (+ 1,9%).

Na área do desporto, os 9 meses do primeiro ano da joint-venture Iberian Sports Retail Group traduziu-se num volume de negócios de 411 milhões de euros, como EBITDA do grupo nos 22 milhões de euros, “impactado pela conversão de lojas da Sport Zone para o modelo da Sprinter em Espanha”.

A Sonae RP, dedicada ao imobiliário de retalho, faturou 94 milhões de euros, mais 2,1% que em 2017, tendo concretizado duas operações de sale & laseback correspondentes a 56 ativos, a uma entrada de 82,8 milhões de euros de capital e a ganhos de capital de 37 milhões.

Na Sonae IM, o volume de negócios cresceu 22,7%, para os 155 milhões de euros, puxado por todas as empresas do portfólio e pela integração da Nextel. O EBITDA subjacente manteve a tendência positiva, com mais 2 milhões de euros, para somar 6,6 milhões.

Do balanço desta área de negócio, a Sonae destaca “a gestão ativa de portfólio, com desenvolvimentos significativos como a alienação de parte da participação indireta na Outsystems, o segundo unicórnio de origem portuguesa”, a par do reforço em algumas empresas, de investimentos em fase inicial e da aquisição de participações minoritária na Visenze, empresa tecnológica de retalho de Singapura, ou na Excellium, empresa de cibersegurança sediada no Luxemburgo.

Em março deste ano, a Sonae IM chegou a acordo para a venda de 100% da Saphety.

Sonae Sierra continua a reciclar capital

Para a Sonae Sierra, 2018 foi um ano marcado pelo acordo com a Grosvenor para a aquisição de uma participação adicional de 20% e as contas mostram que a empresa continua a registar “um desempenho sólido com um volume de negócios estável em 222 milhões de euros e o EBIT a crescer 2,9 milhões de euros, para os 108 milhões”, diz o comunicado

O resultado direto aumentou, aqui, 3%, para 67 milhões de euros, suportado pelo “forte desempenho do portfólio na Europa e Brasil, conjugado com o crescimento na área dos serviços”,

Da atividade desta empresa no último exercício, a Sonae destaca a reciclagem de capital, “com quase 600 milhões de euros de OMV de ativos vendidos e a aquisição da restante participação do centro comercial ParkLake, na Roménia”, mas também fala de projetos em desenvolvimento, como a reabertura do Fashion City Outlet, na Grécia, avanços na expansão do NorteShopping e no Designer Outlet McArthurGlen, em Málaga, ou até da abertura do primeiro centro comercial na Colômbia, já este ano.

NOS soma 767 mil clientes convergentes

Na NOS, “prossegue crescimento operacional e financeiro”, diz o comunicado, referindo receitas operacionais de 1,576 milhões de euros (+1,1%) e ganhos de 2,8% no EBITDA, para os 592 milhões de euros, muito por força da subida de 4% deste indicador nas telecomunicações.

Com um resultado líquido de 141 milhões de euros (mais 16%), a NOS fechou 2018 com um total de RGUs de 9.605 milhares e 35,1 mil adições líquidas no quarto trimestre. Com um nível de penetração convergente de 50,3%, a NOS registou um crescimento de 6,3% em termos homólogos, atingindo os 767 mil clientes convergentes, com uma média de 5 serviços subscritos por lar.

O grupo Sonae apresentou hoje as suas contas de 2018 na CMVM e vai apresentar os resultados à comunicação social ao fim da manhã

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