Economia

Supervisor tem luz verde para avaliar idoneidade de Tomás Correia. Líder do Montepio acha processo irrazoável

Supervisor tem luz verde para avaliar idoneidade de Tomás Correia. Líder do Montepio acha processo irrazoável
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Já está publicado em Diário da República o diploma que o Governo aprovou ontem e que o Presidente promulgou também ontem: a clarificação da supervisão financeira que a autoridade dos seguros pode fazer ao Montepio. Tomás Correia admite, em entrevista à TSF e Dinheiro Vivo, que este pode ser um diploma direcionado para si

Supervisor tem luz verde para avaliar idoneidade de Tomás Correia. Líder do Montepio acha processo irrazoável

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Foi uma clarificação relâmpago. Passou no Conselho de Ministros esta quinta-feira, poucas horas depois recebeu luz verde de Marcelo Rebelo de Sousa e, um dia depois, já foi publicada em Diário da República. Trata-se da clarificação legislativa em que o Governo pretende deixar claro que é à autoridade de supervisão dos seguros que cabe olhar, no imediato, para a idoneidade dos administradores de associações mutualistas, com destaque para o Montepio Geral, onde o seu presidente, António Tomás Correia, foi condenado num processo do Banco de Portugal.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem, segundo este decreto-lei n.º37/2019 - que dispõe de uma “natureza interpretativa” – poderes para, no imediato, “analisar o sistema de governação, designadamente verificando a adequação e assegurando o registo das pessoas que dirigem efetivamente as associações mutualistas, as fiscalizam ou são responsáveis por funções-chave, incluindo o cumprimento dos requisitos de idoneidade, qualificação profissional, independência, disponibilidade e capacidade, bem como os riscos a que as associações mutualistas estão ou podem vir a estar expostas e a sua capacidade para avaliar esses riscos, por referência às disposições legais, regulamentares e administrativas em vigor para o setor segurador”.

Face ao texto que já constava do Código das Associações Mutualistas, que entrou em vigor em setembro, a novidade aqui é a seguinte parcela do artigo: “designadamente verificando a adequação e assegurando o registo das pessoas que dirigem efetivamente as associações mutualistas, as fiscalizam ou são responsáveis por funções-chave, incluindo o cumprimento dos requisitos de idoneidade, qualificação profissional, independência, disponibilidade e capacidade”.

Este poder está, assim, claramente, na ótica do Governo, nas mãos da ASF no imediato e não apenas em 2030, quando termina o período transitório para a implementação de todas as regras. A mudança levada a cabo pelo Executivo foi feita ao Código das Associações Mutualistas, ainda que o presidente do supervisor tenha sublinhado que havia também limitações aos seus poderes sobre as mutualistas impostos pelo regime jurídico de acesso à atividade seguradora.

A questão foi levantada após a condenação de António Tomás Correia num processo do Banco de Portugal por irregularidades praticadas quando estava à frente da Caixa Económica Montepio Geral, que pertence à associação mutualista, onde agora está exclusivamente.

O Governo, que manteve a tutela das associações mutualistas, e a ASF, que ficou com a supervisão financeira das maiores associações, não se entenderam sobre quem tinha poder para reavaliar a idoneidade de Tomás Correia à luz deste novo facto. Daí que ontem o Conselho de Ministros tenha feito a aprovação de um diploma, que António Costa disse que devia ser feito, admitindo que havia um caso “concreto”: o do presidente da maior mutualista do país. Marcelo Rebelo de Sousa aprovou com rapidez por considerá-lo “essencial”.

Discussão pelo Governo e Parlamento não tem razoabilidade

Antes da publicação da lei, António Tomás Correia deu uma entrevista ao Dinheiro Vivo e à TSF – de que ambos os órgãos só publicaram ainda um excerto – em que defende que tem assistido “a um conjunto de intervenções muito pouco precisas dirigidas exclusivamente a uma pessoa que pode desembocar na publicação de um diploma”. Questionado se a lei é a si direcionada, Tomás Correia, mesmo sem a ter lido, acha que sim. “Não tenho dúvida nenhuma, olhando para o que sai na comunicação social, que parece que sim”.

“A discussão que temos na praça pública, no Parlamento, a partir de membros do governo, tem alguma razoabilidade? Desculpe mas não tem”, continuou.

Esta semana, mesmo sabendo que a ASF poderia vir a reavaliar a sua idoneidade, Tomás Correia avisou os conselheiros que iria permanecer em funções.

"Se fosse de uma seguradora, falaríamos de outra maneira", disse José Almaça, presidente do supervisor, no Parlamento.

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