Economia

Queda do BES: Ricciardi usa declarações de Cavaco e Marcelo para se defender

Queda do BES: Ricciardi usa declarações de Cavaco e Marcelo para se defender

O atual Presidente da República, quando era comentador, exaltou o BES. O anterior fez um "apelo público" sobre a credibilidade do banco. Estas são afirmações públicas sobre a instituição, antes da sua queda. Fazem parte do argumento usado por José Maria Ricciardi para justificar que não havia motivos para acreditar que o banco estava insolvente quando saiu do banco. Por isso, defende, não pode ser acusado de ser um dos culpados pelo fim do banco

Queda do BES: Ricciardi usa declarações de Cavaco e Marcelo para se defender

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Marcelo Rebelo de Sousa é conhecido amigo de Ricardo Salgado, com quem partilhou férias, mas é na defesa do primo com que o ex-banqueiro entrou em guerra, José Maria Ricciardi, que surge o seu nome.

“O atual Presidente da República, então comentador da TVI, dedicou nos programas televisivos a exaltar a competência, diligência, eficácia e credibilidade da liderança financeira do BES, e a estabilidade da instituição”.

A frase é uma das referências deixadas na defesa de José Maria Ricciardi às imputações, feitas no parecer da comissão liquidatária do BES, de que é um dos 13 responsáveis pela insolvência culposa daquele banco. Serve para o antigo líder do BES dizer que, quando abandonou a administração do banco, nada poderia saber sobre as irregularidades na sua gestão, nem na administração de empresas do Grupo Espírito Santo.

Ricciardi saiu da administração executiva do BES a 20 de junho de 2014, depois de meses de tensão com Salgado. Nessa data, o ex-presidente do BES Investimento (agora Haitong Bank) não sabia de irregularidades no banco nem na Espírito Santo International, sociedade do GES de que também era administrador, segundo afirma no documento, consultado pelo Expresso, no tribunal do Comércio de Lisboa.

“Até essa data, não se registavam quaisquer sinais de uma situação de insolvência”, escreve a sua defesa.

O exemplo dado como prova é o aumento de capital que o BES realizou em maio de 2014, em que o banco conseguiu que os investidores subscrevessem mil milhões de euros em ações. “A operação de aumento de capital do BES foi exaltada pelas instituições públicas em Portugal como representativa da solidez e estabilidade financeira do banco”, indica.

Governador e Cavaco também referidos

E é aqui que Ricciardi cita Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto comentador político, mas também o governador do Banco de Portugal e o anterior Presidente da República de então. Todos, diz, exaltaram a situação do BES. “O Banco de Portugal através do seu governador pronunciou-se publicamente sobre o sucesso da operação, chamando a atenção para a solvabilidade, segurança e equilíbrio financeiro do BES. O Presidente da República de então, Prof. Cavaco Silva, fez um apelo público sobre a estabilidade e credibilidade de uma instituição como o BES”.

Ricciardi é um dos 13 ex-administradores que a comissão liquidatária do BES considera terem causado prejuízos de 5,9 mil milhões de euros e, por isso, conduzido à liquidação do banco. O antigo líder do BESI nega as acusações, atacando Salgado e Amílcar Morais Pires: “As operações financeiras que determinaram a insolvência do BES foram tomadas pelo departamento financeiro do BES, que constituía o pelouro financeiro do Dr. Amílcar Pires, que reportava em exclusivo ao Dr. Ricardo Salgado, tendo tais operações sido escamoteadas e escondidas à comissão executiva”.

Da mesma forma, o ex-administrador do BES argumenta que sempre manteve a idoneidade aos olhos do Banco de Portugal depois da resolução o banco.

Ricardo Salgado, Joaquim Goes, Amílcar Morais Pires, João Freixa, Jorge Martins, Stanilas Ribes, Manuel Fernando Espírito Santo, José Manuel Espírito Santo, António Souto, Rui Silveira, Ricardo Abecassis e Pedro Mosqueira do Amaral são os restantes 12 visados, cujos argumentos são explicados na edição do semanário desta semana. Todos recusam quaisquer responsabilidades, com Joaquim Goes a invocar que também perdeu 650 mil euros com papel comercial da ESI. Agora, haverá discussão judicial sobre esta qualificação da insolvente, que segue em paralelo à reclamação de créditos.

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