Economia

Novo Banco: “Há casos em que é preciso ter coragem para resolver”

Venda de malparado e de imóveis começou a ser feita este ano
Venda de malparado e de imóveis começou a ser feita este ano
José carlos Carvalho

Os nomes dos clientes do Novo Banco exigem "coragem" ao banco e ao Fundo de Resolução no seu tratamento.

Novo Banco: “Há casos em que é preciso ter coragem para resolver”

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Coragem: É preciso coragem no Novo Banco e no Fundo de Resolução relativamente a alguns dos créditos tóxicos que estão na carteira do banco e pelos quais aquele veículo, financiado pela banca mas que tem pedido emprestado dinheiro ao Estado, pode ainda ter de pagar 2 mil milhões de euros adicionais.

“Há casos em que é preciso ter coragem para resolver. Eu não sei como vão ser tratados. É preciso tratá-los de frente. Vai ser preciso coragem para tratar alguns destes créditos”, afirmou José Rodrigues de Jesus, o presidente da comissão que foi criada aquando da venda de 75% do Novo Banco à Lone Star. Esta comissão serve para acompanhar o mecanismo de capitalização contingente que cobre ativos pelos quais o fundo americano não quis assumir responsabilidade total e que, portanto, sujeita o Fundo de Resolução a perdas.

“O Novo Banco e o Fundo de Resolução têm alguns casos em que é preciso ter coragem para resolver”, repetiu.

Rodrigues de Jesus, que é também bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, não quis especificar de que créditos estava a falar. Disse que não eram propriamente casos que afetavam o tecido económico e empresarial português. Têm, sim, que ver com “nomes” e com o impacto “em termos mediáticos. “São casos em que é preciso tratar por causa dos nomes”, continuou. Apesar disso, “são casos que não dão mais prejuízos”, contrapôs. Por motivos de sigilo, não quis adiantar mais informações.

O mecanismo foi criado para que o Fundo de Resolução se pudesse responsabilizar por um determinado conjunto de ativos. Esta carteira tóxica tinha, em junho de 2016 (a data de referência para o arranque do mecanismo), um valor bruto de 12,7 mil milhões de euros mas já havia imparidades constituídas, pelo que o seu valor líquido era de 7,9 mil milhões. Em dezembro de 2018, o portefólio tinha uma avaliação bruta de 7,5 mil milhões, com o líquido a deslizar para 4 mil milhões. Aqui estão créditos (52%), fundos de reestruturação (25%), entre outros, como imóveis (23%).

Neste mecanismo, o Fundo de Resolução pode vir a colocar 3,89 mil milhões de euros. Incluindo já este ano, já foram pedidos cerca de 2 mil milhões, ou seja, metade do montante.

Em relação a outros casos, disse que “ainda há imparidades para fazer”. Não quantificou.

Nem tudo é aceite

José Rodrigues de Jesus recusa a ideia de que o Fundo de Resolução aceite todas as propostas da comissão executiva do Novo Banco, António Ramalho relativos ao tratamento a dar aos ativos sob o mecanismo. “O Fundo de Resolução discorda muitas vezes das soluções propostas pelo banco”, assumiu.

Para o presidente da comissão de acompanhamento, se a parte “boa” do Novo Banco – a recorrente – estivesse a dar lucros, não seria preciso pedir dinheiro ao Fundo de Resolução. Haveria forma de cobrir as perdas. Não acontece – gerou resultado antes de impostos de 2 milhões de euros em 2018. “Se parte restante do banco tivesse lucro, não era preciso buscar um cêntimo”, disse.

Athayde Marques sai por incompatibilidade

Esta comissão de acompanhamento é presidida por José Rodrigues de Jesus e conta ainda com José Bracinha Vieira, reformado do Banco de Portugal. Miguel Athayde Marques, ex-presidente da Bolsa de Lisboa e vice-presidente da Galp, saiu recentemente de funções (antes do novo pedido ao Fundo de Resolução), por a sua mulher, Manuela Athayde Marques, ter sido nomeada administradora do Santander.

Segundo disse Rodrigues de Jesus, foram o Banco de Portugal e o Fundo de Resolução que concluíram que havia incompatibilidades na sua continuidade em funções nesta comissão de acompanhamento.

(Notícia corrigida às 11:56: estava erradamente indicado que Rodrigues de Jesus era bastonário da Ordem dos Economistas, quando é da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas)

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