Pelos caminhos do país não faltam campeões
Inovação Recursos humanos qualificados, economia digital e sustentabilidade são alguns dos maiores desafios que as regiões portuguesas enfrentam rumo a um futuro que exige medidas hoje
Inovação Recursos humanos qualificados, economia digital e sustentabilidade são alguns dos maiores desafios que as regiões portuguesas enfrentam rumo a um futuro que exige medidas hoje
Jornalista
Pela primeira vez, Portugal subiu dois anos consecutivos acima da média da zona euro, com um crescimento económico em 2018 que chegou aos 2,1%, de acordo com o Eurostat. As exportações nunca foram tantas (subida de 5,3% em 2018, segundo o INE) e o turismo atingiu no ano que findou o maior número de sempre (12,76 milhões de visitantes, diz também o INE). O que deixa em aberto a questão sobre o que fazer para que esta subida não seja efémera. “O desafio comum às várias regiões, do ponto de vista económico, empresarial e das políticas públicas, é adaptarem-se às exigências e oportunidades da nova economia global.” É a opinião perentória do economista chefe do Novo Banco, Carlos Andrade, para quem “há um conjunto de novas exigências” que pedem estratégias próprias para adequar as características intrínsecas a cada região às oportunidades que estão a aparecer.
Esta é uma situação de transição que exige planeamento a longo prazo e na qual os baluartes económicos e culturais das diferentes regiões procuram desempenhar o seu papel para responder às necessidades mais prementes. “Todas precisam de se adaptar para se afirmarem neste novo contexto competitivo muito mais exigente”, garante Carlos Andrade, com uma certeza: “O que também é comum é que todas têm o potencial para se adaptarem com sucesso a esta nova realidade.”
E que panorama é esse? É um em que as empresas veem-se confrontadas com os “desafios da economia digital e as oportunidades que trazem”, diz Carlos Oliveira, ou em que “para continuarmos a crescer temos de ter recursos humanos qualificados alinhados com as necessidades dos investidores”. O antigo presidente da InvestBraga foi um dos oradores na primeira summit do projeto “Os Nossos Campeões” — cujos eleitos das diferentes regiões e sectores pode conhecer nesta página — e fala do Norte como “o grande motor da economia do país”, uma região “fortemente industrial” que deve ter como objetivo “vender mais caro para pagar melhores salários”.
Desafio que, aliás, na opinião do ex-secretário de Estado do Empreendedorismo, devia ser comum a todo o país, até porque os vencimentos mais baixos de Portugal em comparação com outros não permitem “o desenvolvimento como todos desejamos”. Trata-se de um caso em que o Norte é paradigmático, pois, embora “represente perto de 30% da economia nacional, apresenta o PIB per capita regional mais baixo, com perto de 85% da média nacional”, lembra Carlos Andrade. Ou seja, é preciso um forte investimento na educação e na qualificação da mão de obra, assim como em atividades de investigação que “permitam aumentar a capacidade competitiva das empresas nos mercados nacional e externo”.
Já a importância de conseguir exportar bem não merece discussão, e aqui o Oeste tem sido um caso de sucesso nos últimos anos. Entre 2006 e 2016, a região viu as exportações a partir do distrito de Leiria aumentarem 92%, enquanto o crescimento nacional saldou-se pelos 46%. “Do ponto de vista económico, este é um território que é exemplo na sua proatividade e procura constante pela inovação em múltiplos sectores de atividade económica”, aponta o presidente do Instituto Politécnico de Leiria, Rui Pedrosa, para quem “a inovação associada não é mais do que o reflexo das pessoas que aqui vivem”. Segundo Carlos Andrade, a região “destaca-se pela indústria transformadora, pela floresta e pelo sector alimentar”, além de se distinguir “pela elevada densidade e dinamismo empresarial”. Tal como acontece no resto do país, a retenção de talento é vista como ponto chave, com Rui Pedrosa a não ter dúvidas de que só esta aposta poderá fazer com que a região se afirme “cada vez mais como hub de inovação industrial em Portugal”.
É uma questão que “precisa de um envolvimento muito forte das empresas e do Governo”, assegura Carlos Oliveira, “para que Portugal não seja vítima do seu sucesso” e não tenha as pessoas suficientes, em quantidade e qualidade, para sustentar o crescimento recente da economia. A prioridade deve ser dada a um “investimento estrangeiro ancorado no conhecimento e na inovação” que permita à economia transitar para um modelo de maior sustentabilidade e nível de vida.
Processo que no Algarve está muito virado para os serviços, em função da primordial importância que o turismo tem e que faz com que a região seja “fortemente exportadora”, segundo o economista chefe do Novo Banco. E que tem ainda “potencial agrícola, com algumas produções, como a laranja, com forte presença no mercado”.
O Algarve cresceu 3,5% acima da média nacional em 2017, só que é a região continental com menor peso absoluto para a economia, abaixo dos 5%, o que mostra que ainda há um caminho a percorrer no que toca a garantir melhores condições de desenvolvimento. “É preciso uma maior diversificação sectorial”, garante Carlos Andrade, além de “aumentar o valor dos serviços de turismo e adequá-los às novas exigências dos consumidores”. Inverter a “tendência demográfica adversa” fará também toda a diferença. Pontos em comum a todas as regiões e que exigem uma “boa estratégia para o próximo quadro de fundos comunitários”, num processo que envolva todos os atores e que, pelo menos no Norte, “ainda não está a ser feito”, na opinião de Carlos Oliveira. Tudo para, no caso de eclodir “uma nova crise, estarmos preparados”.
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