Algarve e turismo. Turismo e Algarve. Em Portugal é quase impossível dizer um sem o outro. Com a pequena ressalva de que o distrito não é só sol, praia e golfe. Também é agricultura, cultura ou desporto. E quer cada vez mais diversificar a economia e garantir uma base sustentável de futuro que permita fazer face aos desafios económicos e dê outras oportunidades.
Desejo manifestado por todos os presentes na Summit do Algarve, que ainda assim fizeram questão de deixar bem claro que isto não significa que existe turismo a mais na região. Antes pelo contrário. “É preciso trabalhar para criar as condições ideais por forma a atingir o potencial máximo”, garante Carlos Leal. O diretor-geral do Pine Cliffs acredita que a região “reúne todas as condições para explorar, e cada vez de forma mais eficaz, o turismo de saúde e bem-estar”, por exemplo, campo onde considera haver tudo “para sermos considerados um destino de excelência”. A emergência de Porto e Lisboa como destinos turísticos também trouxe mais competição interna, que obriga o Algarve a destacar-se das demais regiões em campos que nem sempre foram óbvios. “É uma região maravilhosa, com potencial para ser uma segunda Côte d’Azur e servir a um turismo mais exigente e individual, que valorize esta paisagem e os seus produtos endógenos”, assegura Kurt Gillig, diretor do Vila Vita Parc. O austríaco fala de um amor à primeira vista — sem contar com a dificuldade inicial com a língua — e para garantir o futuro pede uma “valorização dos recursos humanos”.
“Temos um património natural e cultural riquíssimo que deve ser aproveitado a favor da economia local”, na opinião de Joana Schenker, para quem “potenciar a nossa riqueza não passa pela massificação em nenhuma área, mas muito mais pela proteção da nossa natureza e cultura”. Campeã do mundo de bodyboard, Joana tem uma escola na vila de Sagres e desde cedo acreditou que a modalidade haveria de ser o seu caminho. “Um campeão faz-se com muito gosto pelo que se faz. Exige muito trabalho e dedicação”, lembrou. Sempre com orgulho algarvio, como faz questão de dizer Diogo Piçarra. Partindo das suas experiências como cantor à procura de uma carreira em Faro, Diogo não esconde “que o trabalho tem de ser a dobrar quando se está tão longe do centro e da indústria musical”, o que o enche de motivação na procura por deixar a sua “marca na música nacional e internacional”. Com a certeza de ser uma “região perfeita para viver”, onde “a paz e a calma reinam”.
Sabor ímpar
E onde não faltam exemplos da visão que permite antecipar tendências. Foi o que aconteceu com Pedro Lavia, fundador e presidente do Zoomarine, argentino que veio para a zona de Albufeira “há 30 anos” para criar um dos empreendimentos de lazer mais emblemáticos da região. “Já havia parques com escorregas, mas nada temático, com animais”, recordou. Uma “ideia diferente” que permitiu dar uma valência inovadora para a época, numa matriz de diversificação que agora todos tentam seguir. A economia procura alternativas à sazonalidade, que, apesar já não ser um fator tão importante como foi, continua a fazer-se sentir.
“Ninguém escolhe um destino turístico se ele não for seguro”, garante Richard Marques. O comandante dos Bombeiros Voluntários de Portimão leva o tema muito a sério, sobretudo porque ele e os seus homens estão “habitualmente no final da linha” e têm de “resolver o problema com todos os desafios inerentes ao ordenamento do território”. Valorização ambiental que também passa pela valorização dos recursos naturais do Algarve.
“Somos uma região privilegiada com um clima que permite produzir um sem-número de produtos com um sabor ímpar, como é o caso dos citrinos”, afirma o sócio-gerente da Frusoal, Pedro Madeira. Os frutos vermelhos e o abacate também estão em crescimento, pelo seu potencial de exportação, e o responsável defende que para melhorar é preciso que “o poder político crie novas reservas de água”.
Por outro lado, produtos frescos da região, como o atum, por exemplo, são pouco utilizados, o que entristece a chefe Noélia, proprietária do epónimo restaurante Noélia & Jerónimo, sobretudo com um fluxo turístico que não dá mostras de parar. “Não estamos preparados para receber tanta gente no verão”, confessa. Paulo Águas não tem dúvidas de que há vontade de “ter mais turismo e condições para o intensificar” e acredita que a região está a desenvolver os aspetos essenciais para estar “potenciada para a indústria 4.0”. Até porque “temos de ter soluções inovadoras que os outros não tenham”. Seja ao sol ou dentro da empresa.
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