Economia

Inteligência Artificial é a quarta revolução industrial

Inteligência Artificial é a quarta revolução industrial
NUNO FOX

Regulação, gestão e retenção de talento, e a concorrência das BigTech e FinTech são os grandes desafios da banca nos próximos anos

Fátima Ferrão

Em Portugal, a banca está a dar os primeiros passos na introdução de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) para otimizar os seus processos internos, mas também para tornar mais eficiente a relação com o cliente. Uma evolução essencial para responder às exigências do mercado e dos consumidores, mas que traz consigo novos desafios e aponta um longo caminho a percorrer. No entanto, alerta Jorge Catalão, da Microsoft Portugal, “a banca tem que ter pessoas capazes de lidar com os novos desafios”. Ou seja, a requalificação dos recursos humanos na maior parte das instituições bancárias terá que ser uma realidade em breve, bem como a atração de novos talentos especializados.

Jorge Catalão falava durante a conferência Ativar o Futuro, 'Impacto da Inteligência Artificial no Setor da Banca', que decorreu esta manhã no edifício Impresa, em Paço de Arcos. O especialista da Microsoft alertava também para outros desafios que estarão no topo das agendas no sector bancário, e que obrigarão as administrações a uma agilidade nem sempre associada à banca tradicional. Regulação, a ameaça das BigTech (Facebook, Google, Apple, Amazon, etc...) e a definição do papel das FinTech na cadeia de valor são as principais.

Os alertas deixados pelo responsável da Microsoft foram tema do debate que se seguiu, moderado pela jornalista da Sic Notícias, Sara Pinto, e reconhecidos como prioritários por todos os convidados. Presentes no painel estiveram os responsáveis dos principais bancos nacionais: Maria João Carioca, Membro da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos; João Dias, CDO do Novo Banco; Jorge Baião, CIO do Crédito Agrícola; Paulo Figueiredo, CEO do Banco BIG; Nuno Fórneas, Diretor do Banco CTT; e Roberto Prematerra, Diretor de IT do Eurobic.

A transformação digital – que inclui também a introdução de ferramentas de IA na banca – está em curso em todas as instituições presentes e continua a ser uma prioridade. No entanto, os convidados destacam que os principais objetivos desta mudança passam por otimizar os processos internos para que as organizações estejam preparadas para lidar com as novas ferramentas digitais. Maior agilidade, mais eficiência e crescente competitividade são os resultados que todos procuram, antes de avançar para grandes investimentos em tecnologias como a IA. “Manter o cliente presente e garantir um impacto positivo nos resultados são o ponto de partida”, diz Maria João Carioca. Sobre a IA, a administradora é mais cautelosa: “o grande desafio é perceber onde e quando os robôs devem ser utilizados”.

João Dias destaca, a este propósito, a quantidade de oportunidades de melhoria fruto da transformação digital. No entanto, refere, “Estamos a fazer o nosso caminho, ao nosso ritmo, para sermos um banco digital by default. A IA terá aqui uma grande importância, mas a evolução tem que ser feita de forma cuidada”. Opinião partilhada por Jorge Baião que gere um instituição financeira com um modelo de negócio distinto. “O Crédito Agrícola integra 80 bancos independentes pelo que a transformação digital é, neste modelo, um desafio ainda mais arrojado”. O CIO reconhece que, para acompanhar a concorrência, o banco que dirige tem que avançar com uma velocidade mais elevada, mas que terá que encontrar o seu próprio ritmo.

De raíz digital, o Banco Big partilha, ainda assim, dos desafios dos seus concorrentes. A robotização na instituição começou há dois anos, com a automatização de tarefas que permitem libertar recursos para tarefas mais criativas, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. No entanto, defende Paulo Figueiredo, “A IA é a quarta revolução industrial, na qual ainda estamos apenas a dar os primeiros passos”.

Já Nuno Fórneas prefere falar de inteligência aumentada e não artificial. “É uma tecnologia ainda pouco madura, que traz valor, mas que ainda é preciso adequar e explorar”.

Ir ao encontro do cliente e perceber quais as suas necessidades foi, no Eurobic, o ponto de partida para a transformação digital. “A tecnologia é o meio para a mudança, mas não se consegue fazer nada sem as pessoas”, acredita Roberto Prematerra. O diretor de IT lembra a importância de formar e/ou reconverter os recursos para dar resposta à mudança, assim como de adequar a regulação à nova realidade potenciada pela tecnologia. Estes serão, na sua opinião, os próximos passos obrigatórios para uma transformação digital bem sucedida que possa, num futuro próximo, contar com a IA como parte fundamental dos processos operacionais.

Em relação aos novos players no mercado financeiro – como as BigTech e as FinTech – os participantes no debate são unânimes. Eles existem, têm o seu espaço, vieram criar novas dinâmicas mas, acima de tudo, a banca tradicional tem que saber ajustar-se e dar resposta a estes e outros desafios de futuro.

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