Economia

“Globalização e comércio livre estão sob ataque”

Frank-Jürgen Richter CEO da Horasis Global Meeting
Frank-Jürgen Richter CEO da Horasis Global Meeting
FOTO TIAGO MIRANDA

Frank-Jürgen Richter CEO da Horasis Global Meeting

“Globalização e comércio livre estão sob ataque”

Cristina Peres

Jornalista de Internacional

As palavras-chave no Google associam-no a globalização, diálogo global, mercados emergentes e fóruns empresariais. Frank-Jürgen Richter tem dedicado as últimas décadas a construir plataformas de diálogo que incluam os atores globais do presente e inspirem a direção a tomar no futuro. De 6 a 9 de abril, Cascais acolhe a edição 2019 do Horasis Global Meeting. Vai ser um encontro de centenas de empresários, governantes, académicos, intelectuais e jornalistas oriundos de mais de 80 países que vão participar na “defesa da globalização” contra “nacionalismo, populismo e protecionismo”.

O primeiro-ministro australiano fez, em janeiro, um périplo inédito pelos países vizinhos do Pacífico em resposta ao investimento chinês na região, que passou de zero a mil milhões em tempo recorde. Que lugar tem a China neste encontro?
Está no centro da nossa agenda. Além do Global Meeting, temos todos os anos uma edição do India Meeting, do Asia Meeting e do China Meeting (realizado em Portugal em 2009 e 2015), que no próximo mês de outubro acontecerá pela primeira vez em Las Vegas. Vamos ver como corre, no meio desta guerra comercial entre Pequim e Washington. Quanto à Austrália, é verdade que aqueles países estão a receber muito investimento chinês. Há quem diga que é um novo tipo de colonização, não só ali mas na Ásia Central... Ainda acredito que a iniciativa chinesa seja benéfica, porque o investimento ajuda sempre e não há mais ninguém a investir.

É como em África?
Sim, África é um continente chinês. É bom que haja novos poderes a surgir. Porque há de ser sempre o mesmo poder a dirigir o mundo? Antes da América houve outros, até Portugal, há séculos, o Império Romano... Agora, é a vez da China. Temos de encontrar forma de lidar com Pequim, de uma forma direta e positiva.

É um alerta para o que o mundo ocidental não tem conseguido fazer?
Pense em Portugal: as maiores empresas, como a EDP, têm investimento chinês. A Galp vendeu os seus bens na América Latina a uma petrolífera chinesa, há investimentos em imobiliário em Portugal, país alvo de investimentos chineses, assim como muitos outros países. Defendo que deve haver condições semelhantes para toda a gente. Se os chineses estão a investir aqui, deveria haver mais investimentos ocidentais lá. Instituições como a Organização Internacional do Trabalho, o Banco Mundial e outras deveriam criar uma plataforma onde a China pudesse falar com as outras nações. O Horasis é, de certa forma, uma dessas plataformas onde podemos tentar dar forma ao futuro em conjunto.

Quem são os convidados que considera essenciais para concretizá-lo?
Temos três chefes de Estado e 50 ministros confirmados, mais 800 CEO para um debate comum que tenta entender para onde se dirige o mundo. Não temos apresentações formais, queremos ter um verdadeiro diálogo.

Como avalia os resultados de cada encontro?
É difícil fazê-lo em termos de números, mas é possível calcular os investimentos que entram em Portugal. Há a ligação que se faz com o país e com Cascais. O encontro permite retratar Portugal e atrair investidores, o que está a acontecer.

E como aborda o presente?
Temos sempre um tema para avaliar o presente e desta vez é a globalização, a luta contra o populismo, o protecionismo e o nacionalismo. Um encontro como o nosso pode formar a opinião pública. Convidámos os media internacionais em força e a nossa estratégia é alcançar o público, partilhar com o mundo o que se passa aqui. O encontro pode também servir de plataforma de reconciliação onde pessoas de campos diferentes se encontram e falam.

Prevê temas atuais como o #MeToo, a cadeia global da alimentação, a inteligência artificial e posições morais. Como falar de globalização positiva num momento em que tem tão má imprensa?
Os conceitos de globalização voluntária e comércio livre estão mesmo sob ataque. A globalização veio para ficar, tê-la-emos sempre, desde os tempos da Rota da Seda, em que as caravanas iam de oriente a ocidente, levando bens, pensamento e ideias. Mas há que reposicionar a globalização porque só as elites estão a beneficiar dela. Isso tem de parar, as elites têm de dar-se conta da evolução real do mundo e das questões que afetam os cidadãos. Têm de partilhar! Há que criar oportunidades para todos e daí incluirmos temas como estes, diversidade, igualdade. Para o ano 50% dos nossos oradores serão mulheres, e a paridade é apenas um dos temas da globalização.

Estamos à beira das eleições europeias. Qual é a sua intuição?
A seguir ao ‘Brexit’ é uma das datas mais importantes do primeiro semestre de 2019. É a oportunidade de a direita populista fazer uma grande demonstração de união... É perigoso, porque os populistas não vão perder a oportunidade de votar em eleições que têm sempre uma forte abstenção.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: CPeres@expresso.impresa.pt

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