Prioridade: eficiência energética

Fátima Ferrão
Na Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, o frio é presença assídua no inverno serrano, assim como o calor abrasador faz parte dos dias de verão naquela cidade. No campus, salas de aula e gabinetes de trabalho ocupam antigas fábricas de têxteis e de outras indústrias — algumas das quais remontam à época do marquês de Pombal —, e são um autêntico desafio de sustentabilidade e de eficiência energética. “A UBI é provavelmente a universidade mais fria do país que para aquecer no inverno ou arrefecer no verão custa dinheiro”, afirmou, em jeito de brincadeira, António Carreto Fidalgo, reitor da instituição, durante a conferência que antecedeu a entrega dos Prémios REN. A solução passa por recorrer aos fundos comunitários. “A UBI tem, neste momento um milhão de euros destinados a projetos de eficiência energética”, acrescenta o reitor. Habituada à transformação, e com tradição na inovação, a Covilhã “renovou-se com o saber e transformou-se para receber a universidade”, salienta o reitor que lembra o engenho local, já em pleno século XVIII, pronto a dar resposta ao desafio energético da época. “Na Real Fábrica dos Panos do Marquês de Pombal, a água da ribeira era usada como fonte de energia, essencial para esta e outras indústrias”.
De volta ao século XXI, António Carreto Fidalgo, destaca o empenho da instituição em dar resposta aos desafios energéticos, nomeadamente através do desenvolvimento de projetos que nascem nos laboratórios do campus, e que depois seguem até ao meio empresarial para serem aplicados no ‘mundo real’. “O departamento de eletromecânica tem projetos, no valor de cinco milhões, na área de smart grids”, exemplifica. Outro exemplo destacado pelo reitor é o projeto Urban_Air, desenvolvido em parceria com Espanha. “Os parceiros procuram desenvolver uma rede de transporte sustentável tendo por base bicicletas elétricas”. Simultaneamente, as bicicletas estão equipadas com sensores que medem, em tempo real, a qualidade do ar da cidade, permitindo avaliar o impacto da solução na qualidade do ar. A carga das baterias das bicicletas é realizada com a energia recolhida por painéis solares, e o projeto conta com quatro locais de parqueamento para as bicicletas, dispersos pela cidade da Covilhã.
Liderar na investigação
Mais a sul, na Universidade de Aveiro, a investigação e desenvolvimento (I&D) é uma área prioritária. “Estamos a trabalhar para ser uma das principais instituições de I&D na Europa”, afirma Eduardo Anselmo, vice-reitor, que acrescenta: “Esta investigação na academia é também uma mais-valia que passa para o tecido económico e social local”. Numa região em que a indústria transformadora tem um grande peso, que se insere num sector altamente exportador, e onde o nível tecnológico médio está acima da média nacional, Eduardo Anselmo acredita que estão reunidas as condições para cumprir a missão definida pela instituição. “Os empresários da região reconhecem essa necessidade”, salienta.
Apesar de apostar numa investigação pluridisciplinar, a energia e sustentabilidade são temas prioritários na Universidade de Aveiro. Um dos projetos mais recentes, desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Mecânica, em parceria com uma empresa local, é um sistema de captação solar térmica instalado em paredes, telhados ou fachadas de edifícios que visa garantir todas as necessidades térmicas, de forma limpa e sustentável. O Senergy Force apresenta ganhos energéticos significativos em relação aos atuais sistemas de captação de energia solar, permitindo reduzir o impacto ambiental e a fatura energética na ordem dos 20%.
A pressão crescente para evoluir de uma economia baseada em combustíveis fósseis para uma economia descarbonizada está a dinamizar a investigação na área da energia. “Essa transição requer novas maneiras de abordar problemas em áreas tão distintas como o planeamento urbano, sistemas de transporte, comportamento térmico de edifícios, cidades e redes de energia inteligentes, produção de energia, etc...”, diz Pedro Carvalho, professor associado do Instituto Superior Técnico (IST). A investigação em energia é, por isso, realizada nas suas diferentes vertentes em quase todos os departamentos do IST, tendo a escola lançado iniciativas interdepartamentais para congregar investigadores dos vários institutos seus associados “com o objetivo de identificar, desenvolver e promover competências de investigação existentes de forma a posicionar o IST como instituição de referência no domínio da energia”, como explica o professor.
No que respeita à energia elétrica, o INESC-ID em Lisboa tem focado a sua atividade na procura de soluções técnicas para a integração das energias renováveis. Entre outros projetos, a instituição desenvolveu novos conversores eletromecânicos adaptados à produção de energia com fontes renováveis (novas máquinas e controladores), e novas tecnologias para ligar essa produção à rede elétrica (novas interfaces eletrónicas). “O objetivo passa por desenvolver novas formas de operar e de planear as redes num contexto mais descentralizado e com recurso a novas tecnologias de comunicação e informação (redes inteligentes)”, reforça Pedro Carvalho.
Este gerador poupa até 50% de combustível
Os geradores a combustão continuam a ser usados para gerar energia em estaleiros de obras, estações de telecomunicações remotas ou em países menos desenvolvidos mas continuam a ser ineficientes. Um investigador do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa está a tentar mudar isso.
O software que faltava à REN
Os 17459 relatórios de avarias das linhas aéreas de Alta Tensão da REN resultaram na criação de uma base de dados que não existia. A empresa poderá usar estes “Índices de Estado” para fazer uma gestão mais eficiente dos seus activos.
Portugal é um dos países com maior pobrezaenergética da Europa
A conclusão é dos rankings da União Europeia. No Center for Environmental and Sustainability Research da Faculdade de Ciência e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova há um grupo de investigadores a desenvolver Índices de Vulnerabilidade à Pobreza Energética que permitem estudar o fenómeno de região em região.
Será este o prédio do futuro?
Uma fachada construída em conjunto pela Universidade de Aveiro e pela T&T Multieléctrica, que, além de aquecer a água, resolve todas as necessidades de climatização de um edifício.
Este software é uma revolução na manutenção dos motores elétricos
Um aluno da Universidade de Coimbra está a tentar tornar a manutenção dos motores elétricos mais eficiente, rápida e barata. Redesenhou um software já antigo e adaptou-o à realidade atual.
O Solar Boat vai dar à costa
Há um barco no Instituto Superior Técnico inteiramente movido a energia solar. Chama-se Técnico Solar Boat e foi desenhado, construído e posto à prova pelos alunos.
Estes karts foram da combustão ao elétrico
O Kartódromo do Montijo pediu ajuda ao ISEL para substituir a antiga frota de karts para crianças por uma nova frota 100% elétrica. O resultado foi tão positivo que o grupo Barraqueiro Transportes quer fazer o mesmo.
As baterias do futuro vão ter de ser mais resistentes
Num futuro não muito longínquo, as baterias dos carros elétricos terão de ser mais resistentes ao processo de carga e descarga para poderem estar ligadas a redes elétricas inteligentes.
Água e eletricidade de mãos dadas
Este projeto da Universidade da Beira Interior — UBI, em conjunto com a ICovi, usa um mecanismo natural para armazenar a energia elétrica produzida em excesso nas horas de menos consumo. O mecanismo, também utilizado em barragens, terá um protótipo aberto ao público instalado no Jardim Botânico da Covilhã.
Um laser que capta energia solar
E se, em vez de usarmos painéis solares, pudéssemos ter um laser no espaço a captar a energia do Sol e a enviá-la para a Terra? É a proposta dos investigadores da FCT Nova.
Textos originalmente publicados no Expresso de 17 de novembro
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt