A região que exporta ao dobro do ritmo de Portugal

Economia: com exportações que cresceram acima da média do país e figuras industriais e culturais com impacto nacional, Leiria e o Oeste mostram-se preparados para o futuro
Economia: com exportações que cresceram acima da média do país e figuras industriais e culturais com impacto nacional, Leiria e o Oeste mostram-se preparados para o futuro
Jornalista
Poderão não ser os primeiros sítios que surgem na ponta da língua quando a discussão se centra nas regiões com economia mais dinâmica ou com um panorama cultural diversificado e ativo, mas o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos faz com que Leiria e o Oeste entrem nessa conversa sem ter de pedir licença a ninguém.
A região foi o palco e o grande foco da terceira cimeira do projeto “Os Nossos Campeões”, que junta SIC Notícias, Novo Banco e Expresso para dar a conhecer as personalidades que estão a ajudar a construir o Portugal do futuro e que representam o que de melhor o país tem para oferecer. “Esta é uma região que tem hoje uma grande dinâmica económica, baixo desemprego, segura, com bons serviços de saúde e educação, incluindo o ensino superior”, garante o presidente do Instituto Politécnico de Leiria. Para Rui Pedrosa, falamos de “um território heterogéneo, com diversidade ímpar e com características únicas no país”, e que “tem na inovação um dos seus maiores ativos”. O académico destaca “os moldes e plásticos, a floresta, o vidro, o sector agroalimentar, a hortofruticultura, a economia do mar, a cerâmica, a extração e transformação de pedra ornamental e o turismo” como as indústrias mais relevantes e cuja exploração reflete “uma atividade económica diversa, com elevada capacidade exportadora e com crescimentos da produtividade suportados pelo conhecimento”.
Uma economia virada para a exportação e cuja trajetória ascendente está refletida nos números (como pode ver nos gráficos incluídos nesta página). Entre 2006 e 2016, por exemplo, as exportações nacionais cresceram em média 46%, enquanto no distrito de Leiria esse crescimento atingiu 92%, ou seja, o dobro do que se registou no conjunto do país. É um atestado à capacidade dos empresários da região, que souberam resistir à pior altura da crise, saindo mais fortes do período de reajustamento e com as armas necessárias para fazer frente aos principais desafios competitivos. Ainda assim, é preciso mais apoio para que se possa dar o próximo passo e ainda mais expressão ao crescimento do Oeste. “Temos uma grande necessidade de iniciativas de investimento com dimensão, apoiadas e sustentadas, que possam cumprir o potencial existente”, atira o administrador da Riberalves, Bernardo Alves, que parte da sua experiência para afirmar que, “muitas vezes, os grandes obstáculos que se colocam às empresas familiares estão relacionados com a sua capacidade de inovação”.
Inovação que tem sido precisamente uma das forças do tecido empresarial da região para competir num campo cada vez mais preenchido. Só que a desconfiança também está sempre ao virar da esquina, e Gonçalo Pereira não esquece “o preconceito existente na nossa sociedade e a falta de apoio financeiro no início de carreira”. O gerente da MVP Gin e criador do primeiro gin do Ribatejo fala mesmo no orgulho de conseguir o que “os outros acham impossível e só ao alcance de uma pequena franja social”.
“Leiria, Médio Tejo e Oeste são caracterizadas pelo facto de as suas empresas terem sido criadas por empreendedores locais”, diz Jorge Santos. O diretor-geral da Vipex e presidente da NERLEI (Associação Empresarial da Região de Leiria) garante que “encontramos empresas de excelência em sectores diversificados” e expressa confiança nas perspetivas económicas da sua zona, ao mesmo tempo que deixa um conselho literário: “Há dois livros que me têm servido de inspiração. Um é ‘Quem Mexeu no Meu Queijo?’, um livro simples de Spencer Johnson, mas com uma mensagem muito forte, onde me inspiro para nunca me acomodar. Outro que me inspira nas atitudes e comportamento é ‘Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes’, de Stephen Covey.”
“Madbaça”
Mas nem só de indústria vive a região, que tem também na cultura e no desporto algumas das suas maiores bandeiras. Exemplo disto são os The Gift, sob a égide da fundadora e vocalista Sónia Tavares. “O Oeste é muito rico em talento”, acredita ela, enquanto fala da sua Alcobaça natal como um ninho de criatividade musical que quase lhe podia merecer a alcunha de “Madbaça” (em referência ao apelido de Manchester como “Madchester”, local de nascimento de muitas bandas britânicas conhecidas). Com as devidas diferenças, claro. Mas que a enchem de confiança no futuro e com desejo de uma maior “intercomunicação entre cidades e localidades da região que permitam uma rotação contínua de pessoas e público”.
Para Tiago Pires, o primeiro surfista português a participar no World Surf Championship, são projetos como “Os Nossos Campeões” que mostram que “somos um país cheio de gente talentosa” e que é hora de “aproveitarmos as sinergias”. E não deixa de fazer um apelo para “cuidarmos da costa, que tem dado muitos frutos”. Já na opinião do ilusionista Luís de Matos, que confessa não ser “capaz de acabar um dia sem refletir sobre o que nesse dia” aprendeu, uma coisa é clara: “Estamos preparados para mostrar o nosso melhor ao mundo.”
Chegou à sua nova morada o quadro “Natureza-Morta com Cesto de Folares, Flores e Pano Bordado”, que acaba finalmente na terra que deu o nome artístico à pintora que o criou. A obra de Josefa de Óbidos foi cedida pelo Novo Banco à Câmara de Óbidos, para que esta o albergasse no museu municipal da vila da Região Oeste. Esta pintura — que tem a particularidade de ostentar a assinatura da artista somente como ‘Óbidos’ — vai enriquecer um acervo que celebra o percurso e obra de uma das mais importantes pintoras do século XVIII, uma das poucas mulheres a alcançar lugar de destaque na cena artística nacional, num panorama que era dominado por homens e onde marcou a diferença por integrar e interpretar, com uma linguagem plástica muito própria, o espírito e a estética do barroco. A cedência segue-se à que foi feita ao Museu Nacional Grão Vasco, no âmbito da Summit do Oeste do projeto “Os Nossos Campeões”, e integra-se na política de colocação de obras de arte da coleção do Novo Banco em instituições museológicas espalhadas por todo o país. Com a entrega desta pintura aumentam para 19 as obras que, desde janeiro, foram já cedidas pela instituição bancária e colocadas em exposição permanente em 11 museus nacionais, em localidades como Castelo Branco, Guarda, Guimarães, Caldas da Rainha, Figueiró dos Vinhos, Lisboa, Viseu, Torres Novas e Óbidos.
Textos originalmente publicados no Expresso de 17 de novembro de 2018
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