Economia

Comporta 31 convites e uma só oferta

Gesfimo espera escriturar venda da Comporta até final deste ano
Gesfimo espera escriturar venda da Comporta até final deste ano
FOTO JOÃO CARLOS SANTOS

Consórcio de Paula Amorim e Claude Berda pode vir a pagar menos do que ofereceu inicialmente

Comporta 31 convites e uma só oferta

Miguel Prado

Editor de Economia

A segunda tentativa de venda dos ativos imobiliários da Herdade da Comporta no decurso deste ano culminou, a 23 de outubro, com a assinatura de um contrato-promessa com o consórcio da Amorim Luxury (de Paula Amorim) e da Vanguard Properties (de Claude Berda), mas este esteve longe de ser um processo concorrido. A Gesfimo, gestora do fundo da Comporta, convidou 31 investidores a apresentar propostas... mas só um, o consórcio de Amorim e Berda, fez uma oferta.

O processo de venda foi coordenado pela Deloitte, que já emitiu um relatório sobre a operação. No documento, a que o Expresso teve acesso, é possível ler que “foi recebida apenas uma proposta, para a aquisição da totalidade dos ativos incluídos no perímetro da transação”. Essa oferta veio do consórcio de Paula Amorim e Claude Berda, que já tinha este ano disputado a Comporta enfrentando a concorrência do francês Louis-Albert de Broglie e do consórcio da Oakvest, Portugália e Sabina.

Após a entrega dessa proposta (a 20 de setembro), a Gesfimo teve 11 reuniões com Amorim e Berda, nos escritórios da Deloitte, até 19 de outubro. A Gesfimo tentou melhorar o preço oferecido pelo consórcio, mas, reconhece a Deloitte, “com a limitação de a negocia­ção decorrer com um único proponente”.

Os termos do contrato-promessa de 23 de outubro serão discutidos pelos participantes do fundo da Comporta numa assembleia geral marcada para 27 de novembro. A Gesfimo espera realizar a escritura de venda até 31 de dezembro. Formalmente, a escritura tem de ser feita até 5 de abril de 2019. A Gesfimo e os participantes do fundo têm de resolver a situação da Comporta com a maior brevidade possível, pois a cada mês que passa a dívida do fundo à Caixa Geral de Depósitos cresce quase um milhão de euros.

A oferta agora nas mãos da Gesfimo propõe um valor global para aquisição dos ativos, cabendo ao fundo usar o encaixe para pagar as suas dívidas e reembolsar os participantes do fundo. No processo de venda do início deste ano, os dois consórcios mais bem colocados (de um lado Amorim e Berda e do outro Oakvest, Portugália e Sabina) propunham assumir a dívida bancária associada aos ativos imobiliários e ainda entregar uma contrapartida financeira ao fundo.

Ao que o Expresso apurou, o contrato firmado com Amorim e Berda tem um valor global de €157,8 milhões, ligeiramente acima dos €156 milhões oferecidos no processo de venda que foi anulado no final de julho. Mas o valor final a receber pelo fundo imobiliário Herdade da Comporta pode ser inferior. Isto porque Paula Amorim e Claude Berda exigiram a criação de uma conta escrow (uma conta-caução) para enfrentar possíveis contingências, que no limite podem diminuir o preço a pagar em €13,7 milhões.

Fonte oficial da Oakvest, Portugália e Sabina disse ao Expresso que o consórcio não esteve entre as 31 entidades convidadas pela Gesfimo, pois não aceitou o compromisso de renunciar a eventuais ações judiciais pelo falhanço do anterior processo de venda. “O consórcio está a analisar se vai ou não avançar com uma ação judicial, com o objetivo de fazer valer os seus direitos adquiridos no anterior processo”, explicou a mesma fonte, classificando como “altamente questionáveis” as motivações que os dois maiores participantes do fundo (Rioforte e Novo Banco) invocaram na assembleia de 27 de julho para lançar nova venda.

A aliança entre a Oakvest, Portugália e Sabina alega que o preço que ofereceu era “substancialmente acima (30%) da segunda melhor proposta” e considera “absurdo” a assembleia de participantes ter feito cair o processo anterior alegando desconhecimento do processo organizado pela Gesfimo. O Expresso questionou a Gesfimo sobre este último processo de venda, mas não obteve respostas em tempo útil.

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