"Nos Estados Unidos, o maior mercado de sapatos do mundo, compram-se 2,5 mil milhões de pares por ano ou 7,5 pares por pessoa. Se Portugal der atenção a este potencial e trabalhar para conquistar aqui uma fatia de 1% teria de imediato um ano recorde de vendas" . A conta rápida é de Matt Priest, presidente da associação de distribuidores e retalhistas dos EUA, certo de que "há um futuro grande e brilhante " ao alcance da indústria portuguesa de calçado no seu país.
É verdade que 95% dos sapatos que andam nos pés dos americanos vêm da China, da Índia, do Vietname, mas Matt, que conhece o seu mercado, diz que o consumo é diversificado e a
indústria portuguesa tem pés para andar por aqui. "Queremos sapatos de alta qualidade e Portugal faz isso", afirma.
Nos últimos seis meses, as compras de sapatos em Portugal caíram 17%? Sim, "mas é preciso pensar numa trajetória de médio prazo. Isto não se resume à meia dúzia de meses", acrescenta numa conversa rápida na varanda do Standard Hotel High Line, onde a indústria do calçado se apresentou a Nova Iorque, segunda- feira, num evento de moda que juntou, também, vestuário e ourivesaria nacionais.
Por trás, as 29 marcas lusas que vestiram 18 modelos dos pés à cabeça, num total de 38 looks, tiveram o Rio Hudson e New Jersey como cenário. Pela frente, na assistência, estavam cerca de 300 pessoas, muitas das quais possíveis compradores. Tiveram também, a dominar o ambiente, um artigo sobre "o ciclo virtuoso de crescimento" da economia nacional publicado no New York Times um dia antes e que foi citado em quase todas as conversas.
"Há uma imagem do país que também se reflete no trabalho do sector e da moda portuguesa", sublinha o empresário Luis Onofre, presidente da APPICAPS, a associação portuguesa dos industriais de calçado, que organizou o evento em parceria com a ANIVEC ( Associação Nacional dos Industriais do Vestuário e Confeção ) e a AORP (Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal) e acredita na mais valia de momentos como este para construir uma rede de contactos. Do lado da ANIVEC, a mensagem é similar, com César Araujo, empresário e presidente da estrutura associativa a salientar as vantagens de "trabalhar em conjunto para ganhar o palco americano".
No seu sector, as exportações para os EUA, avaliadas em 97 milhões de euros, até estão a crescer 6% e, diz o empresário, "há negócios que estão a ser feitos na MRKET", a feira que decorre esta semana em Nova Iorque e onde um stand de Portugal apresenta, também , as marcas lusas que estiveram no evento.
Um exemplo? A jovem Daily Day já está a embalar mercadoria em Portugal para entregar numa loja do Soho depois de um contacto na MRKET.
Na ourivesaria, Fátima Santos, diretora geral da AORP, refere, também, que este trabalho de parceria com outros sectores facilita, também, o processo de aprendizagem das empresas de uma fileira que só nos últimos cinco anos começou a trabalhar a sério a internacionalização, exportou 70 milhões de euros em 2016 e 100 milhões em 2017 e garante 25% deste valor já nos EUA.
Ana Lehman, secretária de Estado da Indústria, em Nova Iorque a apoiar a indústria portuguesa, concorda que a fileira da moda tem muito a ganhar no trabalho em conjunto e, nos EUA, está a mostrar que Portugal "tem uma indústria moderna que inova na tradição" e está pronta a conquistar o mercado mais sofisticado e exigente do mundo.
Um dos sinais, será o facto de João Maia, diretor geral da APICCAPS, ter sido convidado a apresentar a indústria portuguesa de calçado, esta quarta-feira, na Bolsa de Nova Iorqe, numa conferência da Associação de distribuidores e retalhistas dos EUA, onde apresentou Portugal como "um parceiro fiável", com competências para responder rapidamente a encomendas, numa oferta de qualidade que incorpora as tendências de moda europeias.
Alguns importadores já reconhecem tudo isto na moda lusa. "Portugal desenvolve bem o produto. Tem a melhor mão de obra do mundo e uma ótima relação qualidade preço" , afirma Delemar Rodrigues, já habituado a comprar no país. "São muito flexíveis e na relação qualidade preço são também muito bons", acrescenta Kristina Stuckhenbrock, da marca Robert Talbott. "A construção dos sapatos é excelente", diz Jason Philips, da marca canadiana Brother Frere, que também veio à MRKET com sapatos made in Portugal.
E a política protecionista de Trump pode prejudicar esta ambição de crescimento no país? Provavelmente não, até porque os EUA não têm exatamente uma indústria de calçado, fazem apenas calçado militar, repetem os empresários portugueses.