Economia

Impostos diferidos na Associação do Montepio 'tapam' prejuízo de 221 milhões de euros

Impostos diferidos na Associação do Montepio 'tapam' prejuízo de 221 milhões de euros
Luis Barra

A Associação Mutualista Montepio Geral registou em 2017 um prejuízo de cerca de 221 milhões de prejuízos antes de impostos. Porque deixou de estar isenta de IRC e contabilizar 808,6 milhões de euros como imposto diferido. Assim transformou prejuízos em lucros de 587,5 milhões

Impostos diferidos na Associação do Montepio 'tapam' prejuízo de 221 milhões de euros

Isabel Vicente

Jornalista

Nas contas da dona do banco Montepio relativas a 2017, e parcialmente noticiadas pela associação liderada por Tomás Correia na segunda-feira, os resultados líquidos da associação ascenderam a 587,5 milhões de euros. Porém, este resultado gordo teria sido um prejuízo de 221 milhões de euros caso não houvesse uma mudança de regime fiscal que entretanto se concretizou.

A transformação de prejuízos em lucros teve origem no montante de impostos diferidos contabilizados pela associação que ascendeu a 808,6 milhões de euros. O qual só foi possível porque a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) teve luz verde da Autoridade Tributária na semana passada para começar a pagar IRC no decurso de um pedido que fez para alterar o seu regime fiscal. Ou seja, para deixar de estar isenta de pagamento de IRC. Fê-lo na sequência de uma alteração à politica de remunerações para os administradores da AMMG que passam a poder ter uma remuneração variável em função dos resultados, o que não acontecia até agora.

A AT analisou o pedido da associação e considerou válidos os argumentos dados. Até à data a AMMG esteve sempre isenta de pagamento de IRC.

Aumento de proveitos não compensou custos

O resultado operacional espelhado nas contas da AMMG caiu 41% de 15,3 milhões de euros para 9 milhões em 2017 e a margem da atividade associativa passou de 122 milhões de euros negativos em 2016 para 373,8 milhões de euros em 2017. Ou seja, apesar das receitas (quotas dos associados e capitais recebidos pelos mesmos) terem crescido 48% para 711 milhões de euros, os custos com associados (reembolsos antecipados e pagamento no vencimento de produtos mutualistas) registaram um aumento superior 79,9% disparando para 1000 milhões de euros, quando em 2016 foram de 608 milhões de euros.

As imparidades e provisões líquidas de reposições e anulações passaram de oito milhões de euros em 2016 para 229 milhões de euros em 2017. Para isso contribuiu o reforço de imparidades adicionais de cerca de 148 milhões de euros para o banco do Montepio, a Caixa Económica Montepio Geral, e 80 milhões para a Montepio Seguros.

Recorde-se que a associação tem um acordo de venda da maioria de capital da Montepio Seguros com os chinesse da CEFC, o qual aguarda ainda luz verde do regulador dos seguros. Quanto ao banco, espera-se a entrada de novos acionistas, entre os quais a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a qual deverá apenas entrar com uma participação simbólica, quando inicialmente se falava numa posição até 10%. As condições do negócio, segundo noticiou o Expresso há umas semanas, alteraram-se. E tudo terá a ver com a avaliação do banco. A Associação avalia o banco Montepio em 1,88 mil milhões nas contas apresentadas ontem ao final do dia.

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