Economia

Mobilidade não é produtiva sem regras

A mobilidade tem de ser mental e funcional, concluiu o painel  de empresários presentes  na conferência “Mobilidade  e Produtividade”, que decorreu na sede da Impresa
A mobilidade tem de ser mental e funcional, concluiu o painel de empresários presentes na conferência “Mobilidade e Produtividade”, que decorreu na sede da Impresa
Nuno Fox

Colaboração: Estamos a assistir a uma mudança estrutural no mundo do trabalho. Mas a disciplina tem de continuar a existir

Fátima Ferrão

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A realidade dos negócios está a obrigar as empresas a abrir as portas a uma relação mais próxima entre colaboradores e clientes, parceiros e fornecedores, reforçando laços dentro de ecossistemas funcionais, com vista a garantir maior produtividade e crescimento. A mobilidade e as ferramentas tecnológicas que ajudam a materializar o conceito são o meio essencial para atingir esta finalidade. “Mobilidade, produtividade e dados são as três coisas que estão a provocar a grande transformação do mundo do trabalho”, resume Rui Paiva, CEO da Wedo Technologies, um dos convidados da discussão desta temática no segundo dos seis debates do projeto “Ativar o Futuro”, organizado pelo Expresso e pela Microsoft.

Moderado por Pedro Santos Guerreiro, diretor do Expresso, o debate contou com um painel de convidados com experiências empresariais díspares em diferentes sectores. Maria João Carioca, membro do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Miguel Stilwell de Andrade, presidente das Soluções Comerciais da EDP, Rui Miguel Nabeiro, administrador do Grupo Nabeiro-Delta Cafés, e Tiago Silva Abade, chefe de gabinete da secretária de Estado da Justiça, partilharam experiências e apontaram tendências sobre o que é hoje o mundo empresarial e as transformações que o futuro trará.

Muitas das profissões que atualmente conhecemos deixarão de existir ou serão obsoletas dentro de 10 anos. Outras surgirão, entretanto, fruto das mudanças que estão a ocorrer, de forma cada vez mais rápida, nas empresas. Por exemplo, em 2020, revela um estudo da Microsoft, 72,3% da força de trabalho serão compostos por mobile workers e 40% dos colaboradores das empresas serão freelancers e, portanto, móveis. No entanto, “esta realidade apenas será possível quando as empresas mudarem a sua cultura organizacional”, alerta Rui Paiva. “Não basta dar toda a mobilidade, é preciso garantir que se cumprem regras”, acrescenta. Na Wedo Technologies, exemplifica, investe-se “muito tempo na definição de regras de produtividade para implementar a melhor solução”.

“O nosso cliente é o cidadão”
Para Maria João Carioca, “a mobilidade é mais mental do que física”. Na CGD, a forma como se trabalha está a mudar, mas, diz a administradora, é preciso fazer a transição com transparência, para que todos percebam que a mudança é positiva e que podem beneficiar com ela. “A tecnologia tem de trabalhar em torno das zonas de conforto das pessoas”, reforça.

Esta opinião é partilhada por Miguel Stilwell de Andrade: “São as tecnologias que ajudam a melhorar a forma de trabalhar e a aumentar a produtividade.” Na EDP, diz, “as equipas estão cada vez mais dispersas e, por isso, recorrem a ferramentas de realidade virtual e de realidade aumentada para resolver problemas técnicos à distância”. Além deste cenário, que quase parece de ficção, é comum haver reuniões por videoconferência ou Skype, com impacto direto na produtividade e nos custos.
“Sempre tivemos de ser móveis e produtivos, o que está a mudar são as comunicações, que facilitam o trabalho”, afirma Rui Miguel Nabeiro. Os comerciais da Delta, que antes não dispensavam o papel para as encomendas, têm agora tudo o que necessitam num tablet e já não têm de ir diariamente ao escritório. A informação é atualizada em tempo real, e os alertas de encomendas para o armazém seguem também por via digital.

Ao contrário do que possa pensar-se, há funcionários públicos a trabalhar à distância. Quem o diz é Tiago Silva Abade, que garante que esta é já uma realidade no Ministério da Justiça. “Cerca de 90% dos magistrados dispõem de ferramentas para trabalhar fora dos tribunais, com processos automáticos e acesso a toda a informação de que necessitam e com a segurança exigida.” A colaboração entre equipas dispersas pelo país também já acontece. “Há equipas de oficiais de justiça a trabalhar em conjunto na organização de informação que se encontra em várias localizações distintas”, salienta. “E com muito bons resultados”, reforça.

Quem ganha com esta modernização é o cidadão, que, sendo exigente, “obriga o Estado a dar resposta”, refere ainda o chefe de gabinete. Pelo seu lado, o Ministério da Justiça compromete-se a aplicar da melhor forma o orçamento de 1,3 mil milhões de euros de que dispõe.

As cinco conclusões do debate

Adotar uma cultura 
digital transversal
No mundo do trabalho convencional, há regras estanques e standards 
para todos. No ecossistema digital, 
a personalização é uma realidade: 
há horários flexíveis, diferentes 
estilos de trabalho, aceita-se 
o erro, cada membro da equipa 
é valorizado, o trabalho é feito 
em rede e as hierarquias tendem 
a esbater-se. Mas não podem 
faltar regras.

Maximizar a produtividade
dos colaboradores
A tecnologia disponibiliza 
as ferramentas necessárias à criação de ambientes de trabalho móveis. 
No entanto, ainda é preciso ultrapassar barreiras à sua utilização, sobretudo pelas gerações mais antigas. Para fazê-lo, é essencial clarificar necessidade, utilidade 
e benefício em nome 
da transparência.

Aumentar a colaboração 
e a partilha entre equipas
As ferramentas de comunicação 
em tempo real são fundamentais 
para o trabalho colaborativo, 
em equipas que estarão 
cada vez mais dispersas geograficamente, para maximizar 
a produtividade.

Melhorar a experiência do cliente
Um cliente mais informado 
e exigente obriga a inverter 
o processo de criação de produtos 
e serviços. Antecipar necessidades 
e reações para dar uma resposta 
mais eficaz às expectativas 
é obrigatório. Personalização 
garante melhor experiência.

Estado ao serviço do cidadão
Relacionamento com os serviços públicos poderá ser quase 100% digital num futuro próximo. 
Portugal está bem posicionado 
face aos parceiros europeus. 
Facilitar a vida ao cidadão 
é o objetivo, mas ainda falta comunicação e divulgação 
sobre serviços disponíveis.

Os grandes dados em cima da mesa

Depois da cibersegurança 
e da mobilidade, os grandes dados. Na próxima etapa 
de “Ativar o Futuro”, projeto conjunto do Expresso 
e da Microsoft, vamos debater 
a importância dos big data 
na forma como decidimos, gerimos e partilhamos conhecimento. Acompanhe 
em março nas páginas do Expresso. Depois da inteligência de dados, seguem-se temas 
como o apoio ao consumidor, 
a gestão financeira e a captação de talento. Serão mais quatro mesas-redondas nos próximos quatro meses. Para saber mais sobre “Ativar o Futuro” 
reveja todos os debates 
no nosso site.

Textos originalmente publicados no Expresso de 24 de fevereiro de 2017

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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