PME impreparadas para ciberataques

Digital: Atraso na adaptação de medidas de segurança e de privacidade dos dados
Digital: Atraso na adaptação de medidas de segurança e de privacidade dos dados
Fátima Ferrão
A informação é hoje o ativo mais importante para as empresas, e, por isso, a segurança e a privacidade dos dados são temas incontornáveis para os gestores. Ainda assim, e segundo o estudo realizado pelo Expresso e a GfK, a quatro meses da entrada em vigor do novo Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), 11% dos inquiridos confessam desconhecer o tema, não tendo realizado qualquer investimento nesse sentido.
O RGPD, que entra em vigor a 25 de maio, vem substituir a atual diretiva e lei de proteção de dados pessoais e terá impacto em todas as organizações. As mudanças podem ser mais ou menos significativas, dependendo da dimensão e do tipo de tratamento de dados pessoais.
A competitividade será, no entanto, a vertente mais afetada se as empresas não estiverem preparadas: “Vão perder oportunidades de negócio e credibilidade perante clientes e fornecedores”, explica Gabriel Coimbra, diretor-geral da IDC Portugal. A falta de conformidade com o RGPD põe em causa a privacidade e a segurança das relações empresariais e coloca as empresas numa situação de fragilidade. Em última análise, explica Pedro Veiga, coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança, as empresas “podem incorrer em prejuízos diversos para o negócio, danos reputacionais e coimas”.
Apesar de a percentagem de empresas que, segundo o estudo, desconhecem as novas regras de proteção de dados ser preocupante, 53% dos gestores inquiridos afirmam estar a tomar medidas, não garantindo, contudo, ter os sistemas a postos no final de maio. Se se somar aos 53% os 12% que ainda não se adaptaram e os 11% que não conhecem as regras, há uma boa maioria de empresas que não estão preparadas, isto sem contar com os 5% que não responderam. Pelo contrário, 19% dos responsáveis pelas PME nacionais garantem conhecer bem o assunto e estarem prontos a enfrentar a nova realidade. É o caso do Grupo Hoteleiro Vila Galé. O administrador, Gonçalo Rebelo de Almeida, afirma que o grupo iniciou a preparação no verão de 2017 e que faltam apenas alguns ajustes para estar a 100%. Mas, admite, “tratou-se de uma revisão e formalização de processos que já existiam, uma vez que a indústria hoteleira exige um conjunto de normas de segurança”. Situação semelhante é a dos combustíveis Prio. Segundo Pedro Morais Leitão, presidente da Comissão Executiva, a empresa tem um projeto em curso, mas este não terá grande impacto no seu dia a dia.
Os ataques informáticos são outra preocupação e uma prioridade para 59% das organizações que garantem estar defendidas e a investir cada vez mais nesta área. “É um jogo do gato e do rato que nos fica cada vez mais caro”, assume Pedro Morais Leitão. Ainda assim, 31% dos inquiridos asseguram conhecer os riscos mas não estarem preparados, enquanto 8% confessam saber pouco sobre o tema e estarem convictos de que estas situações só acontecem nas grandes empresas. Mas, como diz o responsável da Prio, “quem disser que nunca foi atacado é porque não sabe que foi”.
84%
das empresas
com mais preocupações
de segurança são da indústria transformadora
(34%), grossista
(30%) e retalho (20%),
segundo o ranking
1000 Maiores PME
59%
dos gestores
consideram-se informados e preparados para ataques informáticos
Qual é a informação mais crítica?
A identificação da informação crítica para uma organização é o primeiro passo para garantir a sua proteção e segurança, assim como dos ativos mais valiosos. Determinar o valor da informação e identificar quais os atores que dela retiram maior benefício permite dar-lhe prioridade e garantir uma eficaz e customizada proteção
Onde está a informação?
A informação crítica está em todo o lado:
• pessoas
• dispositivos eletrónicos diversos
• aplicações
• cloud
• servidores
• data centers
• redes empresariais
Quem acede e qual é o fluxo da informação?
• Mais de 90% das falhas de segurança resultam de erros humanos. Determinar com rigor quem acede à informação crítica reduz riscos de intrusão
• Acesso remoto a informação crítica é cada vez mais frequente, aumentando os riscos e exigindo mais investimento em cibersegurança
• Ameaças internas são as mais difíceis de identificar e resolver
• Especialistas aconselham abordagem que envolva vários membros de topo da empresa
• Fluxos de informação cada vez mais elevados dificultam proteção
Como se protege a informação?
• Manter os sistemas atualizados e protegidos com firewalls e outros sistemas de bloqueio é fundamental
• Implementar segurança em várias frentes, incluindo sistemas de identificação, registo de identidade, credenciais de acesso, aplicações e dispositivos de rede
• Recorrer a soluções de Software as a Service (SaaS) e armazenamento em cloud
• Introduzir sistemas de monitorização de dados e redes que detetem qualquer ação pouco usual
• Formação da equipa é essencial para evitar falhas de segurança (incentivar o uso de dispositivos pessoais, desligados da empresa, para uso de redes sociais e navegação)
Como garantir a segurança das máquinas?
• Encriptação de dispositivos e conformidade com as regras básicas das TI ajudam a reduzir falhas
• Bloqueio e quarentena de dispositivos sempre que for necessário identificar, confirmar ou remover uma ameaça
• Tirar partido de tecnologias como a biométrica e a inteligência artificial, combinadas com blockchain, para criar identificações únicas
e menos falíveis
O segundo dos seis eventos de “Ativar o Futuro” será dedicado à Mobilidade & Produtividade. Realiza-se no dia 22 de fevereiro, na sede da Impresa, e o objetivo é analisar os novos desafios das organizações, que são cada vez mais forçadas a trabalhar com equipas em mobilidade, à distância e em vários continentes, mantendo uma interação constante com os consumidores e com a gestão. No projeto trataremos também de temas como big data, gestão financeira e apoio ao consumidor, entre outros, depois da abordagem à cibersegurança. Em paralelo aos eventos liderados por gestores, será realizado um inquérito a PME sobre cada tema.
Textos originalmente publicados no Expresso de 3 de fevereiro de 2018
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