O julgamento da Operação Fizz, que começou dia 22 e que tem como arguidos o ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente, o ex-procurador Orlando Figueira, o advogado Paulo Blanco e o empresário Armindo Pires, teve esta quarta-feira algumas revelações.
Paulo Blanco fez questão de deslindar o mistério: Ricky Martin é o procurador Ricardo Matos, a Loira é a advogada Ana Bruno e o Meia Branca o procurador Rosário Teixeira.
O advogado que representava o Estado angolano em Portugal disse querer esclarecer o tribunal para que não houvesse dúvidas sobre se Orlando Figueira estava a esconder alguma coisa. E fez questão de ir em sua defesa dizendo que este estava provavelmente a defender a sua classe ao não revelar a identidade das mesmas.
O mais interessante é mesmo em que contexto apareciam e estas estavam relacionadas com um outro processo a que se chamou AngolaGate e nas notas lê-se o seguinte: "Álvaro Sobrinho está envolvido com a Loira e com Ricky Martin num processo de lavagem do Meia Branca".
Aliás, para justificar a descodificação, Paulo Blanco começou por dizer que toda a gente tem alcunhas. E exemplificou: "A mim alguns chamam-me Espanhol ou Pepe. As alcunhas são um fenómeno natural".
O ex-procurador Orlando Figueira podia ter esclarecido o assunto quando falou em tribunal mas não quis identificar a quem correspondiam as alcunhas que tinha no seu bloco. Porém, depois de Paulo Blanco o dizer, confirmou-as. E, por isso, levou uma advertência do juiz Alfredo Costa, que preside ao coletivo de juízes. "Você está aqui a responder por crimes gravíssimos e fez disto um segredo dos deuses.... Estas situações em tribunal não abonam a favor de quem as produz.". Orlando Figueira fez o mea culpa e explicou que aquelas notas diziam respeito a um megaprocesso de fraude ao Estado angolano e de possíveis "conexões".
No julgamento, que já vai na segunda semana - na qual está a ser ouvido o segundo arguido, Paulo Blanco -, estão em causa crimes de corrupção ativa do ex-vice-presidente Manuel Vicente em coautoria com os arguidos Paulo Blanco e Armindo Pires, branqueamento de capitais em coautoria com Paulo Blanco, Armindo Pires e Orlando Figueira e falsificação de documento com os mesmos arguidos.
Manuel Vicente era à data dos factos presidente da Sonangol, Orlando Figueira era à data procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e tinha em mãos vários processos ligados a Angola e o advogado Paulo Blanco representava o Estado angolano em Portugal fazendo a assistência a processos com este ligados.
Manuel Vicente, cuja defesa pediu a separação do seu processo neste julgamento, é acusado de ter corrompido Orlando Figueira para que o então procurador arquivasse dois inquéritos, um deles relativo à compra de um apartamento de luxo no Estoril.
Paulo Blanco, que esta quarta-feira desvendou as alcunhas de dois procuradores e uma advogada, diz ter sido arrolado para este processo porque "do ponto de vista material Manuel Vicente foi considerado assunto de Estado e por isso fui consultado como advogado do Estado angolano em Portugal para saber como deveriam tratar desta matéria". É que entretanto Manuel Vicente foi vice-presidente de Eduardo dos Santos. Blanco afirma que "o assunto assumiu proporções de Estado e fui mandatado para ser seu representante neste assunto". Refere repetidamente que Orlando Figueira não lhe prestou qualquer informação relativamente a este processo e que "é igualmente falso que exista qualquer acordo" entre ambos. Paulo Blanco disse também novamente que "não conhece pessoalmente Manuel Vicente (ex-vice-presidente de Angola e ex-presidente da Sonangol). Só conheço o engenheiro Armindo Pires (amigo de Manuel Vicente) e só o conheci a 29 de novembro de 2011".
O julgamento, que está a decorrer no Campus da Justiça, em Lisboa, prossegue esta quinta-feira com as declarações de Paulo Blanco.
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