Economia

EDP Renováveis perde 300 milhões em bolsa após vitória de Trump

EDP Renováveis perde 300 milhões em bolsa após vitória de Trump
D.R.

Nas eleições presidenciais nos Estados Unidos venceu o candidato que considerou “um desastre” a política de subsídios às energias limpas. A EDP Renováveis, com uma forte presença no país, viu a sua cotação afundar mais de 5% esta quarta-feira

EDP Renováveis perde 300 milhões em bolsa após vitória de Trump

Miguel Prado

Editor de Economia

Com 45% da sua capacidade de produção instalada em território norte-americano, a EDP Renováveis tornou-se uma das empresas da bolsa portuguesa mais penalizadas pela vitória eleitoral de Donald Trump, cuja campanha assumiu a vontade de dar prioridade à aposta nos combustíveis fósseis.

Só no regresso à negociação esta quarta-feira, os títulos da EDP Renováveis afundaram 4,7%, caindo dos 6,45 euros no fecho da sessão de terça para 6,15 euros por ação. Durante a manhã os títulos acentuaram a queda e às 11h a sua cotação estava nos 6,11 euros. Ou seja, na ressaca da noite eleitoral norte-americana, a capitalização bolsista da empresa portuguesa encolheu cerca de 300 milhões de euros.

Más notícias para quem investiu na dispersão em bolsa da empresa, comprando as ações a 8 euros cada, um valor que até hoje a EDP Renováveis nunca recuperou, apesar das perspetivas de crescimento que reiteradamente a administração vem apresentando. A verdade é que o resultado eleitoral norte-americano não augura nada de bom para as empresas de energias limpas.

Os planos de médio prazo da EDP Renováveis assentam numa forte aposta no mercado norte-americano. Embora a empresa tenha recentemente diversificado a sua estratégia, alargando os projetos (sobretudo eólicos mas também solares) ao Canadá e ao México, o foco da companhia continua nos Estados Unidos.

Já com 4.412 megawatts (MW) de potência instalada na América do Norte, a EDP Renováveis espera crescer nos próximos anos instalando globalmente uma média de 700 MW de nova capacidade por ano, dos quais 65% estarão concentrados na América do Norte (aqui se incluindo EUA, Canadá e México).

Numa recente apresentação a investidores, a empresa presidida por João Manso Neto indicava que dos 1.800 MW que tenciona construir na América do Norte até 2020 cerca de 55% estão já garantidos. Mas os restantes 45% estavam apenas identificados ou em negociação.

Os créditos fiscais sobre a produção de energias limpas nos EUA atualmente em vigor dão à EDP Renováveis uma janela de quatro anos: a empresa conseguirá beneficiar integralmente dos incentivos fiscais vigentes para toda a capacidade que consiga pôr em operação até 2020. Mas para lá desse horizonte o valor dos incentivos diminui. E sob a liderança de Donald Trump como será?

Trump contra subsídios às renováveis

A abordagem de Trump ao sector energético tem sido focada na garantia da independência energética dos Estados Unidos, mas recorrendo essencialmente a um reforço da aposta nos combustíveis fósseis e contrariando a intenção da democrata Hillary Clinton de travar o uso de carvão, uma das mais baratas fontes de energia. A visão de Donald Trump é a de que os incentivos dados às energias limpas foram “um desastre”.

A EDP Renováveis não é, contudo, a única empresa de energias limpas a ser penalizada em bolsa pelo resultado eleitoral norte-americano. De acordo com a agência Reuters, o índice S&P Global Clean Energy seguia esta manhã a cair 2,9%.
A dinamarquesa Vestas, um dos maiores fabricantes mundiais de turbinas eólicas, leva uma desvalorização de 6,5%. A espanhola Gamesa, outro grande produtor mundial de aerogeradores, viu as suas ações recuar 2,4% esta manhã. A também espanhola Iberdrola, um dos maiores investidores em parques eólicos nos Estados Unidos, cai mais de 3% em bolsa.

No caso da EDP Renováveis, não são só os projetos de investimento em solo norte-americano que podem ficar em causa. A estratégia da empresa nos últimos anos tem assentado num plano de rotação de ativos que consiste, na prática, na venda a investidores institucionais de participações minoritárias (até 49%) nos parques eólicos já em operação.

Uma parte substancial dessas alienações tem ocorrido nos EUA, com a EDP Renováveis a captar o interesse de terceiros para comprarem uma parte dos seus parques eólicos norte-americanos. Essa tem sido uma forma de a empresa se financiar, ganhando liquidez para reinvestir em novos projetos, sem necessidade de agravar o seu endividamento.

Se o resultado eleitoral nos EUA abalar igualmente a confiança destes fundos no sector das energias limpas, é a própria estratégia de financiamento da EDP Renováveis que poderá ser questionada.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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