Ongoing em colapso iminente
BCP deverá avançar com execução de garantias. Bens pessoais de Nuno Vasconcellos em causa
BCP deverá avançar com execução de garantias. Bens pessoais de Nuno Vasconcellos em causa
Diretor
O grupo de Nuno Vasconcellos, a Ongoing, está a desfazer-se em Portugal. Apertada por uma dívida gigantesca à banca e sem os dividendos da ex-Portugal Telecom para ir pagando os juros e amortizar o empréstimo, a Ongoing está num beco sem saída.
A execução da dívida por parte do BCP, o seu grande credor, está por um fio. E, ao que o Expresso sabe, a Ongoing está a equacionar avançar com um Processo Especial de Revitalização (PER), um projeto de recuperação de devedores em situação económica difícil, em que é apoiado pelo Novo Banco, onde a empresa da família de Nuno Vasconcellos tem ainda empréstimos para pagar. A decisão é consensual e tudo aponta para que o BCP esteja recetivo ao PER, entendido como uma forma de adiar um problema que dificilmente será resolvido. O BCP está, porém, decidido a exercer as garantias que tem, com PER ou sem PER, apurou o Expresso.
As dívidas ao BCP são elevadas (superiores a €230 milhões). E, o que é complicado para o dono da Ongoing, existem garantias pessoais exigidas a Nuno Vanconcellos, que deverão agora ser acionadas e que rondarão os €8 milhões. Há muito no mercado que se fala nesta possibilidade, mas tanto o banco liderado por Nuno Amado como Nuno Vasconcellos têm negado ou preferido não comentar a hipótese de execução por parte do BCP.
Aconteça o que acontecer com o PER, a verdade é que deixou de haver futuro para a Ongoing em Portugal, um grupo que ganhou visibilidade quando, em 2006, a Sonae lançou uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a PT, e Nuno Vasconcellos apareceu como aliado do BES e de Ricardo Salgado. A Ongoing, criada em 2004 para agregar os interesses da família Rocha dos Santos, tem o “Diário Económico” à venda (ver texto em baixo) e em Portugal pouco restará depois disso. Fica com a Heidrick & Struggles (H&S), onde é um dos grandes acionistas, mas até na consultora que lançou em Portugal com Rafael Mora, e que já foi uma das maiores do país, os tempos já foram de maior prosperidade.
A H&S viu agora sair da empresa dois dos seus grandes rostos e pilares, a sócia fundadora Mariana Branquinho da Fonseca e Pedro Rocha de Matos. A Ongoing é ainda detentora de 7,5% da Pharol, antiga PT e hoje apenas proprietária de pouco mais de 27% da brasileira Oi e da dívida de €897 milhões da falida Rioforte. Mas será grande parte desta participação que o BCP se prepara para executar.
Para trás ficam as desavenças com Francisco Pinto Balsemão, em 2009, por causa da tentativa de controlo da Impresa (dona do Expresso e da SIC), a polémica contratação do ex-espião Jorge Silva Carvalho e de Branquinho da Fonseca, o então deputado do PSD que não sabia o que era a Ongoing.
Se o BCP executar a dívida da Ongoing, como se prevê, tornar-se-á um dos grandes acionistas da Pharol, onde já tem quase 2%, posição que antes era de Joaquim Oliveira e que caiu no colo do banco por falta de pagamento.
Nuno Vasconcellos até há pouco tempo estava em negação face à possibilidade de colapso do grupo em Portugal, mas fontes próximas do empresário dizem que agora já terá percebido que a situação se tornou insustentável. Rafael Mora, braço direito de Vasconcellos e um dos estrategas do grupo, tê-lo-á percebido antes. Saiu da Ongoing — onde tem uma participação inferior a 2% —, em fevereiro, assegurando que o fazia de forma pacífica.
Vasconcellos está a focar-se no Brasil, onde deposita esperanças, apesar de recentemente se ter visto obrigado a fechar a edição em papel do “Brasil Econômico”. Mantém nesse país a Ejesa, detentora de dois jornais publicados no Rio de Janeiro, o “Dia” e o “Meia Hora”. E a Realtime, empresa de tecnologias de informação, especializada em produção e desenvolvimento de páginas de internet. É lá que passa agora a maior parte do seu tempo.
Artigo publicado na edição do Expresso de 8 de agosto de 2015
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