Já houve tempos em que os conselheiros assistiram a discussões entre um Presidente da República e um seu antecessor e foi isso que aconteceu em 1987, quando Mário Soares e Ramalho Eanes se embrulharam num aceso confronto verbal â mesa do Conselho de Estado sobre convocar ou não eleições antecipadas. O PRD - que Eanes ajudara a construir a partir de Belém - tinha apresentado uma moção de censura ao Governo minoritário de Cavaco Silva e Mário Soares chamou os conselheiros. Eanes não queria eleições (o PRD valia 18%) mas Soares cheirou a oportunidade de repor o xadrez partidário e contou com o apoio da maioria dos conselheiros. "Um erro político", disse-lhe Eanes, que chegou a ameaçar não cumprir o dever de sigilo. Mas Soares ganhou. Cavaco também: foi a votos e teve a sua primeira maioria absoluta. O PRD mirrou.
No dia em que as Nações Unidas decidiram adiar a votação de uma resolução pela libertação de Timor Leste, Mário Soares reuniu-se em Lisboa com os conselheiros de Estado e com Timor na agenda. Durão Barroso era o ministro dos Negócios Estrangeiros e foi convidado a participar na reunião que, segundo rezam os jornais da época, espelhou dúvidas sobre qual o caminho que a diplomacia portuguesa deveria seguir. Eleições na Indonésia tinham reforçado a ala dura contra os mais moderados no que toca a Timor e a questão que se instalou em Belém foi entre começar a negociar com a Indonésia ou continuar a luta pela independência do território. No final, ninguém falou, mas prevaleceu que o caminho era a luta. Foi dura mas valeu a pena: Timor passou a Estado independente em 2002.
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