Jörg Stiehler sofreu com a economia da escassez, o medo da perseguição política e a educação militar nos colégios na sua juventude na RDA, pelo que queria pedir um visto de saída ao completar 18 anos de idade. Mas não foi isso que aconteceu. Em outubro de 1989, Jörg Stiehler e a mãe fugiram para a Alemanha via Hungria, tinha ele 16 anos. A viagem começou a 16 de outubro e terminou 36 horas mais tarde na República Federal da Alemanha. Alguns anos após a queda do Muro de Berlim, regressou a Dresden, concluiu o liceu, estudou design e trabalha hoje como designer gráfico em Hamburgo.
Como os alemães de leste não podiam viajar para países ocidentais era impossível comparar a vida que se vivia na República Democrática Alemã? O que mais receava no dia a dia?
Eu nunca tive a possibilidade de viajar para a República Federal da Alemanha (RFA) antes da queda do Muro. A limitação crescente da proibição de viajar quase só o permitia aos pensionistas. A partir de meados dos anos 80 a minha mãe também foi autorizada a deslocar-se ao Ocidente em ocasiões específicas como casamentos, funerais e semelhantes. Sempre que ela viajava eu ficava na República Democrática Alemã (RDA), como garantia de que ela regressaria. Estas pessoas podiam comparar a vida nos dois lados, e claro que falavam das suas viagens. Além disso, a maioria dos cidadãos da RDA tinha acesso à televisão ocidental. À volta de Dresden não era possível ver televisão ocidental, porque era muito longe a leste e o sinal não era suficientemente forte. Só a partir de meados da década de 80 é que foi oficialmente permitido, e apenas onde era possível, sintonizar a televisão da RFA. Isso permitia até certo ponto fazer uma comparação. Todos os que recebiam sinal de TV ocidental tinham a possibilidade de se informarem. Contudo, muitas pessoas na RDA tinham a imagem idealizada da RFA porque os problemas na RDA eram muito mais complicados. O desemprego na RFA era visto pelos alemães de leste como problemático. Enquanto jovem, eu nem conseguia bem imaginar o que era desemprego.
Este é um artigo exclusivo. Se é assinante clique AQUI para continuar a ler (também pode usar o código que está na capa da revista E do Expresso).
Torne-se assinante
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: CPeres@expresso.impresa.pt