João Lourenço, o novo presidente de Angola, tem estado a tirar funções e poder aos filhos de José Eduardo dos Santos, nomeadamente a Isabel dos Santos, a primogénita do antigo presidente e até agora poderosa líder da Sonangol. Foi exonerada esta quarta-feira do cargo. João Lourenço, noticiou a Lusa, completou o seu 50.º dia como Presidente da República de Angola, retirando não só a liderança da petrolífera a Isabel dos Santos, como cancelou o contrato do canal público de televisão, a TPA, com as empresas dos filhos do ex-chefe de Estado, os irmãos Welwitshea 'Tchizé' e José Paulino dos Santos 'Coreon Du'.
A Sonangol e Isabel dos Santos têm participações em algumas das maiores empresas portuguesas. A petrolífera angolana é acionista da Galp através da Amorim Energia e do BCP, onde detém 15,2% do capital. Isabel dos Santos tem participações relevantes na NOS, no BIC Portugal e na Efacec, e é também acionista da Galp, através da Amorim Energia. Que consequências terá para os investimentos em Portugal o ataque de que está a ser alvo Isabel dos Santos é ainda cedo para dizer, ninguém se atreve a fazer grandes previsões ou comentários.
Fontes financeiras ouvidas pelo Expresso admitem, contudo, que eventualmente não será no futuro tão fácil para Isabel dos Santos ter capital para investir ou reforçar posições em Portugal, já que os seus movimentos em Angola, de onde vem uma fonte importante das suas receitas, vão ficar limitados. Aliás, João Lourenço já disse que ia aumentar a concorrência nas telecomunicações e nos cimentos, sectores onde Isabel dos Santos tem empresas líderes, a Unitel e a Cimangola. Se em Angola os negócios de Isabel dos Santos estão sob pressão, os investimentos no exterior, nomeadamente em Portugal, não intocáveis, ou seja, não poderá haver nacionalizações.
É provável que no futuro algumas das suas empresas tenham mais dificuldades com as operações em Angola, não só porque vão ter mais concorrência, mas também porque Isabel dos Santos terá obstáculos que não tinha de enfrentar quando o seu pai estava no poder. A NOS é acionista da ZAP (operadora angolana de televisão e internet detida em 70% por Isabel dos Santos), e a Efacec tem operações no terreno. Isabel dos Santos comprou 65% da Efacec em parceria com a estatal Empresa Nacional de Distribuição (ENDE).
Resta saber qual será a estratégia da Sonangol para Portugal, até agora, e com Isabel dos Santos na liderança, o objetivo era manter a participação no BCP, apesar da pressão do FMI para que a petrolífera venda ativos e se centre no seu core business, de forma a fazer face aos graves problemas financeiros que enfrenta. De qualquer forma a atenção sobre o BCP é grande, já que a Sonangol é o segundo maior acionista, e se quiser sair pode criar pressão sobre a cotação do banco.
Isabel dos Santos, recorde-se, saiu da administração das empresas portuguesas quando se tornou presidente da Sonangol, para evitar conflitos de interesse. Foi substituída nos cargos que tinha em Portugal pelo português Mário Silva, braço direito de Isabel dos Santos. O Expresso tentou contactar Mário Silva sem sucesso.
Governo português fala em respeito escrupuloso por soberania
O Governo português disse entretanto à Lusa que está a acompanhar, com “respeito escrupuloso pela soberania de Angola”, as exonerações em empresas públicas angolanas.
O Fundo Soberano de Angola (FSDEA), que gere ativos do Estado de 5.000 milhões de dólares, liderado por José Filomeno dos Santos, outro dos filhos do ex-chefe de Estado, é para já o único a escapar às exonerações decididas por João Lourenço.
No sábado, aproveitando as comemorações do 42.º aniversário da independência angolana, João Lourenço alertou para os "inúmeros obstáculos no caminho" deste mandato, mas garantiu que as metas que assumiu, desde logo no combate à corrupção, são para encarar "com a devida seriedade e responsabilidade", sublinha a Lusa.
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