As expectativas eram imensas: a obra-prima de Shakespeare com a música incidental de Jean Sibelius (1926) — uma hora de música! — e cenografia de Pedro Cabrita Reis, em estreia portuguesa. Colaborações várias: Orquestra Metropolitana de Lisboa, Coro do Festival de Verão, Teatro do Bairro, Theatro Circo (Braga), Teatro Nacional de Opereta de Kyiv (em inglês), tudo sob a direção de Cesário Costa (música) e António Pires (teatro). O alerta chegou com o pífio programa de sala de 12 páginas: texto nada pedagógico sobre a obra-prima de Shakespeare, zero sobre a partitura de Sibelius, seis páginas — além do rosto — com 12 estudos de Cabrita Reis para os telões cenográficos (só vimos dois) e um elenco/distribuição com toda a malta ao barulho (atores, cantores, músicos, coralistas, produtores, assistentes, etc.). “A Tempestade” cortada ao deus-dará, idem para a música rearranjada (!) de Sibelius.
As peças de Shakespeare estão recheadas de música e canções, e “A Tempestade” põe o monstruoso mas sensível Caliban a debitar um dos mais belos discursos em pentâmetros brancos do cânone shakespeariano: nada a temer, pois “a ilha está cheia de ruídos,/ Sons e árias suaves que encantam e não ferem./ Às vezes ouço mil instrumentos plangentes/ A sussurrar aos meus ouvidos; outras vezes vozes/ Que me poriam novamente a dormir/ Se eu tivesse acordado de um longo sono”. A música de Sibelius não só acompanha o drama como o amplia. O estreito fosso de orquestra revelou-se mais inspirador do que o palco, mas a Orquestra Metropolitana não chegou para redimir o espetáculo.
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